RO, Quinta-feira, 18 de abril de 2024, às 20:22



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Moradora de Rondônia consegue atravessar fronteira para os EUA, mas vê dentista de Cuiabá cair em sua frente crivado de balas

MASSACHUSETTS (EUA) – Nesta semana, a reportagem do jornal eletrônico Folha do Sul on Line entrevistou, por telefone, uma moradora de Rondônia que atualmente reside num dos Estados mais ricos dos EUA: Massachusetts. Assim como muitos outros rondonienses, a ex-funcionária pública hoje com 45 anos resolveu enfrentar a perigosa aventura de fazer a travessia clandestina do México para a terra do Tio Sam, buscar o sonho da prosperidade financeira na “América”.

É uma narrativa de aventura, perigo e muita violência envolvendo brasileiros na penosa travessia pelo México, com a ajuda dos chamados “coiotes” para chegar aos Estados Unidos.

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Tudo começou no final de 2015, quando ela, junto com outro morador da região da Zona da Mata em Rondônia e um dentista de Cuiabá (MT), embarcaram num avião que pousou na Cidade do México, capital do país de mesmo nome.

Dali, como já haviam combinado com um “coiote” mexicano, os três foram levados para a cidade de Novo Laredo (foto). De lá, o grupo iria para a fronteira e tentaria chegar até Houston, no Texas.

A coisa azedou logo na chegada: assim que entraram na mansão em um bairro nobre de Novo Laredo, o coiote trancou todos no imóvel com portas blindadas, muro de 4 metros de altura e três ferozes pit bulls no quintal para evitar fugas. “Agora vocês só sairão daqui quando e do jeito que a gente quiser”, contou ao site a rondoniense, repetindo as palavras do marginal e evitando se identificar por motivos óbvios.

Em seguida, o bandido obrigou os três brasileiros a lhe entregar todo o dinheiro que haviam levado. A única mulher do grupo ignorou o risco de ser morta e conseguiu esconder no sutiã 2 mil dos 5 mil dólares que havia economizado para a viagem.

Depois, o sequestrador levou os três para um compartimento da casa e, falando em espanhol, mostrou uma enorme quantidade de cocaína. Ali ficou claro para o trio que o plano era fazê-los entrar nos EUA levando a droga. “Meu corpo arrepiou todo”, contou a entrevistada.

Segundo a rondoniense, na casa ela e os dois amigos recebiam comida e bebida, mas parte do tratamento parecia ter o objetivo de aterrorizá-los. “O homem mostrou para a gente milhões de dólares escondidos sob um sofá”, relatou.

O que parecia ser o chefe do bando sumia por alguns dias, depois retornava à casa. Mesmo com celulares, nenhum dos sequestrados ousava pedir ajuda, pois estavam ilegais em um país distante, tentando chegar em outro. Também não queriam preocupar os familiares que haviam ficado em Mato Grosso e Rondônia.

Um dia, o “chefão” perguntou à rondoniense se ela queria ficar milionária em menos de um ano. E explicou como: vendendo drogas para ele em Miami. A proposta foi recusada com certa diplomacia: “eu não levo jeito para isso e só iria te prejudicar”.

Alguns dias depois, retornando de outra de suas habituais saídas, o traficante avisou: o grupo iria para a fronteira com os EUA na tarde daquele dia. Apesar da apreensão, todos se sentiram aliviados por sair do cativeiro após dez dias.

O dentista cuiabano resolveu tomar um banho, enquanto os dois rondonienses se preparavam para a viagem. Neste momento, eles ouviram tiros dentro da casa e se esconderam dentro de um guarda-roupa. “Quando eu abri os olhos, tinha um mexicano com uma pistola engatilhada na minha testa”.

O homem armado perguntou onde estava o “Tilango”, e quando foi informado de que estava no outro quarto, metralhou a porta do aposento, mas o alvo da execução já havia escapado por uma saída secreta.

Depois, a entrevista soube que “Tilango” era o homem que a aprisionava. Ele trabalhava para um grande traficante, que havia mandado eliminá-lo ao descobrir sua ação para ficar com parte de um grande carregamento de cocaína.

DENTISTA MORTO

E aí se chega ao momento mais dramático: achando que Tilango estava no banheiro, o encarregado de matá-lo metralhou a porta e atingiu o cuiabano que estava no chuveiro.

“Ele desceu espirrando sangue por todo lado, abriu os braços em minha direção e disse que iria morrer”, contou a rondoniense, revivendo a cena que ainda a faz ter pesadelos.

LIVRES, ENFIM

Os mesmos homens que havia invadido a casa conseguiram, com armas de grosso calibre, destruir as portas blindadas. “Mas aí os pits bulls entraram. Por sorte, não fomos atacados. Mas tivemos que escalar o muro e correr em busca de socorro”.

O dentista de Cuiabá, mesmo ferido mortalmente, também conseguiu chegar até a rua, onde vizinhos acionaram a polícia. “Nunca vi tantos homens armados. A Polícia Federal e o Exército do México apareceram e o nosso amigo foi levado para um hospital”, lembra a sobrevivente.

MORTE DESCOBERTA PELO FACEBOOK

Após serem acolhidos numa academia de ginástica, onde foram orientados a se hospedarem num hotel, os dois rondonienses chegaram a uma hospedagem completamente ensanguentados.

Já no quarto, a entrevistada, que havia conseguido pegar o celular do cuiabano antes de fuga, descobriu que ele havia sobrevivido: o dentista conseguiu acessar o Facebook e, usando o Messenger de outro paciente do hospital para onde fora levado, avisou um amigo nos EUA de que havia sido ferido.

A rondoniense leu a conversa, pois o aparelho do homem baleado continuava conectado na rede social. “De repente, ele não escreveu mais nada. A gente soube que ele morreu pouco depois, na UTI”, contou a sobrevivente.

CORPO FOI CREMADO

A entrevistada disse que, em virtude do custo e da burocracia, o corpo do jovem morto foi cremado e enviado para a família, em Cuiabá, numa urna, em forma de cinzas.

CASADA E FELIZ

Abalada com tudo o que viveu seis anos atrás, a ex-servidora pública disse que, em outra ocasião, contará como foi a travessia até chegar nos EUA, onde hoje vive feliz.

“Eu me casei aqui com um paulista do interior. Ele já é cidadão americano e meu Green Card deve sair”, animou-se, falando do documento que lhe permitirá viver legalmente na nação mais rica do mundo.

“Só volto aí a passeio, para rever minha filha e os outros parentes. Meu lugar é aqui”, finalizou a mulher que, apesar de todo o horror que viveu, ainda é muito bem-humorada e otimista.

“NÃO FOI DESSE JEITO”

O FOLHA DO SUL ON LINE pesquisou na internet e descobriu a publicação do assassinato do dentista de Cuiabá no portal G1, mas a entrevistada por este site garantiu: “essas informações estão erradas. Inclusive a de que teve um segundo morto no tiroteio”

Fonte: Folha do Sul






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