RO, Domingo, 05 de maio de 2024, às 20:53



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Calvário de Daniel Alves – Ex-jogador aguarda na prisão sentença de julgamento por acusação de estupro

A promotoria pediu nove anos de prisão, já a acusação pediu 12, a pena máxima para o crime

BRACELONA – É um calvário para quem se acostumou com a fama e a vida de rico. Há um ano preso em uma penitenciária da cidade de Barcelona, na Espanha, o ex-jogador brasileiro Daniel Alves, aguarda, preso, a divulgação da sentença de seu julgamento, que chegou ao fim na última semana. Ele é acusado de estuprar uma mulher em uma boate de Barcelona. Durante três dias de sessões, 28 testemunhas foram ouvidas, incluindo a jovem que acusa o brasileiro e a esposa dele. No depoimento, o suspeito disse que bebeu demais, que não sabia o que estava fazendo e chorou. Saiba mais a seguir:

O julgamento foi marcado por choro e relatos graves de uma noite que mudou vidas. Um ano após ser preso por estupro, um dos maiores ídolos do futebol, voltou a penitenciaria para aguardar a sentença da Justiça espanhola.

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A repórter Ana Paula Gomes, correspondente da Record, foi até o Tribunal de Barcelona e acompanhou os três dias de julgamento na Espanha. Em nenhum momento, a vítima teve contato visual com o acusado, além da voz dos relatos ter sido destorcida, para preservar a identidade da mulher.

No primeiro dia, a aparência e o comportamento de Daniel Alves chamaram a atenção. O ex-atleta apareceu usando calça jeans e camisa branca, além de ter permanecido de cabeça baixa na maior parte do tempo. Ele ouviu o relato da vítima, que aconteceu em sala separada, durante mais de uma hora. Apesar de ter se emocionado em alguns momentos, a jovem reafirmou, em detalhes, a acusação de agressão sexual.

Ainda na primeira sessão, também falaram a prima e uma amiga da denunciante, presentes no dia da suposta ação criminosa. Segundo os relatos, a jovem teria saído do banheiro chorando muito, dizendo que o jogador a tinha machucado. Em seguida, a boate acionou o protocolo de segurança do estabelecimento.

Já no segundo dia, o depoimento mais esperado era de Joana Sanz, esposa de Daniel. O tempo em que a modelo prestou depoimento chamou a atenção, pois ela ficou menos de dez minutos diante dos juízes. Joana revelou que, na noite do dia 30 de dezembro de 2022, o marido chegou em casa bêbado e cheirando a álcool. “Tropeçou no armário e caiu na cama. No dia seguinte, não mencionou ter estado com uma mulher”, afirmou Joana.

Três amigos de Daniel, ouvidos pela Corte, relataram que o acusado bebeu muito naquela noite. Bruno Brasil, uma das testemunhas, disse não ter percebido nada de estranho na saída do banheiro e não viu a jovem chorando. Já um dos sócios da boate, o gerente e funcionários reforçaram o depoimento da vítima.

No terceiro e último dia de julgamento, Daniel Alves prestou seu depoimento e chorou por duas vezes. O jogador modificou sua versão diversas vezes ao longo de um ano de prisão preventiva. Inicialmente, disse não conhecer a suposta vítima. Depois, confirmou que a encontrou no banheiro na boate. Com as evidências, passou a dizer que teriam feito sexo oral. Por fim, confirmou ter tido relação sexual consensual e, no julgamento, alegou estar sob efeito de bebidas alcoólicas.

Daniel contou sobre os minutos antes do suposto estupro. “Tomei mais ou menos duas garrafas de vinho e um copo de uísque. Quando chegamos ao camarote reservado na boate, meu amigo chamou as meninas. Dançamos bem próximos, de forma respeitosa”, disse Daniel. Após algum tempo, eles se aproximaram e a vítima teria passado as partes íntimas delas nas deles. “Falei para ir ao banheiro e ela disse que tudo bem”, relatou o ex-atleta.

Dentro do banheiro, Daniel afirmou ter recebido sexo oral e disse que, em seguida, houve relação sexual consensual. O acusado garantiu que, em nenhum momento, a vítima disse ‘não’. “Eu não sou esse tipo de homem, não sou um homem violento”, afirmou. Ele ainda chorou ao explicar o porquê teria mentido no primeiro depoimento, disse que negou conhecer a suposta vítima porque não queria que a esposa descobrisse a traição.

Um dos momentos mais dramáticos do julgamento foi durante a apresentação dos vídeos das câmeras que estavam nos uniformes dos policiais e do circuito de segurança da boate. A imprensa não pôde assistir às imagens, mas conseguiram ouvir o choro da mulher que acusa o jogador.

As duas psicólogas que avaliaram o jogador, a pedido da defesa, disseram que o acusado estava com a capacidade cognitiva alterada porque havia bebido e não tinha o costume de ingerir bebidas alcoólicas. Pela lei espanhola, a embriaguez por vício pode ser um atenuante, diminuindo a pena em até três anos.

A pena só será divulgada nas próximas semanas, mas qualquer que seja o veredito, as duas partes podem recorrer ao Tribunal de Apelação da Espanha. A promotoria pediu nove anos de prisão, já a acusação pediu 12, a pena máxima para o crime.

Daniel Alves negou a acusação e a defesa do jogador pediu absolvição ou, como alternativa, a pena de um ano, que já foi cumprida. Além disso, propuseram uma indenização no valor de 50 mil euros, equivalente a R$ 268 mil.

A família de Daniel não podia ter contato com o acusado durante os três dias, mas a mãe dele esteve presente prestando apoio ao filho. Jackson Trindade, empresário e amigo do acusado, acompanhou o julgamento do Brasil e garantiu que acredita na inocência do jogador. “Tudo isso não passa de uma armação”, disse o amigo.

O advogado criminalista Caio Fonseca explicou que o processo espanhol e o brasileiro são parecidos. Se for condenado, o jogador terá que cumprir pena na Espanha. “Para a pena ser executada no Brasil, tem que haver um acordo entre os países e o Superior Tribunal de Justiça teria que revalidar esse processo. É um caminho demorado e burocrático”, explicou o especialista.

A história de Daniel Alves era de um vitorioso. No estádio do Barcelona, o lateral reinou como ídolo e viveu momentos de consagração. Jogou em outros grandes clubes e conquistou 43 títulos. Ele é o segundo jogador com mais títulos oficiais da história do futebol mundial, atrás apenas de Leonel Messi.

Ele nasceu em Juazeiro, na Bahia, às margens do rio São Francisco. Filho de agricultor, o garoto habilidoso com a bola, ganhou uma estátua em sua homenagem na cidade natal, ao lado do compositor João Gilberto.

Em 2022, Daniel Alves foi o jogador mais velho a ser convocado para uma Copa do Mundo. O comentarista esportivo Cosme Rimoli explicou que a ideia de Tite, técnico da seleção na época, era colocá-lo para segurar a taça da vitória, caso o Brasil vencesse, como uma representação de um jogador vencedor. “A imagem do Daniel Alves está arranhada para sempre”, afirmou Cosme.

Reprodução/RECORD

Fonte: R7.com






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