NOVA MAMORÉ (RO) – A angústia vivida no sítio em Nova Mamoré, ainda sem projetar o futuro, e a opção pelas artes mesmo diante de problemas familiares ficaram no passado da artista Edina Costa. Do anonimato, essa autodidata caminhou em pouco tempo para grandes salas estaduais e internacionais. Ela nem pintava, quando sonhou com quadros se mexendo na parede: “Aí, imaginei o sentido e segui, mas não acreditava tanto e só depois me firmei”, conta.

Nascida em Guajará-Mirim, na fronteira brasileira com a Bolívia, Edina viveu muitos anos no sítio do pai em Nova Mamoré, a 48 quilômetros da primeira e a 281 km de Porto Velho.

Começou no artesanato em 2007, pintando guardanapos que lhe traziam em casa, depois pintou pratos e telhas de barro.

Dom Benedito Araújo, Bispo Diocesano de Guajará-Mirim, na fronteira brasileira com a Bolívia, entrega ao Papa Francisco a pintura simbolizando a paz. A Igreja é a Matriz Nossa Senhora dos Seringueiros.

“Quando criança, eu assistia o programa da Ana Maria Braga (TV Globo) e minha mãe pintava papelões, aí comecei a me despertar para a beleza do trabalho artesanal feito com as mãos”, diz.

Uma artista sem recursos estava nascendo. “Mesmo querendo seguir, não tinha dinheiro nem para comprar um vidrinho de tinta que custava R$ 1,50”. Eis que, passados anos no sítio da família em Nova Mamoré, Edina viajou para Paris, Capital francesa, a convite de uma empresa. Em outubro passado, ela mostrou oito trabalhos no Museu Louvre Olhares da Amazônia, tema que geralmente desperta franceses e demais europeus.

No sítio, Edina pintou seu primeiro quadro, mostrando a casinha onde morou antes de optar pelas artes

“Eu chorei ao chegar lá. Lembrei-me do meu pai (Adão Sales), e da vida dura sem recursos na casa de chão batido lá no sítio. Ele faleceu em 2004 e não chegou a ver o começo de minha trajetória profissional”, conta.

“Uma noite sonhei com quadros, e as figuras se movimentavam. Pouco depois senti a consciência dizendo: seja artista. Onde? Eu, uma audodidata, não acreditava…”

Foi assim que, arrancando a madeira do fundo de um armário de cozinha, nela pintou a casinha simples o de morava no sítio. Apareceram compradores e assim ela produziu mais, vendendo barato, a partir de R$ 30. O desafio seriam pintar telas. segundo relata, a primeira foi adquirida em Porto Velho, e a tinta a óleo veio de Rio Branco (AC).

Atualmente suas obras ganham o valor de mercado, especialmente depois que o público apreciador de quadros com cenários da natureza ficou sabendo que ela já expôs no mais famoso museu francês e um dos mais conhecidos no mundo.

O ipê amarelo combina com o verde amazônico. A mensagem de Edina: cuidar de tudo.

O sítio ficava para trás na biografia de Edina quando conseguiu passar no concurso público municipal para a saúde, onde ingressou e complementou renda trabalhando com artesanato e pintura a óleo.

“Eu optei depois pelo pelo melhor e necessário: meus filhos e minhas alegrias, o Rafael, que inteira 20 anos em dezembro e trabalha com informática, e a Clarice, 9, estudante do 3º ano do Ensino Fundamental e Médio”, diz feliz.

Indígena com araras-azuis, riqueza do Pantanal mato-grossense, sul-mato-grossense e da Amazônia 

A cunhada Orlandeia estimulou-a bastante, ajudando-a na compra de tinta e o aumento no volume de pedidos possibilitou-lhe melhorar a renda mensal.

As vendas foram melhorando. Ainda receosa com sua condição, em 2021 ela foi expor na Capital, animada com o que as pessoas observavam: “Disseram que eu eu uso cores vibrantes.”

E assim os convites se sucederam: do Porto Velho Shopping, Conselho Regional de Medicina (Cremero), Ariquemes, a outros mais.”

“No Cremero eu me surpreendi e me emocionei; nem havia me preparado para atender às exigências da Capital e ouvi o anúncio de que havia sido a vencedora da mostra, no meio de tantos talentos”, comenta.

As Três Caixas-d’Água construída por ingleses no Centro Histórico de Porto Velho; na versão de Edina, em noite muito estrelada

Ao pintar o Papa Francisco por encomenda do bispo de Guajará-Mirim a artista soube que o quadro seria entregue pessoalmente por ele a Sua Santidade. Dom Benedito dissse-lhe que conhece o trabalho dela por redes sociais. E o quadro foi mostrado no site do Vaticano.

A artista nova-mamoreense chegou à conclusão que vive definitivamente para a arte, pois nela se descobriu. “Se meu pai estivesse aqui, ficaria muito feliz com o êxito daquela filha que vivia triste naquele sítio, e ele também, porque sabíamos que nesse campo (artístico) o reconhecimento só acontece mesmo quando a gente se muda para a cidade”, assinala.

Edina gosta da flora e da fauna, do movimento amazônico e dos nossos ancestrais. Conforme diz, “não é só pintar por pintar; gosto de passar a mensagem do dever de todos que é cuidar desse bem tão precioso para nós e para a Humanidade.”

MONTEZUMA CRUZ
Fotos Álbum Pessoal de Edina Costa

 

Edina Costa, entre o público europeu: um espaço hoje garantido para as artes rondonienses e amazônicas

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