RO, Quarta-feira, 23 de abril de 2025, às 9:32






Há culpados pelo insucesso do censo demográfico em Rondônia

PORTO VELHO – Difícil digerir a má vontade da população rondoniense em receber agentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), concedendo-lhe dez minutos de seu precioso dia para dizer quem é. Menos de 900 mil pessoas se disseram vivas e em cores no atual censo demográfico. E já somos mais de 1,9 milhão de pessoas (ou mais?), a maioria, infelizmente ainda “fantasma” na estatística oficial mais antiga do País.

Aqui e no País, o fenômeno burro adiou as respostas da população, de 31 de outubro para o início de dezembro*.

Onde está o governador, onde estão seus secretários e assessores que trabalham diretamente com pessoas em programas sociais ou em outras ações que identifiquem pessoas? Não se viu nenhum apoio aos esforçados agentes do IBGE no sentido de serem melhor recebidos por moradores deste estado. Custaria dirigir-lhes umas palavrinhas pelo rádio, pela TV, pelo Waths App?

Agente do IBGE visita indígenas. Censo foi prorrogado até dezembro.

Nenhuma voz entre os deputados estaduais foi ouvida a favor da peleja do IBGE ao não ser recebida em lares ricos e pobres de Rondônia. Campeões na propaganda de seus feitos, os parlamentares emudeceram.

Ao censo falta o bom senso das autoridades. Por que razão se ocultam, impedindo ao País saber quantos somos, nossas cores de pele, nossas moradias e nossas rendas nesta parte da Amazônia Ocidental Brasileira?

Estão em campanha, e assim não se dedicam ao raio X deste norte brasileiro, optando por carregarem em outubro de 2022 a triste viseira que esconde o âmago do ser humano habitante desta “Terra de Rondon.” Só lhes interessa agora o voto obrigatório – isto fica bem claro.

Um estado com valor básico da produção agropecuária superior ao nacional; primeiro produtor de minério de estanho do País; maior fornecedor de energia elétrica para estados da região sudeste; exportador de látex para indústrias gaúchas, da França e até do Irã…

Rondônia é um estado plural. Desde o recorde de migrantes procedentes de Iporã (PR) nos anos 1980, àqueles que se fixaram em Machadinho d’Oeste quando inteiramos o primeiro milhão de habitantes, cada família protagonizou sua própria história.

Abri hoje velhas cartolinas e encontrei minha matéria no jornal O Globo em 1976, revelando que o presidente da Aliança Renovadora Nacional (Arena), deputado Francelino Pereira, estranhava o posicionamento do próprio ministro do Interior, Maurício Rangel Reis, cuja cartilha estabelecia a interrupção da corrente migratória.

Para quem não sabe, Francelino foi aquele piauiense inteligente sensato e solidário que proclamou a Arena “o maior partido do Ocidente” – algo agora buscado pelos próceres do partido político União Brasil –, mais tarde foi senador da República e depois, governador de Minas Gerais.

Com ele viajei mais de 8 mil quilômetros entre o Distrito Federal e alguns estados amazônicos, tendo a oportunidade de conhecê-lo melhor, notadamente o seu sentimento pátrio.

A visão de Francelino lhe permitia enxergar a fome, os efeitos dos fenômenos climáticos, e o bom exercício da diplomacia que fez dele e de outro ilustre piauiense, o ex-senador e ministro da Justiça Petrônio Portela, o apanágio do bem-querer. Eles foram dois dignos próceres do Brasil profundo.

Francelino Pereira
Maurício Rangel Reis

Volto à minha matéria n’O Globo, que dizia:

Porto Velho – Será muito difícil o Governo Federal e particularmente o Governo do Território de Rondônia conseguirem conter o fluxo migratório, pois a região Norte oferece grandes perspectivas para investidores de outros estados e do Brasil.

A opinião é do presidente nacional da Arena, deputado Francelino Pereira, discordando do ministro Rangel Reis – que pretende desencorajar a próxima corrente de famílias que estiver disposta a rumar para Rondônia por estrada de rodagem.

Francelino disse no sábado em Porto Velho:

– Sabemos perfeitamente que se trata de um momento difícil para Rondônia, mas a medida me parece até certo ponto impossível de ser praticada. Não se pode estimular, por outro lado, a migração desordenada que é, acredito, a que se verifica hoje no Território.

Francelino acha que o Governo deve prosseguir, com urgência, na sua política de criar estrutura capaz de responder definitivamente aos grupos humanos que se deslocam para o Território e desejam ali construir a grandeza local, enriquecendo também.

– Rondônia se transforma rapidamente – disse Francelino – num polo de desenvolvimento, constituindo-se em mais um desafio para ação governamental. Há necessidade de uma concentração “mais acentuada de recursos no Território, o que poderá ser feito sempre de acordo com as disponibilidades financeiras do Governo.

Depois da lembrança dessa sofrida, porém gloriosa migração, a viseira seria atirada no lixo e o governo estadual apoiaria o IBGE na composição do necessário “retrato nacional” que se faz a cada dez anos?

MONTEZUMA CRUZ
Com fotos do Acervo IBGE, Kim-Ir-Sen Pires Leal e Reprodução de O Globo em 1976

* A Agência Brasil, órgão oficial de notícias do Governo do Brasil, informa: segundo o diretor de Pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo, apenas cerca de metade da população estimada do Brasil foi recenseada de 1º de agosto até agora, por isso decidiu-se prorrogar o prazo dos trabalhos. E o IBGE informa: desde o início da operação, em 1º de agosto, até 2 de outubro, foram recenseadas 104.445.750 pessoas, em 36.567.808 domicílios no país. Destas, 42,0% estavam na Região Sudeste; 27,0% no Nordeste; 14,3% no Sul; 8,9% no Norte e 7,8% no Centro-Oeste. Até o momento, 48% da população recenseada eram homens e 52% eram mulheres.

Dê um duplo clique no vídeo para ativar/desativar o áudio.



spot_img


+ Notícias



+ NOTÍCIAS