RO, Domingo, 05 de maio de 2024, às 20:03



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GUAJARÁ-MIRIM II – O berço da luta política antes do Território – Lúcio Albuquerque

GUAJARÁ-MIRIM – Em 1937 um grupo de comerciantes e outras lideranças dos rios Guaporé e Mamoré organizaram um movimento que gerou, ainda naquele ano, o encaminhamento de um pedido, através de políticos de Mato Grosso, Estado ao qual a região estava vinculada, propondo a criação de um Território Federal naquela região, incluindo o município de Santo Antônio.

Até então, Guajará-Mirim era Espiridião Marques, “Distrito de Paz” criado em 1922 como parte de Santo Antônio do Madeira, onde eram feitas eleições, mas de alcance apenas municipal, ou votando para presidente da República, como em Porto Velho, até 1930, quando a revolução liderada por Getúlio Vargas suprimiu os pleitos.

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Passado à condição de município em 1928 e instalado em 1929, assumindo então o nome que já era conhecido, Guajará-Mirim, também não houve eleição naquele ano porque elas estavam suspensas, e quando começou a mobilização pró-Território, os idealizadores fizeram uso de uma grande liderança política mato-grossense, Felinto Muller, nascido em Cuiabá e com boas influências junto ao presidente Getúlio Vargas.

Um dos líderes do movimento era o importante comerciante Paulo Cordeiro da Cruz Saldanha, coronel da Guarda Nacional, diretor da maior empresa da região, a Guaporé Rubber Company. “Em 1937 (o coronel da guarda Nacional, Paulo Saldanha) liderou um movimento para criação do Território Federal do Guaporé, cuja sede seria Guajará-Mirim”, diz Tereza Chamma, o que aconteceu em 1943, mas a capital ficando em Porto Velho, único espaço do atual Estado de Rondônia que era do Amazonas.

Paulo Saldanha – ver  “Guajará-Mirim, A Pérola do Mamoré” – chegar ao que é hoje Guajará-Mirim em 1911, quando o lugar ainda era chamado “Quadro”, em 1922 “Espiridião Marques” e 1928, o nome atual. Naquela pequena comunidade Saldanha foi um pouco de tudo: adquiriu uma empresa, implantou a navegação fluvial, médico, enfermeiro e forte contribuidor ao desenvolvimento local.

O movimento pela criação do Território, conforme o historiador Francisco Matias, ganha força a partir de 1933, quando o presidente Getúlio Vargas manda fazer estudos, através da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, proposta inicial de 10 unidades, uma delas a do Guaporé.

ALUÍZIO FERREIRA

Praticamente no mesmo período em que começa a mobilização, pelo Território, feita sob a liderança de Paulo da Cruz Saldanha, vem crescendo outro nome na região, com abrangência até Guajará-Mirim em razão do cargo que ocupava, como diretor da ferrovia Madeira-Mamoré: Aluízio Pinheiro Ferreira, também conforme Matias, delegado do governo federal na região.

Oficial do Exército, derrotado na revolução de 1924, Aluízio Ferreira fugiu de Óbidos (PA) e veio se homiziar na região Rio Guaporé, trabalhando como guarda-livros do seringalista Américo Casara, onde ficou até 1929 quando se apresentou ao exército em Belém (PA), e foi nomeado por Candido Rondon para a subchefia do posto telegráfico de Santo Antônio do Rio Madeira, ascendendo à direção maior a seguir.

A Aluízio é atribuída parte significativa da criação de contingentes militares em 1932 em Porto Velho, Guajará e Forte Príncipe. Em 1943 quando o presidente Getúlio Vargas criou cinco Territórios Federais, um deles foi o do Guaporé, mas cuja capital ficou para Porto Velho. Aluízio foi nomeado governador e depois, em eleição no dia 19 de janeiro de 1947, foi eleito o primeiro deputado federal do que hoje é Rondônia.

Em “O alferes e o coronel”, o autor, acadêmico e escritor Paulo Cordeiro Saldanha cita que os dois, seu tio Paulo Cordeiro da Cruz Saldanha e o capitão Aluízio Ferreira, eram amigos, o que também foi citado várias vezes em conversa comigo pelos historiadores Esron Menezes e Abnael Machado.

Talvez por isso tenha força a citação feita por Matias, em “Pioneiros”, de que o “Documento do Guaporé” tenha sido encaminhado a Aluízio Ferreira e este, na condição de delegado do Governo Federal na região, encaminhou o assunto ao presidente.

Em 1940 Getúlio Vargas vem à Amazônia, visita Belém, Santarém, Manaus, e vem a Porto Velho, onde fica da metade do dia 11 até a manhã do dia 13 de outubro. Oficialmente a visita seria para inaugurar uma unidade geradora de energia elétrica em Porto Velho, onde ficaria três horas, almoço e viagem de volta.

Era o plano, mas Getúlio e comitiva ficaram mais, até dia 13, período em que ele recebeu o governador do Acre e outras figuras da região, foi alvo de dezenas de homenagens, repetiu “Hamlet” – ao invés de um crânio, um ouriço de castanha. Há muitas especulações sobre as razões que levaram o presidente da república a ficar mais de dois dias na cidade.

Mas há uma certeza: nessa passagem deve ter pedido por Aluízio Ferreira que fosse criado o Território, só que, ao invés de Guajará-Mirim, a capital fosse Porto Velho, e havia uma fortes justificativa para isso: a, hoje, capital rondoniense, era sede da principal empresa da região, a ferrovia Madeira-Mamoré.

Em 1943, a 13 de setembro, pelo programa “A Hora do Brasil” (depois “Voz do Brasil”), os poucos aparelhos de rádio existentes em Porto Velho e Guajará-Mirim trouxeram a notícia: pelo Decreto-lei 5.812/43, ficaram criados os Territórios de Rio Branco (depois Roraima), Amapá, Ponta Porã, Iguassú (esses dois depois extintos) e o de Guaporé, em 1956 Rondônia.

FRAUDE NA 1ª ELEIÇÃO?

A 29 de outubro de 1945 acaba a “era Vargas”, iniciada em 1930. Em 1946 o Brasil tem sua quarta Constituição do período Republicano e lá fica determinado que cada Território Federal criado nessa Carta teria direito a representação na Câmara Federal.

O passeio de catraia também é motivo para moradores das cidades vizinhas visitarem ou venderem seus produtos

Os eleitores escolheriam um deputado federal, o que aconteceu logo no mês de janeiro, uma eleição, conforme as informações da época, que teriam apenas um candidato, o próprio Aluízio Ferreira, desde 1944 governador do Território, mas que acabou com duas candidaturas, também a do coronel Paulo Cordeiro da Cruz Saldanha.

Para isso há duas versões, uma delas que Aluízio se deslocara ao Rio de Janeiro para espera apenas a diplomação, e a segunda de que, na visita do líder do Partido Socialista Brasileiro, PSP, Ademar de Barros, a Porto Velho, Auízio teria se irritado por um ato de Ademar que, necessitando assinar um documento, mandara um auxiliar virar de costas e assinara com o papel sobre as costas de seu ajudante.

Daí surge a candidatura de Paulo Saldanha e a primeira denúncia de fraude: o resultado oficial foi que Aluízio conseguiu 1288 votos, contra 956 de seu adversário, conforme o professor e historiador Dante Ribeiro da Fonseca (*). Paulo Cordeiro Saldanha, em “O Alferes e o Coronel” não tem dúvidas de que a eleição foi fraudada e lembra que 40 anos depois daquele pleito, um dos que teriam entrado pelo forro do local onde estavam os votos, e “emprenhado” as urnas, confessou-lhe detalhes daquele ato.

(*) https://www.gentedeopiniao.com.br/colunista/dante-fonseca/aluizio-pinheiro-ferreira-e-joaquim-vicente-rondon-a-primeira-sucessao-no-governo-do-territorio-federal-do-guapore-1946

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