PORTO VELHO – O Teatro Estadual Palácio das Artes lotado expressou a alegria pela vida. Nele, o professor de canto e mestre em música David Coutinho e a pianista e bacharelanda em piano Andréa Figueiredo interpretaram 11 canções de diversos autores clássicos e líricos no concerto O amor curando a alma! promovido domingo à noite pelo Movimento dos Depressivos Conhecidos (MDC). Na finalização do bloco 4, Davi imitou o cantor Roberto Carlos, jogando rosas à plateia. 

Foi um jeito bonito de cativá-la com gestos emocionantes tão esperados pelas pessoas que foram ao teatro – sofredores de depressão ou parentes de outras que a possuem.

O ingresso foi pago com um quilo de gêneros alimentícios não perecíveis. A cada número, as palmas foram demoradas, e no final as pessoas aplaudiram em pé músicos e artistas . As palavras “gratidão” e “amor” também se repetiram.

O semblante feliz do público foi ao encontro da luta do MDC contra o “mal do século”

Preconceito e estigma ainda são manifestados pela sociedade em relação à doença depressiva. Pessoas sem conhecimento dela, muitas vezes a classificam de “preguiça, frescura, falta de Deus”, entre outras suposições. Esse quadro pode ser revertido, acredita o presidente do MDC, o procurador da República Reginaldo Trindade.

Ele próprio, vítima de depressão aguda, anunciou o próximo projeto visando alcançar um público bem maior: “Os girassóis de setembro”, que consistirá na visita de voluntários às escolas públicas e particulares da Capital que se dispuserem a recebê-los.

Os números divulgados no fôlder distribuído na entrada do teatro surpreendem: considerada o “mal do século” pela Organização Mundial de Saúde, a depressão mata, pelo suicídio, um milhão de pessoas em todo o mundo por ano.

Em 2021 Rondônia foi o estado com maior taxa proporcional de suicídios  no Brasil. Um suicídio pode impactar até 135 outras pessoas. O Brasil, 8º no ranking em números absolutos, apresenta a média de 12 mil casos por ano.

O projeto “Os girassóis de setembro” enfatiza situações que justificam maior mobilização de voluntários e de autoridades de saúde: crianças e adolescentes são talvez quem mais sofram com depressão e qualquer outro transtorno emocional.

“A partir de hoje pretendemos iniciar um trabalho no lugar que acreditamos ser mais adequado: as escolas. Iremos visitá-las, todas, levando informações e esperança, apurando dados, ouvindo as pessoas”, disse o procurador Trindade.

Segundo ele, qualquer pessoa pode ajudar. Voluntários receberão treinamento para fazer corretamente as visitas. Paralelamente será feito um concurso de redação e outro de desenho, essenciais para que estudantes pensem a respeito do tema.

O sonho do MDC é “ganhar Porto Velho, Rondônia, o Brasil e o Mundo.” “E não será por nenhum talento especial de quem quer que seja: esta é uma causa da Humanidade, é o próprio Criador que haverá de nos conduzir a todos”, diz o procurador.

“O amor curando a alma!”

O espetáculo de domingo teve o apoio da Fundação de Cultura do Estado de Rondônia (Funcer).

David Coutinho e Andréa Figueiredo são de Porto Velho. Ele mora atualmente em Goiânia, onde licenciou-se em Ensino do Canto e é professor efetivo da prefeitura desde 2011. Ela, pianista há 34 anos, venceu diversos concursos no País, entre os quais, o 1º lugar nos Jovens Solistas do Brasil no quesito música de câmara. É também advogada.

David é também graduado em matemática pela Universidade Federal de Rondônia. Andréa, desde 2017 dirige seu próprio empreendimento: Ateliê Piano & Música. Faz parte da Academia Rondoniense de Letras, Ciências e Artes. Recentemente foi aprovada em 1º lugar no concurso para pianista da Universidade Federal de Goiânia.

Salva pela arte

“A arte me salvou”, disse Emanuelle Gonçalves Costa, 23 anos, porto-velhense, estudante de História da Unir e colaboradora do MDC. Ela caminhou de um lado a outro do palco, dançou com grande expressão corporal utilizando um cabo de celular, um canivete [que ganhou do avô] e papéis – como se fossem cartas ou bilhetes jogados ao chão, em autêntica memória de pessoas que tentaram pôr fim à vida.

“Essa manifestação artística eu criei aos 15 anos de idade; resume a minha própria história”, ela disse. “Foi um grito de quem sofre de transtorno bipolar afetivo e de quem sofre depressão e ansiedade”, acrescentou.

Emanuelle gritou um sonoro “para!” contra a ansiedade e a depressão. E a poetisa de rua Ana Castro, como se intitula, igualmente emocionou quando a apresentadora revelou sua história de superação e a opção de fazer da rua o seu lar.

“Porto Velho está de parabéns com tão bons artistas na dança, na música, no cinema, no teatro e no artesanato”, elogiou a estudante Cleide Palma, do bairro Quatro de Janeiro. “Preciso ir mais vezes para conhecer tanta gente boa”, comprometeu-se.
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MONTEZUMA CRUZ
Fotos e vídeos: Carlos Araújo e Assessoria do MDC

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