PORTO VELHO – Filha dileta das dificuldades inerentes a este povo que habita nossas terras tropicais. Desde a tenra infância aprendendo com a dureza a ser flexível, resiliente, forte. A se equilibrar na tênue linha do possível. A sonhar, contra tudo, com impossível. A saltar os obstáculos, cravar raízes no ar, vencer a angústia de se ver sozinha correndo atrás da única possibilidade que a vida lhe abriu, sozinha com sua própria força desde os nove anos.
E a suportar as dores, foram tantas dores nessa jornada. Dores do corpo e da alma, dores dos treinos infindáveis em busca da perfeição. Dores da luta para se destacar da multidão de jovens carentes disputando um lugar na vida. Um lugar na fila da esperança, um lugar de dignidade. Vencer a dor da solidão, a dor da saudade da família. Vencer a dor do medo. Vencer a dor das cirurgias, sentir sua carne rasgando, seu corpo sangrando, sua alma sofrendo. Vencer a dor da incerteza do retorno aos treinos, a dúvida de recuperar sua performance. Vencer a hesitação do salto, o pessimismo inato, e mais uma vez sozinha diante de si.
Voa Rebeca!
Voa e leve bem alto os sonhos desse povo sofrido, de pés descalços, sem educação adequada. Voa Rebeca e teça suas coreografias aéreas espelhando com harmonia a esperança da raça.
Voa Rebeca, e leve a tristeza da alma, as dores do corpo, o complexo de vira latas de toda nação.
Voa Rebeca e crave no solo o marco indelével de um novo tempo, de mais compreensão, de mais caridade, inocência e amor.
Voa Rebeca e saiba que você nunca esteve só. E nunca ficará na solidão. O ouro do seu salto, o ouro desse mérito de vencedor, o ouro da sua disciplina, o ouro do seu sorriso está impregnado na esperança de todos os brasileiros que te aplaudem em êxtase, somos todos um e esses saltos hão de reverberar por toda terra, simbolizando a Ordem e o Progresso.
*É acupunturista tradicional
