PORTO VELHO – Com a chegada das férias escolares, muitas famílias se deparam com o desafio de reorganizar a rotina em casa. Para pais e responsáveis, o período pode ser tanto uma oportunidade de estreitar laços afetivos com os filhos quanto uma fonte de estresse diante das mudanças no dia a dia. É uma escolha que se faz. Afinal, as crianças passam a estar em tempo integral no ambiente doméstico, sem os horários fixos da escola.
O psicólogo Euler Oliveira, coordenador e docente do curso de Psicologia da faculdade Estácio, destaca que a quebra do ritmo estabelecido durante o ano letivo é um dos primeiros desafios enfrentados. “É comum haver dificuldade em manter horários regulares de sono e alimentação, além da necessidade de reorganizar toda a agenda familiar”, explica.
Segundo ele, a presença constante das crianças em casa também impacta diretamente na dinâmica do espaço: há maior desgaste de móveis, brinquedos e equipamentos, além da dificuldade em manter a organização e limpeza.
Para lidar com essa nova rotina, Oliveira recomenda o envolvimento coletivo da família nas tarefas. “Tudo precisa ser feito juntos — organização da casa, momentos da alimentação, o deitar e o levantar”, orienta. Reorganizar o tempo de sono e criar espaços para o lazer ao ar livre, como idas a parques, também são estratégias importantes.
Outro ponto de atenção é o uso excessivo de telas, que tende a aumentar durante o período de férias. “É preciso encontrar alternativas aos jogos e redes sociais. Como já dizia Freud, o que conta para as crianças é o prazer — elas não estarão focadas nas responsabilidades de organização e limpeza. Cabe aos pais trazer essa realidade e controlar o estresse em relação a isso”, afirma o psicólogo.
O tédio, muitas vezes visto como algo negativo, pode ser um aliado no desenvolvimento infantil. Do ponto de vista neurológico, momentos de “vazio” ativam áreas do cérebro responsáveis pela criatividade e fortalecem funções executivas como o planejamento, autocontrole e a flexibilidade cognitiva. “O tédio é um clamor ao novo”, diz Euler, ressaltando que ele também cobra mais presença dos pais — mas que é fundamental ensinar às crianças que todos precisam de seus próprios espaços.
Manter momentos estruturados mesmo fora da rotina escolar — como horários para refeições, descanso e brincadeiras — ajuda a criança a desenvolver uma noção de organização e contribui para seu amadurecimento emocional. “É preciso ter paciência com esse processo, considerando o tempo de desenvolvimento dos filhos. Nós adultos já temos isso consolidado, mas as crianças ainda estão em construção”, reforça.
Para criar memórias afetivas em família durante as férias, não é necessário nada grandioso. Atividades simples como jogos de tabuleiro, quebra-cabeças, passeios no parque ou uma ida ao cinema podem fortalecer vínculos e proporcionar momentos de qualidade. Segundo o psicólogo, o segredo está na presença e no afeto — e não na complexidade das atividades.