Humberto Oliveira*

PORTO VELHO – Há pelo menos duas décadas, Roberto Carlos ligou o piloto automático e resolveu trocar a música por negócios multimilionários do ramo imobiliário – como se ele precisasse – no entanto, apesar de muitos críticos torceram o nariz para sua obra, não dá para negar a ele o seu devido lugar na história da música brasileira. O caso de falem mal, mas reconheçam seu valor. No próximo dia 19, Roberto Carlos comemora seus 81 anos.

Quando completou oito décadas de vida, em abril do ano passado, três livros biográficos foram lançados, e mesmo Roberto Carlos não gostando que outros contem e – no seu ponto de vista – faturem com ela – os lançamentos não puderam ser impedidos, proibidos ou apreendidos, como aconteceu com o livro Roberto Carlos em detalhes, do pesquisador e historiador Paulo César de Araújo, cuja pesquisa consumiu 15 anos de sua vida. O rei impassível não leu e não gostou. Mas, felizmente os tempos mudaram.

Araújo não se deu por vencido e voltou à carga com um novo livro Roberto Carlos outra vez, em dois volumes. O primeiro saiu com 900 páginas. Realmente, uma obra de fôlego e haja braço para leitura tão extensa. O segundo volume, ainda nem sinal. Roberto Carlos outra vez pode parecer uma versão atualizada de Roberto Carlos em detalhes, no entanto, não é, pois vai muito além do livro original, que também é excelente. Pena que o biografado não leu e não gostou.

Reconhecido hoje internacionalmente como um ícone romântico, neste primeirio volume vemos o jovem Roberto iniciando-se na bossa nova, depois astro do rock ― dos musicais de televisão e do cinema. Com o parceiro Erasmo Carlos e outros que se tornariam grandes nomes da nossa música, estabeleceu as bases para o rock nacional. A Jovem Guarda influenciaria o comportamento da nossa juventude e a forma como a sua trilha sonora seria feita no país, alçando o cantor a um nível de sucesso inimaginável ― uma beatlemania à brasileira, que provocaria debates, polêmicas e passeatas contra a guitarra. Até que, no início dos anos 1970, um novo Roberto começa a surgir – conforme poderá ser visto no volume 2 desta biografia.

Jotabê Medeiros – autor das biografias de Belchior e Raul Seixas – também resolveu mergulhar fundo na história e na carreira do rei no menos extenso Roberto Carlos por isso essa voz tamanha, título tirado de um trecho de Força estranha, música composta por Caetano Veloso. Medeiros segue outro viés e por isso faz valer a pena ler seu livro, que apesar de focar no mesmo personagem da obra de Araújo, é bem diferente.

Este livro percorre o universo suburbano por onde Roberto Carlos circulava no início dos anos 1960, pouco antes de estourar no rádio com Splish Splash e É proibido fumar, e na televisão à frente da Jovem Guarda. Os programas de rádio do Rio e de São Paulo que pegavam fogo, as bandas de rock que se multiplicavam arrastando multidões, o impacto comportamental e publicitário do iê-iê-iê, os ecos na personalidade metódica e na carreira construída com esmero, as amizades e turbulências com Tim Maia, Erasmo Carlos e o exuberante Carlos Imperial, tudo isso salta com vigor dessas páginas — e com a verve de um jornalista musical tarimbado que testemunhou boa parte do que narra no livro, uma biografia musical interessada em compreender a complexidade de um ídolo.

O terceiro livro em homenagem a Roberto Carlos, ao contrário dos anteriores tem o foco centrado mais na obra do cantor e compositor, como explicita o título escolhido pelo autor Tito Guedes – Querem acabar comigo, da Jovem Guarda ao trono, a trajetória de Roberto Carlos na visão da crítica musical. O livro é curto, o que significa uma leitura rápida. Com prefácio do jornalista Arthur Dapieve, Querem acabar comigo é fruto de uma pesquisa extensa e resultado é um retrato da obra do Rei a partir de uma perspectiva inédita.

O autor lembra que desde a Jovem Guarda, Roberto Carlos é um sucesso de público e fenômeno de vendas. A crítica musical, porém, demorou a lhe estender o tapete vermelho. A maior parte do tempo ele foi visto como um cantor alienado, brega, carola e acomodado. Para contar a trajetória do mais bem-sucedido nome da música brasileira de todos os tempos, sob o ponto de vista da imprensa especializada, o pesquisador Tito Guedes garimpou centenas de resenhas publicadas desde os anos 60 até hoje em grandes veículos como Folha de S. Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo, Manchete e Veja. E, ao longo do tempo, muitas das críticas sobre os discos de Roberto Carlos foram assinadas por nomes de prestígio, entre eles Sérgio Cabral, Flavio Marinho, Augusto de Campos, Fausto Wolff, José Miguel Wisnik, Tárik de Souza, Mauro Ferreira e Carlos Calado.

*É jornalista de formação, cinéfilo e crítico musical por opção; e poeta diletante…

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