RO, Quarta-feira, 28 de maio de 2025, às 17:57






“Plantador de cidades”, Reditário Cassol escreveu a história de Colorado, Cabixi, Rolim de Moura e Santa Luzia

Homem de confiança do governador Jorge Teixeira de Oliveira, o Teixeirão, Reditário Cassol fez nascer cidades no interior de Rondônia. Foi deputado estadual, federal e senador da República.

Nascido em sete de abril de 1936 no distrito de Alto Alegre [mais tarde Kennedy], Concórdia (SC), Cassol ali se criou, casou e depois se mudou para o município de Maravilha, onde abriu um estabelecimento comercial.

“Deu certo, mas lá pelos anos 1970 eu recebia um convite de uns amigos, inclusive, o João Cândido Linhares, deputado federal naquela ocasião, pra entrar em concorrência e adquirir área de terra em Rondônia”, conta.

Em 1976, Reditário Cassol veio três vezes ao velho Território Federal, viajando num Fusca. “Barbaridade dum carro né? Na terceira vez eu trouxe junto a mulher [Elga Bergamin Cassol] pra ver se ela se agradava e ela se agradou, e assim ficamos na linha 45, que pertence a Santa Luzia d’Oeste”.

Em Santa Catarina, chegou ao cargo de subdelegado de polícia: “Quando se mandava um preso embora, se despedia dele e nunca mais ele aparecia. Bem diferente do que é hoje, né? Por quê?”.

No meio do povo, debatendo e encaminhando pleitos, Reditário Cassol é pioneiro reconhecido

Esse lugar da Zona da Mata rondoniense era quase inacessível. O filho Ivo Cassol, então com 18 anos de idade, e seus cinco irmãos Dalva, César, Darcila, Denise e Jaqueline começaram o negócio da família.

Antes dessa fase, o patriarca quis acomodar a família e alugou um pequeno hotel em Vilhena [na divisa dos estados de Rondônia e Mato Grosso]. Todos moraram lá, enquanto ele dirigia um velho caminhão Ford no transporte de toras da região de Colorado do Oeste.

“César [segundo filho] me acompanhava na mata, aonde que nós fazíamos mais 80 quilômetros a pé, para abrir fazenda que começamos em 1977”, conta.
A mudança da família ocorreu no dia 20 de maio do ano daquele ano. Antes da abertura da fazenda, a empresa madeireira lavrou muitas toras de cerejeira e de mogno, de elevado valor comercial e cujas reservas ainda não estavam totalmente exploradas naquele período.

São assim conhecidas e qualificadas as espécies anteriormente abundantes naquela região: cerejeira [ou amburana, cumaru-de-cheiro, cumaré, Imburana, louro-ingá]: madeira clara, de tom castanho e amarelo claro, muito popular na fabricação de móveis e objetos decorativos. Em instrumentos musicais, é aplicada em fundos e laterais de violões. Tem indicações de uso medicinal: broncodilatador, analgésico, antiinflamatório e antireumático.

O mogno [acaju, aguano, araputanga, caoba, cedro-aguano, cedro-mogno, cedrorana, Mara] é marrom avermelhado e também tem tonalidade vermelha. Altamente resistente ao ataque de fungos e insetos, resistindo ainda a cupins de madeira seca. Pode ser trabalhado facilmente com ferramentas manuais ou mecânicas, e o acabamento produz uma superfície lisa e brilhante. É muito procurado para marcenaria e mobília, acabamento e ornamentos de interiores, e até mesmo construção de barcos e navios, em acabamentos e assoalho.

“Não havia dinheiro, mas existia crédito, do tempo que a gente morava lá. No final de 1979 adquirimos máquinas no Paraná e instalamos a madeireira. Já tinha sido plantada a Avenida Cassol, e passado um tempo, implantamos também uma fábrica de móveis que a gente levava pra exportação. A madeira também era exportada, e nós trabalhávamos desde às 6h da manhã de segunda-feira, parando só no sábado às 5h de tarde. Era comum, com duas turmas, tocar direto pra poder vencer a tarefa, como se diz”.

Reditário Cassol lembra que a “madeira de primeira categoria era que nem ouro”. Ele a comprava de agricultores que faziam derrubadas. Tempos depois, quando se esgotavam as reservas, ele juntou dinheiro e decidiu mudar de ramo.

Sucessivas crises no fornecimento de energia elétrica no País tiveram também reflexos em Rondônia. A família Cassol percebeu esse filão e aceitou o incentivo para investir na geração e distribuição de energia elétrica. Atualmente é proprietária de quatro pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). A primeira foi Santa Luzia.

Em 1979, ele assumiu no distrito de Colorado do Oeste o compromisso de levar adiante o lugar. Lembra que havia um grande movimento de assentamento de agricultores que vinham de todos os estados do País, porém, “implantar cidades era um desafio e não tinha quem fizesse isso”.

Foi aí que esse corajoso pioneiro conversou com o governador Teixeirão para combinar o cumprimento de uma parte da missão dele. O governador contou prontamente com a boa vontade e o destemor desse migrante. “Que Deus dê lugar onde merece, porque ele merece lugar bom mesmo, foi sério e honesto”, elogia.

“Aí organizamos o Colorado e, cumprindo ordem do coronel Teixeira, primeiro de tudo, implantemos Cerejeira, no início de agosto do ano 1979. No dia foi cantado o Hino Nacional pela primeira vez naquela região. Em quatro anos e três dias tivemos o prazer de ver o lugar se transformar num município”, relata.

Em função do aumento do assentamento agrícola e da consequente necessidade de se construir a cidade, a Comarca veio em seguida. “Na área reservada, parte pertencia aos Arantes, que ali tinham uma fazenda; o Incra desapropriou tudo, mas só teve trabalho grande com os índios, mas graças a Deus eu consegui negociar com todos eles”.

Isso, conforme Reditário Cassol ocorria dentro das regras do bom senso, “com bom pensamento, sem jogar nenhuma família pros canto”. “Todos foram se acomodando, e passados alguns meses o governo exigiu iniciar o Cabixi, que era pura mata. Nós fizemos a cidade dentro da própria mata, e não levou muitos anos também virou município, que é de minha autoria. Com o tempo, implantamos também a cidade de Corumbiara, distrito de Planalto São Luiz”.

Nessa organização demográfica e política da região que se tornou conhecida por Cone Sul de Rondônia, Cassol abriu estradas em mutirão. A maneira como conseguiu isso decorreu de falha administrativa do Incra.

“Naquela época, o maquinário do Incra estava parado, faltavam recursos, não tinha combustível, e o governador me pediu se eu assumia esse compromisso. Graças a Deus, fomos tão bem, melhor era impossível”, conta.

Teixeirão visitava a região regularmente, percebendo o sofrimento dos colonos. E se entristecia com a paralisação de tratores, patrolas, pás-carregadeiras e outros equipamentos do Incra, por falta de combustível. “Até que negociou com o doutor Lindoso autorização para o comando do maquinário passar para minha pessoa. Eu toquei o barco pra frente”.

Refere-se ao então coordenador do Incra naquele período, Bernardes Martins Lindoso, irmão de José Lindoso, que fora senador e governador do Estado do Amazonas.
A trajetória política familiar está assim distribuída: entre 1979 e 1985), Reditário Cassol foi nomeado administrador de Colorado do Oeste e, em 1986, elegeu-se deputado estadual. Na Assembleia Legislativa foi autor de projetos de lei que criaram 19 municípios na década de 1990. Em 90 elegeu-se deputado federal para a legislatura 1991-1994. “A gente andava no estado todo, trabalhando, mostrando serviço”, orgulha-se.

Crítico: “Bem diferente de hoje. Pense bem, faz quase 15 anos que não se cria nenhum município no País, e nós ainda temos aqui muito distrito que mereceria ser município”.
Outra vez alfineta: “Importante foi que o estado cresceu e o desenvolvimento veio, vieram outras indústrias e assim progrediu. Os colonos ficavam felizes com a gente naquela época, porque tinha apoio na lavoura, com semente de cereais, e não havia problema para vender a safra. Depois, acabou tudo, os armazéns ficaram velhos”.
Entende que, em oito anos, o filho Ivo praticamente atendeu agricultores. No entanto, lamenta “que se acabou tudo de novo”.

O filho César Cassol foi prefeito do município de Santa Luzia entre 1989 e 1992 e, de 1994 a 2002 foi eleito deputado estadual por duas legislaturas.
Em 2000, a eleita para administrar a Prefeitura Municipal de Alta Floresta do Oeste foi a filha dele, Darcila Cassol, Nega Cassol, no período 2001-2004. César elegeu-se depois prefeito de Rolim de Moura em 2013.

Em 1992, Ivo concorreu a prefeito de Rolim de Moura, mas teve sua candidatura impugnada dez dias antes das eleições. Quatro anos depois, em 1996, elegia-se e se reelegeria para o quadriênio 2001-2004. Para candidatar-se a governador, renunciou ao mandato de prefeito no início de abril de 2002.

Nas eleições de Rondônia de 2006, Ivo reelegeu-se já no primeiro turno, tendo como principal adversária Fátima Cleide. Deixou o governo no início de abril de 2010 para disputar o cargo de senador na eleição de Rondônia em 2010 e elegeu-se, juntamente com Valdir Raupp. Seus suplentes são o próprio pai Reditário Cassol e o advogado e ex-senador Odacir Soares Rodrigues.
A incursão de Reditário Cassol no Distrito Federal foi igualmente marcante. Ela ocorreu quando ele era deputado federal e se notabilizou por visitar pontualmente pessoas que para lá se deslocavam, em busca de tratamento de saúde. “Veja bem, as pessoas procuravam a gente pelo conhecimento e pela amizade, e lá a gente fazia o possível. Conseguimos uma casa de apoio e atendimento em hospital público, com o meu apoio”.

Sem medir dificuldades, Cassol se esforçava para garantir às pessoas o melhor atendimento. “Quando a casa de apoio estava lotada, eu levava o paciente pra casa da gente, sem gasto com passagem, nem outras despesas. Isso, porque nós sempre tivemos amor, a Bíblia manda ajudar, e felizes daqueles que têm condição de ajudar o próximo quando houver necessidade”.
“Trabalhador tinha valor, tinha tudo, e o produto valia, hoje em dia, tão mais importando de outros países e se esqueceram de ajudar o nosso agricultor produzir, então, tudo deveria ser muito diferente”, assinala.

Reditário Cassol se sente realizado. “A gente visita um município e sempre aparecem pessoas que agradecem pelo apoio que demos a ela nos velhos tempos. Até minha esposa se admira muito, porque em qualquer parte aparecem pessoas com esse agradecimento”.

E aconselha “a todos os que têm um dom de poder apoiar alguém” para que ajudem os necessitados em problemas de doença, na busca de médico e de medicamento. “Se for político e tiver mais oportunidade de tomar a frente para ajudar necessitados, faça isso”. Para Cassol, a saúde deve ser prioridade em todos os momentos.

Aos dirigentes da Fiero, manifesta gratidão pelo apoio dado às indústrias: “É muito importante que ela continue com grande apoio”.

Para Reditário, a Emater padece com algum esquecimento das autoridades estaduais. “Veja bem como está, hoje, a situação do agricultor? E a Emater, que também está esquecida?”.

Extraído do livro “Eles ajudaram a construir a história da indústria de Rondônia”, dos jornalistas Montezuma Cruz e Carlos Araújo, editado em 2016, a pedido da Federação das Indústria do Estado de Rondônia (Fiero), no ensejo das comemorações de seus 30 anos




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