PORTO VELHO – A cidade que reclama do esgoto, do lixo e da água tratada é a mesma que comete absurdos diários. Porto Velho (539,3 mil habitantes) desperdiça o mais primordial bem da natureza e sem o qual ninguém vive. Essencial no período do verão,  água de poços perfurados nos quintais derrama dos depósitos em pleno período da manhã, longe dos olhos da fiscalização e com a displicência daqueles que irão consumi-la.

Por uma hora seguida, na manhã de hoje, este repórter observou o vazamento na rua onde mora, no Aponiã, gritou alto para alertar vizinhos, em vão. O problema prosseguiu inalterado, e assim acontece diariamente.

–  Faltou água, Zezé!
–  Maninha, liga aí pra Caerd…

E tudo se repete. Dentro de algumas semanas inicia-se a rotina de verão dos caminhões-pipa da Companhia de Água e Esgotos de Rondônia (Caerd), sempre solicitados pelas famílias desesperadas, inclusive as que deixam seus depósitos derramarem.

São os mesmos vacilantes de hoje, os queixosos de amanhã, quando deverá acontecer um dos piores verões da década. As próprias águas do Rio Madeira vem diminuindo o seu nível no atual período, situando-se pouco abaixo de seis metros, conforme o boletim de monitoramento hidrológico da Bacia, elaborado pelo Serviço Geológico do Brasil em Porto Velho.

Absurdos vêm de longe: nos anos 1970 e 1980 semelhantes problemas aconteceram, sem a devida conscientização dos moradores. Exceção feita pela prefeitura ao notar que operadores de caminhões-pipa da Secretaria Municipal de Obras (Semob) estavam usando água da Caerd até quatro vezes ao dia, para molhar ruas de bairros periféricos. Foi em 2014, quando a Semob entendia que a base de asfaltamento “só poderia ser feita com água tratada.”

Na semana passada, antes do agravamento da situação deste ano, a Caerd alertou para os níveis das águas dos rios e lençóis freáticos, anunciando que trabalha uma vez mais pela conscientização. Com vídeos institucionais nas redes sociais, a empresa dá dicas para a população economizar água nesta temporada, principalmente nos meses mais críticos: agosto e setembro.

O próprio lixo domiciliar de quem desperdiça água é deixado sobre telhados no Aponiã

No entanto, as pessoas parecem desprezar informações recebidas por sites e pelo Waths App. E as caixas-d’água seguem derramando.

Em alguns casos, as pessoas ligam o motor-bomba e voltam para a cama. Isso é desastroso, pois faz oito anos que o desperdício d’água em Porto Velho ultrapassa 70%.

“Nesse período que há a escassez de chuva e a diminuição natural das reservas hídricas na região Amazônica, a população precisa adotar medidas preventivas que garantam o suprimento adequado nesta época do ano”, disse a engenheira ambiental, Mônica Chagas Cerqueira, da Divisão de Gestão Ambiental e Recursos Hídricos à assessora da Caerd, Rejane Júlia.

MONTEZUMA CRUZ
Foto e vídeo. Com Pedro França, da Agência Senado: torneira pingando

Símbolo negativo da falta de responsabilidade e de conscientização das pessoas em Porto Velho

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