RO, Segunda-feira, 19 de maio de 2025, às 10:56






Trem da EFMM pode voltar a circular e reforçar valorização do patrimônio histórico

Locomotiva 18 passará por ajustes para funcionar com segurança, ainda sem levar passageiros. Retorno é visto como uma forma de valorizar o patrimônio histórico da capital

PORTO VELHO — A tradicional locomotiva 18, da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM), em Porto Velho, está prestes a ganhar vida novamente. Segundo a Prefeitura da capital, o plano é que ela volte a circular dentro do pátio da ferrovia ainda neste ano.
Estrada de Ferro Madeira Mamoré (EFMM) em Porto Velho — Foto: Leandro Morais

A reativação da máquina faz parte de um projeto da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), que iniciou uma nova fase de vistoria técnica no local. O engenheiro mecânico Marlon Ilg, que também é presidente da ABPF, explicou ao g1 que a locomotiva passará por ajustes para funcionar com segurança, ainda sem levar passageiros.

“A locomotiva vai ser restaurada apenas para ela poder andar no pátio sem passageiro, não é um teste mas é uma demonstração. Ela precisa passar por uma adequação de sistema de freio e outras coisas para que ela se torne segura para operar com passageiros”, explicou.

De acordo com Marlon Ilg, a locomotiva 18 está em “estado razoável”, mas precisa de reparos importantes, especialmente na caldeira, que é a parte que gera o vapor responsável pelo funcionamento da máquina, parecida com uma panela de pressão gigante.

“A gente vai restaurar a caldeira e vai fazer ela poder andar para frente e para trás apenas a locomotiva sem vagões. A parte mecânica será de forma parcial apenas para poder já demonstrar o funcionamento dela com segurança, mas não terá segurança ainda operacional para puxar vagões”, disse.

A circulação completa vai demorar?

Segundo Marlon, enquanto a locomotiva 18 será restaurada para operar de forma limitada, a locomotiva 50 será enviada para uma oficina especializada em Santa Catarina. O objetivo é que ela seja totalmente recuperada e volte a puxar vagões com passageiros pelos trilhos históricos da ferrovia.

Esse plano, no entanto, depende de várias autorizações, como licença ambiental e liberação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), já que o trecho até Santo Antônio também precisará ser restaurado.

“Na segunda na sequência do planejamento a locomotiva 50 deverá ser encaminhada para uma oficina especializada, onde será feita toda a restauração para ela poder circular com passageiros e ao mesmo tempo também vai ser viabilizado a recuperação do trecho ferroviário”, ressaltou.

O retorno da locomotiva é visto como uma forma de valorizar o patrimônio histórico da capital e também como uma aposta no turismo cultural, um setor que pode ganhar fôlego com o charme das antigas ferrovias.

Complexo da EFMM em Porto Velho — Foto: Arte g1
Trilhos da EFMM

Os trilhos da EFMM tinham mais de 360 km de extensão e ligavam os portos de Santo Antônio do rio Madeira, em Porto Velho, ao de Guajará-Mirim, no rio Mamoré, na fronteira com a Bolívia. Eles praticamente não existem mais.

Após ser inaugurada, em 1912, a EFMM deu lucro por somente dois anos. Depois disso, ela entrou em declínio devido à queda vertiginosa da participação brasileira no mercado da borracha. Isso porque a borracha asiática entrou na concorrência e afetou consideravelmente a exportação brasileira.

Após 54 anos de funcionamento, a estrada de ferro foi completamente desativada e o escoamento da produção passou a ser feito por uma rodovia, a BR-364 (os trilhos e a rodovia ficam em trechos distintos).

Segundo o historiado Célio Leandro, após a desativação da EFMM na década de 1970, cerca de nove locomotivas foram deixadas nos trilhos que ligavam Porto Velho a Guajará-Mirim, próximo do atual cemitério da Candelária. O local é conhecido como “Cemitério das Locomotivas”.

Desde 2006, o complexo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré é protegido como Patrimônio Cultural Brasileiro por meio do seu tombamento pelo Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Locomotiva abandonada em Porto Velho — Foto: Rede Amazônica/Reprodução

“Ali pessoas morreram, pessoas trabalharam, pessoas constituíram o que somos hoje. A sociedade portovelhense é um reflexo de tudo aquilo ali. Hoje, Porto Velho é uma cidade muito heterogênea, há uma mistura muito grande que nos cerca. A origem do que somos está ali naquele complexo”, aponta Célio.

A história da construção da EFMM se tornou enredo para a minissérie “Mad Maria” produzida e exibida pela Rede Globo, baseada no romance homônimo do escritor e cientista social amazonense Márcio Souza.

A minissérie mostrou o cotidiano dramático dos homens que trabalharam duro para finalizar a ferrovia, contrastando-o com o glamour e a efervescência da vida dos políticos e empresários da capital, como o americano Percival Farquhar.

Fonte: G1 RO
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