Larina Rosa*

PORTO VELHO – Ainda é dia 8 de março e já perdi as contas das vezes que li e ouvi a palavra “guerreira” nas mensagens de carinho do dia internacional das mulheres. As frases clichês são muitas e até gosto de algumas, mas não vejo como um bom dia para ser comemorado morando em Rondônia, segundo estado com o maior índice de feminicídios do país.

Não me levem a mal! Até entendo a boa intenção da felicitação às mulheres batalhadoras que lutam para alcançar seus sonhos e avançam em suas conquistas. De fato, avançamos muito, conquistamos o direito ao voto, trabalhamos fora de casa, temos acesso a anticoncepcional ao divórcio, temos uma lei com penas para rigorosa contra agressores.

Imagem meramente ilustrativa – Foto internet/Google

 

Mesmo assim ainda precisamos conviver diariamente contra o medo do assédio e do estupro, reinvindicar melhores salários trabalhando nas mesmas funções que homens. Lidar com o machismo estrutural que acontece em casa, trabalho e em muitos relacionamentos.

Essa luta nunca foi uma escolha e entendo que essas guerreiras alcançaram esse posto contra a sua vontade. A verdade é que a maioria ainda está sobrecarregada com o trabalho e cuidados com os filhos. É importante entender que o elogio de guerreira não vale nada para quem está exausta e segue aguentando uma carga pesada demais.

Ser mulher hoje no Brasil é difícil e nos outros dias também. No último ano houve um aumento no número de casos de violência contra a mulher. De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mais de 50.692 mulheres sofreram violência todos os dias. Rondônia teve um aumento de 75% nos casos de feminicídios em 2022, em comparação com 2021.

Imagem meramente ilustrativa – Foto internet/Google

Não adianta os órgãos públicos romantizarem o dia delas com flores e palavras de carinho se ainda não temo Delegacias da Mulher 24h no estado. Não faz sentido receber elogios e não ver a implantação de novas casas de abrigo para acolher mulheres vítimas de violência doméstica. E as medidas protetivas estão sendo cumpridas? Cadê as cartilhas nas escolas e campanhas na imprensa sobre violência contra a mulher? E as creches municipais para elas deixarem as crianças e trabalharem?

As flores e as mensagens de carinho no dia 8 de março serão sempre bem- vindas, porém mesmo que sejam bem intencionadas ainda não mudaram a realidade delas. Urge a implantação de ações dos órgãos públicos e consciência população sobre esse problema de saúde pública que cria feridas emocionais profundas e continua provocando a morte de quem não veio ao mundo apenas para cuidar e nem guerrear.

*É jornalista rondoniense que acredita na luta contra a violência de gênero e igualdade de direito das mulheres

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