PORTO VELHO – É inescapável olhar para o prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves – um ex-promotor de Justiça que ficou milionário empreendendo no ramo da educação superior – e não fazer um comparativo com o desleixo com que ele trata a educação de crianças ribeirinhas e da zona rural do município. Alunos ribeirinhos, uma atribuição da Prefeitura de Porto Velho e que acabou sendo assumida pelo Governo do Estado, a partir da intervenção do Ministério Público – que deve conhecer muito bem o prefeito Hildon Chaves – para evitar maiores prejuízos aos estudantes, estão há pelo menos há cinco anos sem completar um ano letivo. Dois anos foram perdidos na pandemia.

Os outros três…

É uma eficiência às avessas, já que a prefeitura da capital se esmera em publicidades dos feitas da gestão municipal, ao ponto de anunciar bolsas para uma ainda inexistente (do ponto de vista das instalações físicas) universidade municipal.

Na outra ponta, a da realidade, quase 50 famílias procuraram a comissão especial de defesa dos direitos das pessoas com deficiência para denunciar que não estão conseguindo matricular seus filhos com alguma deficiência nas escolas da rede pública. A OAB já se reuniu esta semana com representantes da Educação Municipal e Estadual e o Ministy´rio Público – de novo – está monitorando o problema.

A continuar neste ritmo, em breve nem a universidade municipal ou qualquer outra vai poder contar com acadêmicos oriundo das áreas ribeirinhas e zona rural de Porto Velho , já que a prefeitura vem negligenciando por anos a fio a formação desse contingente.

São problemas da maior relevância para o desenvolvimento da juventude, mas parece que a administração municipal os trata como problemas menores.

Frota de ônibus vai atender cerca de 5 mil alunos da zona rural

Quando se olhar para o primeiro mandato do prefeito – 2017 a 2020 – o que se tem como retrospectiva são problemas na secretaria municipal de Educação. Pelo menos dois secretários foram presos, barcos não chegavam para transportar alunos ribeirinhos nem os ônibus chegavam em outros locais da extensa área territorial do município.

O saldo disso foi que no final da primeira gestão Hildon Chaves, alunos da zona rural e da região ribeirinho do Baixo Madeira já havia perdido dois anos de aula.

Porto Velho, deixa eu cuidar de você!

Aí, parece que o prefeito acordou, mesmo que tangido pela Promotoria da Educação, fez um acordo para solucionar o problema, passou a responsabilidade pelo transporte dos alunos ribeirinhos ao Governo do Estado e a Prefeitura, ao invés de se debruçar sobre uma solução duradoura para o problema, preferiu uma solução, fácil, rápida e midiática: gastou quase 40 milhões de reais e comprou uma frota de ônibus escolares – tipo aqueles dos filmes americanos de sessão da tarde.

À época, este humilde www.expressaorondônia.com.br advertiu que quem não consegue administrar contrato de prestação de serviço, dificilmente conseguiria executar o serviço. Pouco mais de seis meses depois da milionária compra dos ônibus, já começam a pipocar denúncias de que os ônibus estão quebrando e deixando as crianças – principalmente na região de Extrema, na distante Ponta do Abunã – sem ir a aula.

E sabe o que é mais graves nisso tudo?

Primeiro é que, apesar da sua falta de compromisso, desleixo mesmo, com a Educação dos pequenos alunos da zona rural e dos ribeirinhos, Hildon Chaves foi reeleito. Será que não existia nenhum candidato menos pior?

Segundo: a desídia da Prefeitura de Porto Velho com o transporte dos alunos ribeirinhos, parece que está contaminando a gestão estadual do governador Marcos Rocha, da Hildon Chaves agora é sócio, desde que amarrou seu arado ao trator do governo Marcos Rocha e foi peça fundamental para a conquista deste segundo mandato.

Veja o que relata a reportagem de Loide Gonçalves*, publicada nesta sexta-feira, 20, no portal G1 Rondônia:

 ‘Sonho deles é estar dentro da sala’, diz avó de crianças       ribeirinhas que estão sem aula há 5 anos em Porto Velho

Estado se comprometeu em regularizar o fornecimento de transporte fluvial este ano. Avó de alunos abriu um espaço no quintal de casa para que professores deem aula

Há cinco anos, crianças e adolescentes que moram em áreas ribeirinha de Porto Velho não entram na sala de aula de uma escola. O problema acontece devido à falta de transporte fluvial, que leva os estudantes de suas respectivas comunidades, até as escolas.

Com o retorno das aulas previsto para o dia 6 de fevereiro, segundo o Governo de Rondônia, os moradores relatam sentir incerteza quanto à regularização do serviço.

Maria de Fátima Batista, de 59 anos, acompanha de perto a situação e as consequências da falta do transporte fluvial, já que é moradora da comunidade Terra Firme, no Baixo Madeira. Ela viu a angústia de seus três netos de 12, 14 e 17 anos, que estão sem ir à escola há anos.

Alunos das zonas rurais e ribeirinhas estão há quase 5 anos sem frequentar escola em Porto Velho — Foto: Jaíne Quele Cruz/G1

“Por falta de acesso à escola durante mais de 3 anos, [alguns alunos] não tem mais vontade de estudar, alguns casaram, outros foram embora, outros não sabem se querem ainda estudar. Mas ainda tem alguns alunos que aguardam esse transporte para continuar seus estudos”, disse.

Sala de aula improvisada

Ao observar a situação, Maria cedeu um espaço da sua casa para os encontros quinzenais dos professores com os alunos. Além de abrir as portas de sua casa, Maria também paga a internet para ajudar os professores e alunos.

Avó de alunos improvisa sala de aula no quintal de casa para que netos não fiquem sem estudar em Porto Velho — Foto: Reprodução/Redes Sociais

“Faço a merenda tanto dos professores quanto dos alunos, por minha própria conta, sem receber nada em troca, justamente para eles manterem a aula quando eles vão de 15 em 15 dias”, contou.

Além dos alunos, os professores também encontram desafios para chegar até as comunidades.

Maria faz a merenda escolar para todos os alunos e professores que frequentam às aulas na comunidade Terra Firme — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Terra Firme é uma comunidade longe do distrito de São Carlos e para chegar até o local, os professores navegam por horas no rio Madeira e quando chegam, precisam enfrentar longas escadas.

“Sonham muito em ser alguma coisa”

Os netos de Maria estão ansiosos para voltar à sala de aula: “Eles sonham muito em ser ‘alguma coisa’ com os estudos, cursar uma faculdade, ter um bom emprego, poder ajudar os pais…”, revelou a avó.

Professores enfrentam longas escadas e horas de viagem no rio Madeira para chegar até a comunidade e dar as aulas — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Em dezembro de 2022, o Estado se comprometeu a cumprir um prazo de 60 dias para normalizar o transporte e, segundo a moradora, isso trouxe uma força para seus netos.

“Até mesmo eles já tiveram vontade de desistir de estudar, porque o sonho deles é estar dentro de sala de aula”, disse.

Mesmo com as circunstâncias, Maria tenta ter fé: “se Deus quiser esse ano vai dar tudo certo. Não só para meus netos como para os outros adolescentes das comunidades vizinhas”, sonhou.

Novela

O problema afeta as áreas ribeirinhas há anos, atingindo pelo menos 800 crianças e adolescentes que estão fora de sala de aula.

Após manifestações feitas pelos pais no mês de novembro, o governo se comprometeu a regularizar o serviço no prazo de 60 dias. O Ministério Público (MP-RO) ficou responsável por fiscalizar o processo a cada 15 dias.

Na última terça-feira (17), o MP confirmou, após reunião com a Seduc, que os alunos da Zona Ribeirinha de Porto Velho não devem voltar às aulas no dia 6 de fevereiro, junto com os demais estudantes da rede pública de ensino.

*Estagiária sob supervisão de Thaís Nauara

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