RO, Terça-feira, 23 de abril de 2024, às 4:10



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Lenha na Fogueira – De Xapuri para o mundo: o artesão falante, capoeirista e nômade, mas ligado no mundo digital

Zé Katraca

PORTO VELHO – Se você gosta de artesanato ou quer conhecer a história da capoeira não pode deixar de visitar a exposição “A Arte que Encanta”, do Mestre Ramos, na Casa da Cultura Ivan Marrocos até o próximo dia 11. Ramos saiu de Xapuri (AC) e após passar por Icoaraci, em Belém (PA), e morar por alguns anos em Vilhena, descobriu que seu lugar era a cidade de Pimenta Bueno. Lá é a terra onde existe a melhor ARGILA para a confecção de peças de artesanato. Mestre Ramos roda os quatro cantos do Brasil e as vezes vai ao exterior mostrar a sua arte. Arte que não fica só no artesanato, mas, reserva um grande espaço ao Mestre Capoeirista.

Ele e sua exposição estão na Casa da Cultura Ivan Marrocos, em Porto Velho, mostrando seu trabalho e, de vez em quando, presenteia os colecionadores da capital, tocando Berimbau ou Jogando Capoeira. É uma verdadeira aula de Artesanato e Capoeira. Conheça a história do nosso MESTRE RAMOS.

ENTREVISTA

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Zk – Vamos a sua identificação?

Ramos – Meu nome é Raimundo Ramos Soares, mais conhecido como Mestre Ramos. Eu queria entrar no mérito da exposição: coloquei um tema aberto com o nome “A Arte que Encanta”. Eu poderia ter colocado só “Cerâmica”, mas, como trabalho com vários segmentos, coloquei esse nome, porque tem pessoas aqui que está expondo: plantas, sementes, enfim, uma série de artesanato. E tem mais um porém, sou Mestre de Capoeira e Percussionista.

Zk – Faltou dizer de onde você é, ou seja, onde nasceu?

Ramos – O Brasil todo me questiona sobre minha origem, quando estou na Bahia, em Recife, em algum lugar, as pessoas perguntam: la em Rondônia tem berimbau, pensei que fosse só na Bahia. Bom, sabe onde eu nasci? O seringal que nasci é Xapuri ao lado de onde foi assassinado o Chico Mendes, só aos 12 anos foi que fui morar em Rio Branco.

Zk – Quando foi que você começou a se interessar pela arte do artesanato?

Ramos – Isso tudo começou em 1978, esse negócio, graças ao meu bom Deus a gente já nasce com ele e apenas vamos sendo lapidado. Minha mãe teve essa preocupação em ter sete filhos e não deixar que nenhum de nós seguíssemos outros caminhos, ou botava a gente no esporte ou na cultura e eu escolhi o artesanato. Sabe aquela paixão a 1ª vista? Foi a Cerâmica e aí a Capoeira, então tudo isso veio junto e então fiz um apanhado e as pessoas ficam me questionando como explicar o envolvimento com tantas vertentes do artesanato e da música e em vez de estar assistindo televisão eu faço um CAXIXI, um vaso, um instrumento, um brinco, um colar, um berimbau, aprendi a tocar. Esse é meu envolvimento direto com o artesanato.

Zk – Quando você veio para Porto Velho?

Ramos – Cheguei aqui em 1982 e não fui fazer nada que se relacionasse com artesanato. Fui Mergulhar no garimpo de ouro; fui mergulhador durante dois anos e quase morro porque cortaram minha mangueira e eu estava no fundo do rio. Não me pergunte sobre riqueza, porque a riqueza ficou no Rio Madeira.

Zk – Como foi que a cidade de Pimenta Bueno entrou na tua vida?

Ramos – Vou te explicar. Morei em Porto Velho por alguns anos. Desenvolvi um trabalho com a Rita Queiroz na cerâmica e aí fui daqui pra Vilhena onde morei dois anos. Lá fiz a pesquisa e descobri que lá não tem argila. A argila mais perto de Vilhena é em Colorado e é em terra particular. Alguém me disse que o Polo Cerâmico do estado ficava em Pimenta Bueno. Eu estava no Salão Nacional de Cerâmica, em Curitiba, e tinha umas pessoas de Pimenta e elas disseram: vai pra Pimenta que lá é o teu lugar. Quando cheguei de Curitiba falei: arruma tudo que nós vamos embora e me mudei de ‘mala e cuia’ pra Pimenta Bueno.

Zk – Como foi que a Capoeira entrou na sua vida?

Ramos – Teve uma primeira dama do estado do Acre que era apaixonada por cerâmica e ela me custeou, pra eu ir a Belém (PA), com minha família, justamente para Icoaraci. A proposta era pra ficar uns seis meses, em resumo fiquei dois anos. De Icoaraci fui pra Bahia ver a Cerâmica de Feira de Santana e lá surgiu a capoeira na minha vida.

Zk – Sua mulher é de onde?

Ramos – Meu amor realmente é de Candeias do Jamari e já estamos na estrada há 20 anos comendo caldo de tambaqui com farinha. O nome dela é Railene. Ela também faz um trabalho fantástico de artesanato. Eu digo mais: sabe o que é importante, graças a Deus que Deus me abençoou de ter esse dom de vendedor. Não é todo artesão que é bom vendedor e eu por esse contato de rua, de mundo, acaba que facilita.

Zk – Você é detentor do título de Mestre da Cultura?

Ramos – O título de Mestre que tenho no papel, é o de Mestre da Capoeira. Agora vou pleitear no próximo Edital o título de Mestre Artesão;

Zk – Me tira uma curiosidade. Existe muita feira de artesanato no Brasil?

Ramos – Tem sim! Quando você entra numa Feira de Artesão igual a que vai acontecer em Recife em dezembro, automaticamente você é convidado a participar das demais Feiras. Por eu ser bastante articulado, as notícias chegam com mais facilidade. De repente ninguém sabia que eu estava negociando com o Zoghbi há algum tempo essa exposição aqui na Casa da Cultura em Porto Velho.

ZK – Essa exposição fica na Casa da Cultura até quando?

Ramos – Até o dia 11 deste mês de setembro. Aqui não estou sozinho. de Pimenta Bueno, trouxe o artesão Ralf, mas, também convidei os amigos aqui da capital.

Zk – Hoje você vive do artesanato?

Ramos – Não é bico não! Hoje vivo exclusivamente do artesanato, essas contas básicas água, internet, essas coisas, é tudo pago com o que ganho com o artesanato. Por falar nisso tenho obras em vários países como Itália.

Zk – Quais as atrações turísticas de Pimenta Bueno?

Ramos – Uma delas é o “Lago do Apertado” que é um verdadeiro Paraíso. Aí entramos na situação que é a seguinte: a galinha e o pato. A Galinha faz o CÓCÓCÓ tão alto que divulga seu produto mais fácil e o PATO fica calado, apesar do seu OVO ser mais nutritivo, pouca gente toma conhecimento disso. Aproveito esse espaço, para convidar a população do estado e do Brasil a visitar Pimenta Bueno e seu ‘Lago do Apertado’ além do seu artesanato.

Zk – Então?

Ramos – Essa exposição veio pra gente acordar, provocar as autoridades. Saindo daqui não volto pra Pimenta. Vou pra Candeia do Jamari com a exposição, precisamente no Barracão da Capoeira.

Zk – Para encerar. A pandemia da covid-19 prejudicou o artesanato?

Ramos – Agora você tocou num ponto que os caras vão dizer: o Ramos ficou rico! Mas, não é isso não. A gente teve que se reinventar. Prejudicou muita gente? Prejudicou! Mas quando me prejudicou de um lado pro outro, me abriu horizontes. O que acontece, eu criei isso aqui na minha casa, o meu quintal é como se fosse aqui na Casa da Cultura, só que no meu quintal a exposição é permanente. O cliente quando chega, às vezes tô tomando uma cerveja, se eu não estiver tomando essa cerveja, tem um fogão de lenha lá que é todo tempo CHÁ. Eu trouxe esse hábito lá do Sul, Curitiba e São Paulo. Tem a abertura de fornada que é um evento. A gente tem um mecanismo que chama de plataforma: Instagram, Face Book, WhatsApp e as vendas acontecem: Mestre Ramos estou precisando de 50 vasos de orquídeas, tem? E assim vamos comercializando as peças daquela fornada.

Zk – Endereço para contato?

Ramos – Moro na avenida Belém 609, bairro Nova Pimenta. Meu Instagram é @ramosoleiro.






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