RO, Sexta-feira, 26 de abril de 2024, às 6:06



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Um olhar sobre as águas, mazelas e maldades contra o povo amazônico

MONTEZUMA CRUZ

Quem habita os beiradões amazônicos, ou alguma vez singrou por suas águas tem noção do que significa para sua gente viver atenta para enfrentar a criminalidade que ali ocorre frequentemente, tanto quanto na planície. O aumento das mazelas e das maldades contra o ser humano desafia diariamente os cantões deste sofrido norte brasileiro vencido pela biopirataria, o roubo de minérios e madeiras nobres, e até pelo tráfico de água doce.

Por essa razão, chama atenção a visita do senador Confúcio Moura (MDB-RO) ao Comando da Capitania Fluvial em Porto Velho, onde ouviu relatos a respeito da realidade do trabalho e da missão da Marinha do Brasil e ao mesmo tempo sondou as dificuldades ainda existentes nessa Unidade jurisdicionada ao Comando do 9º Distrito Naval em Manaus.

Um triste e lamentável episódio decorrente da coragem e da postura do ex-sertanista da Funai, Bruno Pereira [assassinado recentemente no Vale do Javari, Amazonas] nos mostra a verdadeira dimensão do assalto armado à fauna aquática, à floresta e à combalida calmaria que um dia caracterizou a vida dos ribeirinhos em Atalaia do Norte e adjacências. Entre eles, muitos foram cooptados para a criminalidade nas águas. Mataram sem piedade por míseros reais, ou dólares.

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Quantos Brunos perderam a vida por escolherem o lado do bem? Quantas embarcações irregulares foram a pique por superlotação e falta de equipamentos? E o tráfico de pessoas? Quantas vidas perdidas!

As bancadas federais de estados amazônicos sabem – de cor e salteado – quanto são gritantes a biopirataria e o assalto no entorno das águas amazônicas. Sabem, mas há décadas cruzam os braços, apenas tramelando a porta para o ladrão não entrar. Infelizmente, quadrilhas inteiras seguem fazendo um enorme estrago ao meio ambiente.

Olhos nos olhos com o comandante da Capitania Fluvial, Capitão de Fragata Marcelo de Souza Barbosa, despertado e movido pelo sentimento de solidariedade e de soberania nacional, o senador Confúcio comprometeu-se a emendar o Orçamento Geral da União em 2023, com recursos essenciais ao reequipamento dessa Unidade.

Confúcio Moura desce a escadaria de acesso à Capitania Fluvial de Porto Velho [Foto Suely David]
Se tarde ou não, a prática do combinado é mais importante do que a exceção na regra da criminalidade em suas sucessivas e assustadoras ações. Pelo menos nestas bandas da Amazônia Ocidental Brasileira, as águas poderão ser um pouco melhor patrulhadas.

Atuando desde 1º de outubro de 2019 em um território de 658,5 mil km² [maior do que meia dúzia de capitais europeias], a Capitania Fluvial de Porto Velho passou a subordinar as agências de Guajará-Mirim, Boca do Acre (AM) e Humaitá (AM).

Dois anos atrás, pautado pela chefia da Secom-RO para matérias especiais da Semana da Pátria, deparei-me com o rol de atividades da Marinha do Brasil por aqui: a Capitania Fluvial caminhava para 1,9 mil despachos de embarcações [em 2019 foram 1921], e ultrapassava o total de 5 mil embarcações fiscalizadas. Tudo isso feito por um efetivo de apenas 51 militares.

No aspecto das mazelas e maldades causadas pelo desorganizadíssimo garimpo ilegal de ouro no Rio Madeira – cuja relação com o Governo de Rondônia é até hoje de amor e ódio – a Marinha do Brasil atuou muito bem durante a Operação Verde Brasil II, apoiando o 1º Batalhão de Operações Ribeirinhas e o Batalhão de Polícia Ambiental de Rondônia, no que resultou no lacramento de 86 dragas por falta de inscrição e ausência de documentação; foram feitas 214 abordagens em embarcações, das quais 60 notificadas e 35 apreendidas por estarem em desacordo com a Lei de Segurança e Tráfego Aquaviário.

Em momentos dramáticos na Amazônia Brasileira, as águas se tornam território de ninguém. Mas existe lei determinando quem é o dono de suas riquezas – e quem sabe, de sua pobreza também, digo eu*.

Depois da pandemia, provavelmente esses números cresceram ainda mais, apesar da falta de recursos. O grande sonho de consumo de quem ama verdadeiramente a Amazônia é vê-la 24 horas protegida da criminalidade. Parece utópico, mas o empenho das bancadas federais amazônicas podem se unir de uma vez, decidindo que esse é o caminho.

Certamente, firmeza de propósitos e atitudes semelhantes à do senador Confúcio Moura serão notadas, pois implicam combater o crime sem fronteiras.

O saque aos recursos naturais há anos nos surpreende com a presença de navios petroleiros reabastecendo seus reservatórios no Rio Amazonas antes de sair das águas nacionais. E a Agência Nacional de Águas (ANA), responsável por esse tipo de fiscalização, segue dependente das Operações Verde Brasil. É o que temos para o jantar.

É possível que a Marinha do Almirante Tamandaré saiba vencer seus desafios a cada auxílio recebido, alcançando condições de cumprir seu plano anual de trabalho, fazendo mais e mais. Tornando, por exemplo, o povo ribeirinho tão digno quanto o da zona urbana das cidades. E agir, conforme a expectativa de nós todos, sonhando vê-la soberana e guardiã das maiores riquezas ambientais da Humanidade.

NOTA
(*) A defesa das águas brasileiras está na Constituição Federal, no Artigo 20, que trata dos Bens da União. Em seu inciso III, a legislação determina que rios e quaisquer correntes de água no território nacional, inclusive o espaço do mar territorial a ela pertencem.






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