PORTO VELHO – Estamos fechando o ano de 2023 como o segundo ano após o auge da pandemia da covid-19 e desde o início da crise sanitária a economia brasileira passou por altos e baixos e os consumidores do país passaram por dificuldades, com a desaceleração da economia em decorrência das medidas de segurança adotadas e do distanciamento social. Eventos foram suspensos ou cancelados (shows, festivais, jogos esportivos, congressos acadêmicos, encontros evangélicos, entre outros), apenas atividades essenciais de atendimento ao público foram autorizadas a funcionar com medidas de proteção e segurança levando à suspensão de diversas atividades econômicas de atendimento presencial de consumidores.
Atividades turísticas foram fortemente afetadas, atividades antes presenciais passaram a ser desenvolvidas de forma remota como é o caso da educação, entre outras medidas que trouxeram dificuldades e levaram muitas empresas à falência, muitos trabalhadores ao desemprego e queda na renda do brasileiro.
Ao mesmo tempo, o custo de vida no Brasil aumentou consideravelmente durante a pandemia. Entre 2020 e 2022 alguns índices de inflação que buscam mensurar o custo de vida do brasileiro tiveram aumentos expressivos. O índice de preços ao consumidor amplo (IPCA), que mensura o custo de vida para famílias que recebem até 40 salários mínimos, alcançou o percentual de 21,69%; o índice nacional de preços ao consumidor (INPC), que mensura o custo de vida para os trabalhadores que percebem até cinco salários mínimos, registrou aumento de 23,05%; a cesta básica nacional aumentou cerca de 51,38% e a cesta básica de Porto Velho teve uma expansão de 64,33% no mesmo período.
Nesse mesmo período (2020-2022), o salário mínimo foi corrigido de R$ 1.039,00 para R$ 1.212,00, um aumento apenas de 16,65%, e a remuneração média do trabalhador brasileiro expandiu de R$ 2.904,00, no trimestre findo em janeiro de 2018, para R$ 3.017,00, no trimestre findo em dezembro de 2020, uma expansão nominal de apenas 3,89% no período.
Como é possível observar, enquanto alguns indicadores alcançaram índices superiores a 20%, alçando mesmo patamares superiores a 60% entre 2020 e 2022, o comportamento dos rendimentos dos brasileiros não conseguiu acompanhar o ritmo dos preços na economia.
Contudo, passada a fase mais aguda da pandemia e estando os consumidores brasileiros próximo ao final do ano de 2023, segundo ano após essa fase mais crítica que passamos, necessário fazermos uma análise das condições de vida dos consumidores do país e do nosso estado no período que compreende 2 anos antes da pandemia (2018) e 2 anos pós-pandemia (2023).
Quadro 1: Principais Indicadores de Preços e Relação com Rendimentos dos Trabalhadores no Brasil – janeiro de 2018 a outubro de 2023
Índices/Variação de Preços | Variação
jan/2018 – out/2023 |
Rendimentos | Variação
2020 – 2022 |
IPCA/IBGE | 36,62% | ||
INPC/IBGE | 37,02% | ||
IGP-M/IBRE-FGV | 68,61% | ||
INCC-IBRE-FGV | 50,73% | ||
Cesta Básica Nacional | 65,90% | ||
Cesta Básica PVH | 80,64% | Salário mínimo | R$ 954,00 em 2018 |
Gasolina (Brasil) | 37,08% | R$ 1.320,00 em 2023 | |
Óleo Diesel (Brasil) | 82,66% | Variação: 38,36% | |
Gasolina (Rondônia) | 51,37% | Renda Média do Trabalhador Brasileiro | R$ 2.137,00 1º tri/2018 |
Óleo Diesel (Rondônia) | 84,34% | R$ 2.982,00 3º tri/2023 | |
Gás de Cozinha (Brasil) | 51,38% | Variação: 39,54% | |
Gás de Cozinha (RO) | 55,17% | ||
Tarifa Aérea (Brasil: 2018-2022) | 76,68% | ||
Tarifa Energia Média Convencional (Brasil) | 11,43% | ||
Tarifa Energia Média Convencional (Rondônia) | 11,52% |
Fonte: IBGE; IBRE-FGV; Dieese; PET Economia Unir; ANP; Ministério da Economia; Panad contínua do IBGE, 2020 e 2022; PET/Economia Unir; Anac/2022; Aneel, 2023.
Como pode ser observado no quadro 1 (acima), a maioria dos índices de inflação aumentaram em patamares superiores a 35%, chegando a aumentos próximos a 85%. Em relação a preços e tarifas, os preços dos combustíveis sofreram aumentos superiores a 35% no período analisado, sendo que a gasolina sofreu aumento de 37,08% no país e 51,37% em Rondônia e o diesel sofreu aumento médio de 82,66% no país enquanto em Rondônia o aumento médio foi de 84,34%. A cesta básica nacional aumentou, entre 2018 e outubro de 2023, 65,90%; e a cesta básica mensurada para o município de Porto Velho sofreu aumento de 80,64%.
A tarifa aérea média doméstica no país, entre janeiro de 2018 e dezembro de 2022, sofreu alteração, em termos nominais, de R$ 474,00 a R$ 837,48 o que representa um aumento de 76,68% conforme dados do anuário do transporte aéreo de 2022, sendo que não foram disponibilizados os dados ainda para 2023. Mas, somente entre agosto e outubro de 2023 a tarifa área aumentou cerca de 37%, sendo um dos itens que mais tem aumentado no país e, com o aumento desproporcional da tarifa aérea nacional em 2023, a probabilidade de um aumento de mais de 100% na tarifa entre 2018 e 2023 é grande.
Em relação à energia elétrica, a tarifa média convencional entre as distribuidoras de energia no país era, em 2018, de R$ 0,58209 e em 2023 essa tarifa evoluiu para R$ 0,68865 o kW/h, uma expansão de apenas 11,43%. Em Rondônia, a tarifa convencional de energia sofreu uma variação de R$ 0,48962 para R$ 0,546 o kw/h, uma expansão de apenas 11,52%. É possível observar que Rondônia possui uma tarifa de energia bem abaixo da média nacional e atualmente a tarifa convencional cobrada pela distribuidora local é a quinta menor tarifa entre os estados da federação.
Em relação aos rendimentos do brasileiro, entre 2018 e 2023 o salário mínimo evoluiu em um percentual de 38,36% enquanto a remuneração média do brasileiro, auferida pelo IBGE na PNAD contínua, expandiu 39,54%, uma recomposição importante na renda dos brasileiros nos últimos dois anos, compatíveis com os dois principais índices de inflação: IPCA (evolução de 36,62%) e o INPC (expansão de 37,02%). Contudo, para os demais indicadores, o rendimento do brasileiro ainda sobre muitas perdas, contudo, um item chama a atenção, justamente a energia elétrica, que para o período, sofreu alteração em patamares inferiores a 12% e, considerando a expansão da remuneração do brasileiro em patamares superiores a 38%, o brasileiro ganhou poder aquisitivo em relação ao preço da energia elétrica, único indicador deste estudo que evoluiu a patamares inferiores à evolução da renda do brasileiro entre 2018 e 2023.
Isso pode ser explicado pelas medidas adotadas pelo governo durante a pandemia, que congelou a tarifa da energia elétrica e promoveu a conta covid, com o objetivo de não prejudicar as distribuidoras de energia, sobretudo pelo fato de altas inadimplências na conta de energia elétrica durante a crise sanitária, dívidas essas que atualmente estão sendo negociadas no Programa Desenrola Brasil.
Ao que apontamos neste levantamento, em 2023 o brasileiro sentiu menos a pressão inflacionária sobre seus rendimentos, a renda do brasileiro acompanhou o ritmo dos principais indicadores de preços (IPCA e INPC) e teve aumentado seu poder aquisitivo em relação à energia elétrica, destacando aqui a necessidade de se racionalizar tal recurso sobretudo em período de forte escassez hídrica na região amazônica.
Tudo indica que o brasileiro e o rondoniense tiveram um 2023 mais confortável do ponto de vista da capacidade de consumo na relação renda e preços na economia. O custo de vida ainda é alto, mais os indicadores apontam melhoras nas condições de vida do brasileiro nesse final de 2023 quando comparado a fase pré e pós-pandemia.
*É economista – Corecon/RO 477; e professor na Unir