Morre ‘seo’ Kelé, um dos pioneiros de Ouro Preto e Vale Paraíso

Por Felipe Corona – especial para o Expressão Rondônia

Pai de 13 filhos, Clementino Ferreira dos Santos, mais conhecido como seu Kelé, nascido na Bahia e criado em São Paulo saiu de Mato Grosso para Rondônia em 1971. No ano seguinte, chegou a Ouro Preto d’Oeste. Pioneiro de Vale do Paraíso, cidade vizinha, morreu aos 96 anos, de causas naturais nesta semana.

“Naquela época, o administrador de Ouro Preto era o doutor Canuto. Tirei um lote e vim para aqui. Sem ter estrada, fiquei três anos aqui. O recurso era ir daqui a pé para o 31 e ir para Ji-Paraná. Naquela época nem era Ji-Paraná, era Vila de Rondônia. Aí apareceu umas caminhonetes e a gente ia até o pé da linha, a gente pegava a caminhonete e ia para a Vila de Rondônia. E estamos aqui até hoje” , disse ele em entrevista-homenagem para a Prefeitura de Vale do Paraíso no ano passado.

Ele seguiu relembrando o passado: “Abri o lote eu com os filhos e as filhas, agora estou só eu. A minha velha que me ajudou, já morreu há 20 anos. Sempre lutamos, desbravamos isso aqui, que era difícil o recurso. Era indo a pé que a gente andava, mas tô feliz até hoje. O Vale do Paraíso não tinha, era o Soteldo pegou aquele lote e doou ou vendeu para poder fazer o Vale do Paraíso”.

Seu Kelé explicou o surgimento da cidade: “Fui eu, um filho meu e o Benito que trabalhava lá no Incra. Nós fomos lá para poder ver. Naquele tempo era difícil porquê não tinha ponte. Era umas tábuas por ‘riba’. Estamos aqui até hoje. Estrada tem, tudo boa. Tô aqui vivo, com 95 anos e meio. Desbravei muita coisa e tô aí pra ajudar quem precisa”.

Perguntado o que ele espera para o futuro, ele respondeu: “Eu espero que aqui seja uma cidade muito boa. O povo que entrou aqui é muito trabalhador. Os meus vizinhos aqui, que é o Jornel, o seo Vicente, que já morreu. Aqui chamava de final da linha, aqui na minha casa. Tinha vezes que dormia 40 pessoas quando ia abrir lote”.

E finalizou: “Saía pra lá de madrugada, quando saía, era sexta-feira. Dormia aqui e quando apareceu o ônibus, que era do seu Luís, amanhecia o dia aqui e 06 horas pegavam o ônibus para a Vila de Rondônia. Hoje ninguém fala nisso, porque hoje tem carro, tem moto. Hoje tem tudo”.

Em nome do jornal eletrônico, expressamos as nossas mais sinceras condolências pela partida do seu Kelé e que o Deus misericordioso possa confortar a família e amigos nesse momento de dor e sofrimento. Que ele descanse na paz e luz do Senhor.