RO, Sexta-feira, 29 de março de 2024, às 7:06



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Ex-menino marrento e peralta, rondoniense troca consultório pelo tatame e é novo campeão brasileiro de jiu-jitsu peso pluma

PORTO VELHO – O rondoniense Caio Marco Rodrigues Pacheco é o campeão brasileiro de jui-jitsu de 2021 na modalidade peso pena. Ele conquistou o título sábado passado no Campeonato Brasileiro de Jui-jitsu, que acontece no Rio de Janeiro, de sábado passado, dia 25, até amanhã, domingo, 3. Caio enfrentou quatro adversários em sua categoria.

É a segunda vez que Caio ganha o título. A primeira foi na edição de 2017 deste mesmo campeonato.

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O Campeonato Brasileiro de Jui-Jitsu tem participação de mais de dez mil atletas do mundo inteiro e de todas categorias – galo, pluma, pena, leve, meio pesado, pesado, dentre outras, e é considerado o mais difícil do mundo.

Rondoniense nascido em Porto Velho, onde mora com a família, o campeão brasileiro de jui-jitsu de 2021 é filho do delegado de Polícia Civil Henry Anthony, ex-secretário adjunto da Segurança Pública, e da advogada da União, Maria Augusta Pacheco. Caio graduou-se em odontologia, com especialização em implantodontia.

Até chegou a atuar durante dez anos, com consultório em Goiânia. Mas o ambiente formal, as consultas e o ferramental foram espaços pequenos para dar vazão a energia daquele que foi um menino tipo maruá marrento, muito peralta e que encontrou exatamente nas artes marciais o ponto de equilíbrio.

Segundo Caio, este campeonato é considerado o mais difícil do mundo, já que o jiu-jitsu é um esporte brasileiro e os melhores atletas são do Brasil. “Muitos atletas nacionais não conseguem visto para participar do campeonato mundial nos Estados Unidos. No nosso país é mais fácil entrar, portanto, vem os mais fortes do mundo em cada categoria. Por exemplo, na minha categoria havia cinco campeões mundiais”, pontua.

Veia de campeão

Formado em odontologia e com consultório montado, Caio Marco Pacheco Rodrigues optou por largar a carreira e a rotina da profissão e partir para enfrentar outros desafios. A odontologia perdeu um profissional. O esporte, contudo, ganhou um campeão que está conquistando vitórias e colecionando medalhas no ambiente ele se sente realizado: o tatame de Jiu-jitsu.

Caio começou no judô, aos seis anos de idade. Quando houve um boom de jiu-jitsu no Brasil, aos 13 anos quis experimentar e nunca mais largou. Começou com o professor Marcelo Cruz e depois com o mestre Gomes, já falecido, um dos pioneiros do jiu-jitsu no estado, que formou a maioria dos faixas-pretas rondonienses. Depois começou a treinar com o professor Italo. Foi estudar em outro estado, mas nunca parou de treinar.

Em 2015, Caio voltou a Rondônia. Foi na capital, Porto Velho, onde o atleta participou do primeiro campeonato no Colégio Classe A. “Como tinha uma base excelente de judô, me saí bem e ali foi o divisor de águas. Tudo que aprendi no judô me ajuda no jiu-jitsu. Comecei a luta derrubando o adversário, então percebi que iria me dar bem nesta modalidade. O mais importante é que o judô forja o guerreiro, ensina a lidar com medo e com a adrenalina durante o combate”, revela.

Hoje, Caio tem muitas medalhas conquistadas tanto no judô quanto no jiu-jitsu. Desde que começou os campeonatos estaduais em Rondônia, Caio se sagrou campeão na sua categoria, tanto de quimono como sem, foi campeão de todas as etapas em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Manaus, Rio Grande do Sul, Salvador, Brasília e ganhou em todas. Foi campeão Sul-americano, duas vezes campeão brasileiro faixa-preta, campeão sul brasileiro.

No Brasil, também conquistou o campeonato master no Rio de Janeiro. Venceu a seletiva para ir a Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. Já lutou duas vezes no mundial em Las Vegas, campeão faixa preta no mundial realizado pela Federação Jiu-Jitsu e esportiva.

Caio afirma que sonha em ser campeão mundial em Las Vegas, onde já competiu duas vezes, mas não conseguiu o resultado esperado. E também ser campeão europeu e panamericano, duas competições que ainda não participou.

Ele conta que o apelido “Magaiver” nada tem a ver com jiu-jitsu, mas que na infância foi hiperativo e acelerado e seus amigos falavam que com um chiclete e com um fio dental, poderia acabar com uma festa. O apelido é uma referência ao personagem do seriado ‘profissão perigo’, exibido nos anos 1980 com muito sucesso. Ele conta ainda da importância do jiu-jitsu para canalizar um pouco desta energia. O esporte em si como arte marcial e sua filosofia mudou sua vida.

Em 2017, Caio conquistou o campeonato brasileiro de jiu-jitsu lutando numa categoria, segundo ele, com muita dificuldade para bater, que o peso pluma, 62 quilos, com quimono. “Normalmente peso dez quilos a mais e naquele ano tive de fazer uma dieta para conseguir bater esse peso e consegui ser campeão. Depois, em 2018, tentei na categoria pena, que exige 70 quilos de quimono. Por isso, tive de baixar mais dois quilos, mas fiquei em terceiro lugar. Com uma preparação física bem-feita e treinamentos intensos diários, musculação e fisioterapia. É um sonho de qualquer atleta ganhar esta competição do jiu-jitsu brasileiro, considerada uma das mais difíceis pelos lutadores. Além de ter feito as lutas na minha categoria também participei do Absoluto, com todos os vencedores de cada categoria sem distinção de peso. E neste, conquistei o terceiro lugar”.

Como implantodontista trabalhou durante dez anos atendendo no seu consultório em Goiânia, perdeu a boa forma e até ganhava bem, mas, como sempre esteve envolvido com esportes, principalmente o jiu-jitsu, sua maior paixão, confessa que não era feliz e não tinha saúde. Não tinha tempo para se dedicar ao jiu-jitsu. Chegou um momento em que decidiu se cuidar mais, voltou aos treinamentos e a paixão pelo jiu-jitsu só aumentou. Resolveu recomeçar em Rondônia e passou a dar aula de jiu-jitsu e cursar faculdade de educação física.

“O jiu-jitsu me possibilitou viajar pelo Brasil e pelo mundo inteiro. Eu sabia que a oportunidade era criada através do meu esforço e dedicação. Conheci também muitas pessoas e fiz grandes amizades. O esporte abriu inúmeras portas e percebi que as amizades feitas no jiu-jitsu são verdadeiras e para sempre. Lutamos e sangramos juntos, mas acabamos criando um elo que vai além do superficial”, resume.

Atualmente luta nas categorias pena e pluma. No mundial tem diploma de até 64 quilos de quimono. “A categoria em que me sinto confortável para lutar é o pena”. Em Rondônia se mantém na categoria peso-pena, mas nas competições maiores desce para o pluma.

Sobre os ídolos do jiu-jitsu, Caio afirma que são muitos, dentre eles, o dono da sua equipe, mestre Júlio César. É fã dos seus professores, Thiago Alves, um dos primeiros que viu lutar de forma diferente. Também cita Rodolfo Vieira. São muitos ídolos.

Faz parte dos seus planos e treinar para o mundial que acontece em novembro. “Vou buscar patrocínios e me dedicar ainda mais para conquistar mais este campeonato. Pode apostar que farei por merecer e darei meu melhor para trazer este título para Rondônia”, finalizou Caio.

Reportagem: Humberto Oliveira e Carlos Araújo

Texto final: Carlos Araújo

Fotos: Arquivo da família

www.expressaorondonia.com.br






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