Humberto Oliveira*

PORTO VELHO – A vida e morte de Jesus Cristo, desde o cinema mudo, tem sido tema de muitos filmes. Algumas fizeram muito sucesso e até hoje o público rever épicos religiosos, como Ben Hur, onde o rosto de Jesus nunca é mostrado ou A maior história de todos os tempos, título pomposo do longa dirigido por George Stevens e tendo Max Von Sydow interpretando Jesus. Do primeiro sou fã, mas deste outro, confesso que nunca gostei.

Os de coração fraco não podem chegar nem perto da violentíssima versão do ator e diretor Mel Gibson, Paixão de Cristo, com Jim Caviezel sofrendo horrores nas mãos de sádicos soldados romanos, que o surram e torturam sem dó e nem piedade ao longo do filme. Para muitos, Gibson exagerou e consideram a produção não um filme religioso, mas de terror, tamanho o sofrimento mostrado do começo ao final.

Não poderia deixar de citar o grandioso e eloquente Jesus de Nazaré, do diretor italiano Franco Zefirelli. O ator Robert Powell interpreta Jesus. Nunca mais fez mais nada de relevante. Afinal, depois de fazer tão importante personagem qualquer outro parece realmente insignificante. O longa é uma super produção com quase seis horas de duração exibida como minissérie na televisão. Mas passou nos cinemas em duas partes. O elenco é um dos pontos altos com a participação de nomes como Laurence Olivier, Michael York, Ann Bancroft, Olivia Hussey, Ian Holm, Ernest Borgnine, Anthony Quinn, Rod Steiger, James Mason, Peter Ustnov, Christopher Plummer, Cláudia Cardinale e tantos outros.

Até Martin Scorsese fez o seu filme sobre Jesus. O polêmico e enfadonho A última paixão de Cristo, com o ótimo Willem Dafoe no papel principal. O longa causou a indignação de religiosos do mundo todo com sua visão de um Jesus Cristo que cai em tentação e opta por não se sacrificar pela humanidade para viver uma vida normal constituindo família, ter filhos e tudo mais. Sem ao menos assistir ao filme, muitos julgaram e condenaram pela suprema heresia de mostrar o filho de Deus, não como um ser divino, mas um homem em conflito consigo e dividido entre seguir sua predestinação ou largar tudo e viver.

Baseado no romance de Nikos Kazantzakis, o filme traz Jesus Cristo como um homem comum, encarnado num Messias contraditório, frágil e perturbado, que se autoproclama filho de Deus. Suas pregações na Judeia, então colônia romana, chocam e incomodam o governo, que decide se livrar dele. Na cruz, ele imagina como seria sua vida se, ao invés de assumir o peso da salvação dos homens, tivesse levado uma vida comum com esposa e filhos. Quem quase acabou crucificado foi o diretor Martin Scorsese.

Talvez por uma questão sentimental o filme sobre a vida de Jesus, que eu mais gosto, é O Rei dos Reis, dirigido por Nicholas Ray e protagonizado pelo galã Jeffrey Hunter, realmente maravilhoso no papel. O ator passa toda a aura de santidade do personagem, cuja missão é se deixar imolar para salvar a humanidade, inclusive aqueles que o levaram à cruz. Este longa é de longe o mais emocional de todas as produções tendo como foco a vida de Jesus. Hunter tem um dos seus momentos inesquecíveis quando faz o sermão da montanha. Até hoje quando revejo a cena ainda me emociona. Para mim, O Rei dos Reis sempre será o melhor filme sobre Jesus da história do cinema.

Existem muitos outros longas metragens com o mesmo tema. Poderia citar O Evangelho segundo São Mateus, de Pier Paolo Pasolini. Neste filme Jesus é mostrado como um revolucionário, e não somente como um pregador.

Até musicais foram produzidos como Jesus Cristo Superstar e por aí vai. A lista é grande. O cinema produziu Jesus para todos os gostos e cada um pode escolher o seu favorito.

*É jornalista de formação acadêmica, cinéfilo por opção e poeta diletante

Deixe uma resposta