RO, Segunda-feira, 06 de maio de 2024, às 5:35



RO, Segunda-feira, 06 de maio de 2024, às 5:35


Renúncia ou eleição antecipada: Peru atravessa longa crise institucional

Uma campanha hiperpolarizada, uma vitória pelo mínimo e uma ofensiva legal que alegava fraude eleitoral anunciavam uma tênue estabilidade para Pedro Castillo, que há um ano foi proclamado presidente eleito do Peru e, desde então, já conta com quatro gabinetes ministeriais, duas tentativas no impeachment parlamentar e duas investigações contra ele.

Em 19 de julho de 2021, o tribunal eleitoral peruano proclamou a professora da escola rural a vencedora do segundo turno presidencial, que venceu de surpresa, e por apenas 44 mil votos, sua rival nas urnas, a direitista Keiko Fujimori, filha e herdeira política do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000).

Ele o fez em uma solene cerimônia virtual, realizada cinco semanas após o escrutínio oficial, o período mais longo dos últimos 40 anos, dilatado por uma enxurrada de impugnações e manobras legais do fujimorismo, que denunciou sem provas confiáveis ​​uma suposta fraude para evitar seu terceiro derrota consecutiva nas eleições presidenciais.

- Advertisement -



A estratégia, que emulava a trajetória do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fracassou na prática, mas conseguiu que sua tese penetrasse em um setor da opinião pública que saiu às ruas para exigir novas eleições.

A chegada à presidência de Castillo, um homem de origem camponesa e alheio à política tradicional de Lima, desafiou o “status quo” político e questionou o poder estabelecido ao reivindicar os setores historicamente relegados da sociedade peruana.

Muitos alertaram que o líder sindical transformaria o país em “outra Venezuela”, levaria ao colapso econômico e à cleptocracia do partido Peru Libre, autodefinido como marxista-leninista, que o levou ao poder e do qual renunciou em junho passado, após sendo acusado de implantar um “programa neoliberal perdedor” e promover a fratura interna de sua representação parlamentar.

DESGASTE LEGISLATIVO

As crises atormentaram Castillo antes mesmo de ele assumir a presidência em 28 de julho do ano passado. Desde então, os temores de uma tomada comunista e autoritária desapareceram. Mas, por outro lado, as suspeitas sobre sua incapacidade de canalizar o país no caminho da governabilidade se materializaram.

Erros e escândalos foram constantes em seu primeiro ano de mandato, sobrecarregados pela instabilidade de um governo que já conta com quatro gabinetes ministeriais diferentes e um desgaste parlamentar que também não lhe dá trégua.

A legislatura liderada pela conservadora María del Carmen Alva, e que terminou em 15 de julho com uma reprovação de 79% -mais ainda do que a rejeição causada por Castillo (74%)-, acrescentou duas tentativas fracassadas de impeachment presidencial, 25 altos funcionários interrogados e quatro ministros censurados em menos de um ano.

O último revés desta legislatura ordinária foi selado na sexta-feira passada, quando o plenário do Parlamento aprovou um relatório que recomenda constitucionalmente cobrar o presidente por um suposto caso de corrupção que já está nas mãos do Ministério Público.

Agora resta saber que novos passos o Congresso dará com a diretoria renovada, embora as perspectivas sejam sombrias para o chefe de Estado, que está cada vez mais sozinho e enfraquecido.

CERCO JUDICIAL

A tudo isso se soma o cerco judicial ao presidente, que se intensificou mais do que nunca nas últimas semanas. Na passada quarta-feira, o Ministério Público Nacional anunciou que decidiu abrir um inquérito preliminar contra ele por alegadas irregularidades nas promoções das Forças Armadas e da Polícia Nacional.

Esta é a segunda acusação fiscal contra Castillo, a primeira por supostamente liderar uma organização criminosa entrincheirada no Executivo para obter benefícios ilícitos dos contratos firmados pelo Ministério dos Transportes e Comunicações.

Envolvidos nessa suposta trama de corrupção estão, entre outros, o ex-ministro Juan Silva, o ex-secretário presidencial Bruno Pacheco e um sobrinho do presidente, atualmente foragidos da Justiça.

Como se isso não bastasse, o ambiente do chefe de Estado foi recentemente pontuado por outro escândalo envolvendo sua cunhada Yenifer Paredes, irmã da primeira-dama Lilia Paredes, que foi criada como filha pelo casal presidencial.

Contra essa jovem, de 27 anos e atualmente desaparecida, o Ministério Público abriu inquérito por suposto tráfico de influência, após uma reportagem jornalística divulgar um vídeo em que ela teria aparecido oferecendo um trabalho de saneamento aos moradores de uma comunidade do distrito de Chota, de onde o presidente é.

Castillo aproxima-se assim, em plena queda livre, de cumprir um ano no Palácio do Governo, enquanto se intensificam cada vez mais as reivindicações (e razões) da oposição para que ele renuncie ou, pelo menos, considere propor uma eleição antecipada, que cidadania exige que ela compreenda toda a classe política.

Pela seleção de assuntos internacionais: Montezuma Cruz
Com La Prensa






Outros destaques


+ NOTÍCIAS