RO, Sábado, 27 de abril de 2024, às 2:38



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SEMANA SANTA — Crônica de Luiz Albuquerque

SEMANA SANTA — Crônica de Luiz Albuquerque

• Atenção crianças e adolescentes: O que vou relatar pode lhes parecer impossível, mas é verdade.

Aí pelos anos 1950/1960, a cada Domingo de Ramos ia todo mundo para a igreja e, de lá, trazia um pedaço de palha que simbolizava os ramos com os quais o povo recebeu Jesus quando da Sua entrada em Jerusalém. Essas palhas eram afixadas em algum canto da casa, geralmente atrás da porta de entrada, pois, segundo a crença, protegeria o lar. Onde eu morava ainda não havia TV, apenas três emissoras de rádio que concorriam com os diversos serviços de autofalante* existentes nos bairros da cidade. Era a briga pela audiência. Quando chegava a Semana Santa, de domingo até quinta-feira as emissoras tocavam só músicas sacras. Na sexta-feira não funcionavam, ficavam mudas. Sem exceção! Desde domingo até a Sexta Feira Santa as crianças não tinham aula e nem podiam apanhar (o que era normal naqueles idos: aprontou? surra!). Na quinta, e principalmente na sexta-feira se impunham o recolhimento em casa e o silêncio. Mesmo as brincadeiras eram contidas. No período, e até sexta-feira os pais não castigavam os filhos. Era a semana quando a molecada aproveitava pra fazer aprontação. Mas, em compensação, quando raiava o sábado de Aleluia voltavam os sons e as brincadeiras. E os “Judas**” amanheciam pendurados nos postes. Era chamado de “Romper a Aleluia”, ou o Sábado de Aleluia. Mas também o pau cantava, ou seja, todos os castigos acumulados na semana eram aplicados no sábado. E haja “peia”! Naquele tempo não era pecado nem crime os pais darem um corretivo no filho, desde umas palmadas na bunda até os doloridos “bolos”, que é como se chamava o ato de bater na mão de alguém usando uma peça feita de madeira grossa, as famosas palmatórias, que em cada casa tinha um nome diferente. E as mãos da molecada sofriam.

As mudanças na Semana Santa foram acontecendo sem a gente perceber. Ninguém, hoje, concebe as rádios e TV’s saindo do ar e nem lojas e shopping’s fechando uma semana. No máximo, fecham na sexta, mas por imposição do feriado.

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*Os serviços de autofalante ainda sobrevivem em algumas localidades, principalmente em cidades de pequeno porte. Seu funcionamento é simples e pode ser operado até mesmo por uma só pessoa que faz os serviços de operador de som, locutor e organizador dos discos. O serviço atendia a comunidade do bairro com músicas, mensagens, avisos e informando com frequência a hora certa. Não raro, o serviço era transferido para ser transmitido em locais onde aconteciam eventos, principalmente para animar as quermesses nas igrejas ou para transmitir futebol nas peladas do bairro.

**O Sábado de Aleluia é dia da malhação de Judas, antiga tradição popular trazida pelos espanhóis e portugueses para toda a América Latina. A malhação de Judas é ligada aos ritos da Páscoa cristã e amplamente difundida em diversos países, principalmente na América Latina e na Europa. Tradicionalmente, a comunidade se une para confeccionar, pendurar em postes e queimar bonecos em alusão a figura bíblica de Judas Iscariotes.






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