RO, Segunda-feira, 13 de maio de 2024, às 15:35



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Livro de Nilo Diniz mostra que a luta de seringueiros demorou a ser reconhecida pela imprensa

PORTO VELHO – Ao lançar o livro “Chico Mendes – um grito no ouvido do mundo”, o sociólogo e historiador Nilo Diniz traz de volta ao leitor a estratégia dos empates contra fazendeiros que invadiam seringais no Acre entre os anos 1970 e 1980, e revela com detalhes a repercussão mundial do assassinato do líder sindical acreano. O livro (também disponível em e-book) será lançado a partir das 18h do dia 19, quarta-feira, no Mercado Cultural em Porto Velho.

O livro deixa claro que durante anos os trabalhadores na Amazônia foram verdadeiramente “povos invisíveis.” E detalha algo tão importante quanto a repercussão: “No período ditatorial, de 1964 a 1985, e mesmo anos depois, o movimento em defesa da floresta e das comunidades extrativistas tornou o líder ambientalista reconhecido e premiado fora do Brasil, apesar de ser um ilustre desconhecido no seu próprio País.”

Edilson Martins, um dos  mais notáveis jornalistas acreanos, era repórter especial do Jornal do Brasil no Rio de Janeiro, e insistia com seus editores em mostrar aquela realidade dos seringueiros e o papel de Chico Mendes, mas seus textos iam para a gaveta. Até que…

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Uma semana antes escreveu uma página de entrevista (a última de Chico) relatando que ele estava ameaçado de morte. Finalmente, a matéria saiu. No entanto, só após o assassinato do líder seringueiro.

Três dias antes do Natal de 1988 Chico havia inteirado 44 anos de idade. Morto no quintal de sua casa em 22 de dezembro daquele ano, ele já era conhecido pela defesa da Amazônia contra o desmatamento e as queimadas. Nascido e educado pela intuição e vivência, tornou-se um sábio das ciências da tradição.

Aos nove anos, cortava seringa e andava sozinho na mata em Xapuri. A partir de 1975, com 31 anos de idade, conduziu o movimento de seringueiros, ribeirinhos posseiros e índios do Acre nas discussões avançadas do ambientalismo.

Os tiros não calaram o movimento.

A resistência daqueles homens sofridos da Floresta Amazônica Ocidental Brasileira resultou na força dos sindicatos. O livro de Nilo Diniz demonstra que aquele crime contra Chico Mendes significou, para a frustração de seus algozes, um verdadeiro “grito no ouvido do mundo.”

Homens, mulheres e crianças ocupavam e defendiam, com suas próprias vidas, áreas a serem derrubadas, num enfrentamento organizado por sindicatos de Trabalhadores Rurais, a exemplo daquele presidido por Chico, em Xapuri, e o de Brasileia, por Wilson Pinheiro assassinado 21 de julho de 1980.

Três anos antes da morte de Chico, em outubro de 1985, ele e seus companheiros fundaram o Conselho Nacional dos Seringueiros, durante o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, em Brasília.

Nilo Diniz lembra que o Conselho Nacional de Populações Extrativistas continuou lutando, três décadas depois, pelos direitos de seringueiros, castanheiros, coletores de açaí, quebradeiras de coco babaçu, balateiros, piaçabeiros, integrantes de projetos agroflorestais, extratores de óleo e plantas medicinais, entre outros.

Nilo Diniz

“Chico Mendes chegou a participar de debates da Assembleia Nacional Constituinte referentes ao meio ambiente. Como seu nome não tinha peso, acabou sendo só mais um no meio dos militantes das diversas causas sociais que buscavam ser ouvidos”, lembra matéria da Agência Senado, em 2018.

“O meu convite ao público rondoniense para ler este livro  representa para mim, mais uma contribuição à reflexão e à ação que esse momento politicamente adverso exige na luta dos povos da floresta, incluindo os povos indígenas, em defesa de seus territórios, da Amazônia, da democracia e do direito a uma vida digna.”

 VIDA NA FLORESTA

  • Chico Mendes foi e continua sendo (em espírito) um construtor da paz, um porta-voz da Amazônia que busca o diálogo político, econômico, científico, social e cultural para salvar a vida natural do planeta.
  • Sebastião Mendes Teixeira, o Tião, primo de Chico Mendes, conta sobre a lida das crianças no seringal. Numa época em que não existiam escolas e a educação era exercida pela própria família, a qual instruía seus filhos desde pequenos ao trabalho, aos valores familiares, à sobrevivência na floresta com suas técnicas e ciência própria, apoiando e incentivando a se tornarem responsáveis em seus serviços e pela família a ser formada.
  • Desde pequenas, as meninas já ajudavam a mãe na cozinha e a cuidar dos irmãos mais novos. Os meninos iam para o roçado com o pai e auxiliavam nos trabalhos gerais da casa.
  • Chegando na adolescência a responsabilidade aumenta: “Desde os 12 anos já cortam seringa, com a idade de 15 para 16 já pode assumir suas três estradas de seringa, que é o que o seringueiro corta (…) O trabalho começava na segunda e ia até sábado cortando. Era sair às 5 da manhã e passar o dia cortando”, lembra Tião.
  • Chico, com 16 anos de idade, já era responsável por suas estradas de seringa, destacando-se como grande seringueiro. Sua responsabilidade aumentou após o falecimento de seu irmão Raimundo num acidente com espingarda e em sequência, de sua mãe durante o parto. O acidente foi testemunhado por Zuza (José Alves Mendes), irmão de Chico, que acompanhava Raimundo em sua primeira madrugada de “corte”. [Do Caderno Povos da Floresta 2].

MONTEZUMA CRUZ
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