PORTO VELHO – Cinquenta anos atrás, em 24 de setembro, falecia no Hospital de Base, em Brasília, o Mestre Gabriel, fundador da União do Vegetal. José Gabriel da Costa foi um baiano nascido em Coração de Maria, que em 1922 pertencia ao município de Feira de Santana.
O seringueiro José Gabriel trabalhou em seringais do Acre, Rondônia, e em território boliviano. Na Capital de Rondônia registrou em cartório uma associação que veio ser o embrião do Centro Espirita Beneficente União do Vegetal, hoje presente em todo o Brasil, nos Estados Unidos e em alguns países europeus.
O Mestre Geral Representante da UDV, José Carlos Garcia, escreveu numa nota (íntegra no final do texto): “A União do Vegetal, 50 anos depois, registra em sua história a trajetória de vida desse homem que, pela força e firmeza de seu pensamento, conseguiu vencer as adversidades e trazer a todos os seus discípulos a essência de seu legado, traduzidos no símbolo sagrado da Luz, da Paz e do Amor”.
Na simplicidade, Mestre Gabriel constituiu sua família desde os seringais, e nessa mesma condição se fixou em Porto Velho com a sua companheira Raimunda Ferreira da Costa, no início dos anos 1960. Foi enfermeiro no antigo Hospital São José, onde a conheceu.
Teve duas olarias na cidade. Sua produção de tijolos atendia ao comércio e à população de Porto Velho, então com menos de cem mil habitantes. Uma das empresas freguesas era a extinta Construtora Alfa, cujo sócio, José Luiz Oliveira, aproximou-se dele no bairro Olaria, no dia em que se encarregara de encomendar um carregamento.
Um dos seus primeiros discípulos, o então empresário José Luiz era chamado de “compadre” pelo Mestre Gabriel. Começou a beber o chá hoasca na casa dele e se tornou um dos chamados “mestres da Origem”.
Contam seu filhos e netos, todos eles atualmente sócios da UDV, que o Mestre Gabriel ensinava a não deixar nenhuma pessoa passar fome. Atendia à sua porta pessoas sem recursos, com as quais partilhava arroz, feijão e ovos.
O blog da UDV descreve José, como ele era chamado na infância: “Aprendeu a ler e escrever sozinho e foi pouco à escola – três meses. O professor disse a seu pai que não tinha mais o que lhe ensinar e, como não havia outra escola na região, José encerrou ali os estudos. Aos 20 anos foi para Salvador, trabalhou no comércio e também como condutor de bonde. Na Capital, conheceu algumas religiões, “procurando uma realidade”, como disse a seu irmão, Antônio Gabriel. Lá, frequentou terreiros de candomblé, onde se apresentava como Sultão das Matas. Aos domingos, jogava capoeira na praia de Amaralina, onde era chamado de Zé Bahia e conhecido por sua agilidade”.
Prossegue o blog: “Sua estada em Salvador não durou muito. Em meio à Segunda Guerra Mundial (1943), o governo brasileiro, visando aumentar a extração do látex das seringueiras, nativas na Floresta Amazonica, recrutou um exército de soldados da borracha e deu opção aos jovens nordestinos de irem para a Amazônia, colher seringa. Em 1944, sem ter oportunidade de despedir-se, José Gabriel escreve uma carta para sua família e embarca em um navio para Belém (PA), com destino à Porto Velho, então Capital do Território Federal do Guaporé, hoje Estado de Rondônia”.
O blog da UDV conta, e a história circula nos Salões do Vegetal em datas festivas, revelando que o Mestre Gabriel bebeu o Chá Hoasca pela primeira vez em 1959, com um senhor chamado Chico Lourenço. Pouco tempo depois, começou a distribuir o Vegetal, inicialmente para sua família e para outros seringueiros que trabalhavam na região. “Em 22 de julho de 1961, ainda nos seringais, Mestre Gabriel realizou uma sessão e anunciou a criação da União do Vegetal, dando início ao trabalho de desenvolvimento espiritual de seus discípulos, ao qual ele se dedicou até desencarnar, em setembro de 1971”.
“Em janeiro de 1965, após a criação da União do Vegetal nos seringais, Mestre Gabriel vai com sua família para Porto Velho. Lá, com sua esposa Raimunda Ferreira da Costa e seus filhos, deu continuidade à obra religiosa da UDV. Novos discípulos chegaram e foi fundada então a Associação Beneficente União do Vegetal. Logo teve início a formação da estrutura interna da União do Vegetal. Mestre Gabriel criou o Quadro de Mestres e o Corpo do Conselho.
Em 1967, o Mestre Florêncio Siqueira de Carvalho, um dos primeiros mestres formados na UDV, foi autorizado a distribuir o Chá em Manaus (AM), “De Manaus, a União do Vegetal vai circular o mundo”, disse Mestre Gabriel. A previsão do seu criador vem se concretizando. A partir de Manaus (AM) a UDV seguiu expandindo-se no Brasil e no exterior”.
A nota do Mestre Geral Representante, José Carlos Garcia:
Há 50 anos Mestre Gabriel deixou o Plano Material
Em 24 de setembro de 1971, há exatos 50 anos, em Brasília (DF), despedia-se deste plano material José Gabriel da Costa, conhecido como Mestre Gabriel, criador da União do Vegetal. Um homem que trazia consigo princípios espirituais de grande valor, mantendo-se respeitado pelo cumprimento de sua palavra, pelo seu exemplo de firmeza e humildade, pelo amor que demonstrava ao próximo e por tantas outras qualidades que resultaram na continuação de sua Obra, criada com o objetivo de construir uma paz no mundo.
A sua partida deste plano, aos 49 anos de idade, deixando sua companheira, Mestre Pequenina, e filhos, assim como seus discípulos, em um momento de dor pela perda de seu ente querido, registra a certeza de que o conhecimento e a sabedoria desse homem simples não se limitaram ao número de anos em que esteve nessa encarnação. Mestre Gabriel deixou, assim, plantado no coração de sua família e de seus discípulos o amor pela Obra criada, o que resultou no firme propósito de sua continuidade.
A União do Vegetal, 50 anos depois, registra em sua história a trajetória de vida desse homem que, pela força e firmeza de seu pensamento, conseguiu vencer as adversidades e trazer a todos os seus discípulos a essência de seu legado, traduzidos no símbolo sagrado da Luz, da Paz e do Amor.
Mestre Gabriel continua nos ensinando o caminho do bem, ao se fazer presente em nossas vidas a cada vez que comungamos o Vegetal, favorecendo a nossa ligação com o Divino, em uma conexão com a essência de nossa espiritualidade, mostrando que se mantém vivo no coração de cada discípulo que busca, verdadeiramente, conectar-se a este caminho que conduz à salvação.
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MONTEZUMA CRUZ
