RO, Quarta-feira, 28 de maio de 2025, às 17:03






Pasta ‘vampiricida’ distribuída pelo Idaron ajuda a manter o rebanho bovino livre da raiva

Montezuma Cruz

Quero hoje falar de morcegos. O governo estadual tem profissionais competentes que tratam do assunto. Em minha fase de repórter na comunicação social, insistia com editoras e editores, saía da cadeira e da mesa de trabalho para visitar dependências palacianas. Fiz isso durante os governos Confúcio Moura, Daniel Pereira, e até maio de 2022, com o coronel Marcos Rocha.

Na função de servidor público, eu acreditava que contribuiria mais com a população rondoniense se produzisse reportagens interessantes. Enquanto “durei”, apurei, escrevi e me realizei.

Com uma pitada de nostalgia, trago hoje ao leitor o lead da reportagem publicada pela Secom em 2018:

A ligação telefônica do pecuarista de Chupinguaia, a 530 quilômetros de Porto Velho, denuncia o ataque do morcego hematófogo (Desmodus rotundus) ao gado bovino. Prontamente, a Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia (Idaron) envia um veterinário para constatar a real dimensão do problema. Em 2017, as mais de trezentas lojas de produtos veterinários em Rondônia venderam 4,54 milhões de doses de vacina antirrábica.

A dose (2 ml) custa apenas R$ 1, a vacinação é opcional, mas a notificação da raiva é compulsória.

Esse tipo de morcego transmite a doença ao morder bovinos, cães, gatos, búfalos, burros, cabritos, mulas, ovelhas, porcos, entre outros animais silvestres raivosos, aos quais contaminam com o vírus presente em sua saliva. Assim funciona o Programa Estadual de Controle da Raiva dos Herbívoros, voltado especificamente para capturar e estudar esse mamífero com asas, principal transmissor da raiva a esses animais.

E adiante, lembrava que os hematófagos são encontrados desde o norte do México até o norte argentino, algumas ilhas do Caribe e em regiões com altitude média abaixo de 2 mil metros. Daí, trazia o mote e o molho da Idaron, agência conhecida na Suiça e na França, onde funcionam renomados centros internacionais estudos de epizootias.

Santo da casa não faz milagre. Se raciocinarem assim, hoje e amanhã, editores (especialmente eles) e repórteres terão ótimas oportunidades de mostrar reportagens a respeito de trabalhos praticamente anônimos feitos por médicos veterinários auxiliados por técnicos e motoristas aí pelos cantões rondonienses.

O veterinário Dalmo Bastos Sant’Anna, que naquele período (2017-2018) coordenava o programa de controle da raiva orientava: “Vacinar todo o rebanho garante a sanidade. Um animal morto em consequência da raiva, digamos, é R$ 2 mil a menos no ganho do criador.”

Catedrático, ele explicava: “Depois da primeira vacinação, aplica-se a segunda dose um mês depois e essa prática depois pode se tornar anual. Os pecuaristas devem aplicar a vacina antirrábica na mesma ocasião em que cumprirem a vacinação contra a febre aftosa.”

Foi justamente a febre aftosa quem colocou Rondônia no mapa internacional da epizootia com saldo positivo ao longo dos anos. Para quem ainda não sabe, a Idaron cuida muito bem dos rebanhos no estado e empresta à República da Bolívia o seu apoio para controlar o gado bovino da outra margem do Rio Mamoré.

Voltando aos morcegos: controlando-se o transmissor, diminuem os ataques, alertava Sant’Anna em nossa reportagem. Com o cuidado de respeitar a Mãe Natureza, pois, nem todo morcego está contaminado e pequena proporção tem o vírus.

A ele eu contava que havia ganho de presente um livro publicado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, contendo textos e fotos a respeito de 160 espécies de morcegos no Brasil.

E aí a conversa engatou bem, possibilitando-me levar à Redação da Secom a realidade quase invisível desse trabalho profissional que pode ser fantástico quando apoiado pela cúpula dos órgãos que fazem a vigilância sanitária animal em Rondônia, parceiros indispensáveis da Secretaria Estadual de Agricultura.

É a equipe da Idaron que coleta regularmente material para exames em casos de suspeita de raiva. Sant’Anna contava-me que o pessoal especializado estava em campo nas 84 unidades no estado, fazendo o cadastramento de abrigos e capturando morcegos que se alimentam de sangue.

Em 2017 ocorreram 31 visitas, durante as quais a Idaron capturava com redes 101 morcegos hematófagos. No País, naquele ano, de dois mil exames realizados constataram-se 807 casos de raiva. Em Rondônia, de 57 exames em animais bovinos atacados, a Idaron constatava três casos positivos – em Porto Velho, Novo Horizonte do Oeste e Ariquemes.

Como estaria a situação atualmente, quando os rebanhos animais aumentam a cada ano?

Enquanto a resposta não sai, lembremos de outros aspectos positivos desse serviço público tão maravilhosos quanto as análises de água feitas pela Sedam, lá no laboratório da antiga Vila Cujubim, na Capital: exames de restos de animais são feitos no laboratório da Idaron em Porto Velho, outros no Laboratório de Análise e Diagnóstico Veterinário na Universidade Federal de Goiás, em Goiânia, relatava o médico Sant’Anna. Com isso, a Idaron sabia identificar se realmente, a causa mortis do animal fora mesmo raiva.

Cada morcego solto, após receber a aplicação da pasta vampiricida, contamina dez a 20 outros morcegos da mesma espécie, no intervalo de quatro a dez dias, informava Sant’Anna. No mundo, apenas três espécies de morcegos possuem hábito alimentar hematófago (Desmodus rotundus, Diphylla ecaudata e Diaemus youngi), todos encontrados também no Brasil. No método indireto de captura aplica-se a pasta vampiricida ao redor das mordeduras recentes de hematófagos. Outros produtos vampiricidas também poderão ser empregados, e são de especial utilidade na bovinocultura de corte.

É isso, prezados leitores. O CPA tem quadros profissionais incríveis, e na Idaron trabalham alguns deles. São pessoas que sabem controlar esses morcegos, eliminando apenas os agressores – aqueles que, para se alimentar, tendem a retornar em dias consecutivos ao mesmo ferimento.

O uso tópico da pasta na agressão deve ser repetido, enquanto o animal estiver sendo espoliado. Essa prática deverá ser realizada pelo proprietário do animal espoliado, sob orientação de médico veterinário. Preferencialmente, no final da tarde, permanecendo o animal no mesmo local onde se encontrava na noite anterior

O ser humano contrai a raiva pela saliva de um animal doente. A mordedura é a forma mais comum de contaminação, mas a doença também chega por arranhões e lambidas em ferimentos na pele ou nas mucosas da boca, nariz e olhos.

Quando bovinos ou equídeos (burro, cavalo, égua, jumento e mula) estão doentes, estes são os principais sintomas:

Isolamento do restante do rebanho
● O animal parecer sonolento
● O animal parecer engasgado
● Quando apresentar salivação e agressividade
● Dificuldade em urinar e defecar
● Andar cambaleante
● Apresentar paralisia dos membros posteriores
● Cair e ter dificuldade para levantar
Na maioria das vezes, a morte ocorre entre o terceiro e o sexto dia após o início dos sintomas. Pode haver restos de sangue no pelo do animal, ou até um pequeno ferimento indicando o local onde o morcego mordeu.



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