RO, Sábado, 04 de maio de 2024, às 19:59



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Gasoduto Brasil-Bolívia, que tanto trabalho deu, é hoje um negócio bilionário

Montezuma Cruz

Eu era repórter do jornal Correio do Estado e correspondente da Folha de S. Paulo em Campo Grande (MS), quando os ex-presidentes Ernesto Geisel (Brasil) e Hugo Banzer (Bolívia) assinariam o Acordo do Gás, 47 anos atrás. A cada semana recebíamos fartas informações de Santa Cruz de la Sierra e Corumbá. O Alemão foi um grande estrategista.

Por essa razão me causa náusea quando leio fakes esculhambando os ex-presidentes Evo Morales, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, que não fizeram mais do que cumprir rigorosa e proveitosa política de relações internacionais que conduzem àquele dito popular: “O Brasil não deve virar as costas aos seus vizinhos.”

A história tem componentes socioeconômicos desconhecidos, ou por total desinteresse das pessoas, ou mesmo porque se realizam espalhando falsidades. Pouco estudam, pouco investigam, pouco leem, não querem aprender.

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Nesta segunda-feira, a agência Reuters informa que a Petrobras está próxima de um acordo com a EIG Global Energy Partners para a venda do controle da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil, segundo três fontes com conhecimento do assunto. Trata-se do Gasbol , cuja capacidade de transporte alcança até 30 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural vindo da Bolívia.

A EIG deve pagar entre 500 milhões de dólares e 1 bilhão de dólares pela participação de 51% da Petrobras na TBG, segundo as fontes, que pediram anonimato para revelar discussões privadas. A TBG é proprietária e opera o trecho no Brasil do gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), que tem aproximadamente 2.600 quilômetros, incluindo a rede de transporte no Sul do país – diz a notícia do dia.

Aquela obra projetada por Geisel e Banzer no passado está fadada a entrar nas calendas da história do povo desmemoriado. Justamente agora, quando começam a ser debatidas as eleições presidenciais no Brasil.

Em 2021, ainda conforme a Reuters, a EIG vendeu uma participação de 27,5% na TBG para a belga Fluxys por um preço não revelado. Era uma condição para que pudesse entregar proposta para a compra de controle do gasoduto. Em 2019, a Petrobrás vendeu a TAG, que opera principalmente no Nordeste, para a francesa Engie e o fundo canadense CDPQ por US$ 8,7 bilhões.

O Gasbol é uma via de transporte de gás natural entre a Bolívia e o Brasil com 3.150 quilômetros de extensão, dos quais, 557 km em território boliviano (trecho administrado pela GTB) e 2.593 em território brasileiro (trecho administrado pela TBG).

O gasoduto tem seu início na cidade boliviana de Santa Cruz de la Sierra e seu fim na cidade gaúcha de Porto Alegre, atravessando também os estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, passando por cerca de quatro mil propriedades em 135 municípios. Está dividido em Trecho Norte (de Corumbá-MS a Guararema-SP) e Trecho Sul (de Paulínia-SP a Canoas-RS).

Em São Paulo, o traçado acompanha o rio Tietê, chegando a Campinas, onde se encontram as indústrias que, em 1999, foram as empresas pioneiras na utilização do gás natural boliviano. O trajeto é estratégico, pois passa por uma área responsável por 71% do consumo energético brasileiro, 82% da produção industrial e 75% do PIB.

Agora, alguns pontos que devem ser “martelados”, porque não estão em seu WathsApp:

  1. Em 2006, o presidente Evo Morales editou o Decreto Supremo 28.701[7] (Decreto Héroes del Chaco), em que impõe regras para os hidrocarbonetos, todos os derivados de petróleo extraídos no país. O decreto transfere a propriedade das reservas para a Bolívia e aumenta os impostos sobre a produção de 50% para 82%, entre outros tópicos.

2) O gás era extraído na Bolívia em campos anteriormente explorados por multinacionais (Petrobrás, Repsol YPF, British Gas e British Petroleum e a Total S.A. Estas  em seus lucros, provocando intensas críticas internacionais e discussões diplomáticas.

3) O conflito Bolívia-Brasil causado por esta situação foi resolvido com o ex-presidente Lula, quando reviu os antigos contratos de seu país com a Bolívia. A partir daí as relações Brasil-Bolívia passaram a ser cada vez mais amistosas e fortes no que se refere a hidrocarbonetos, inclusive novos contratos foram firmados entre os governos de Evo Morales e de Dilma Rousseff.

A QUANTAS ANDA RONDÔNIA 

Aqui em Rondônia, em 2017 a Rongás aprovou um plano estratégico visando ser indutor de uso comercial do gás natural, biogás e biometano, e com isso estimular o suprimento no estado, ao mesmo tempo em que melhorariam a gestão e a governança da empresa para futuros negócios, com agregação de valor para este segmento.

Há mais de dez anos, todos sabem, existe a expectativa de suprimento de gás natural em nossa região. Seria construído um gasoduto que transportaria o produto até Porto Velho a partir do campo de Urucu (AM), mas o projeto se inviabilizou. E a diretoria da Rongás anunciou ter optado “pela busca de formas alternativas e novas tecnologias visando a esse suprimento.”

As alternativas escolhidas para o suprimento são: o gás natural liquefeito (GNL) oriundo de fontes internacionais, com o uso do modal fluvial (Rio Amazonas e Rio Madeira); o biogás obtido através da biodigestão de biomassa e resíduos sólidos (aterros sanitários) e distribuição através do modal gasoduto virtual (rodoviário) para o gás na forma líquida ou comprimida.

No final de janeiro deste 2022, oministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque veio a Porto Velho lançar o programa de abertura do mercado de gás natural de Rondônia. Não se trata de utopia, mas serão necessárias base sólidas, inclusive ambientais, para se buscar outra vez a exploração lucrativa do gás natural nesta parte da Amazônia Ocidental Brasileira

Esse gás beneficiaria não apenas a indústria local, mas também toda população, que poderá ter acesso a mais esse combustível para uso veicular, residencial ou comercial. Nesse sentido, é de se estranhar a falta de aproximação entre a Federação das Indústrias de Rondônia (Fiero) e o Governo do Estado. Quase não se falam, quando deveriam andar de mãos dadas. Por quê?

Enquanto isso, a população vê sucessivos aumentos no preço do botijão de gás. Na recepção ao ministro das Minas e Energia, além do governador Marcos Rocha, compareceram: secretários estaduais, parlamentares estaduais e federais, diretores ministeriais e representantes de empresas ligadas ao setor de petróleo e gás natural.

O Sr. Bento Albuquerque saudou o novo marco legal que certamente trará novas empresas e agentes para Rondônia. “Até o ano passado só tínhamos uma única empresa, a Petrobras, hoje temos sete, entre elas uma na região do Azulão (AM), onde há 20m anos a Petrobrás descobriu gás natural”, ele disse na ocasião.

Número cabalístico o sete, mas faz parte da realidade promissora nesse campo econômico.

Albuquerque informou ainda às autoridades que o saudaram que a abertura do mercado de gás natural, 20 anos depois, revela boa produção. “É o mesmo que irá ocorrer com o potencial de gás que existe na Bacia do Solimões e do Amazonas, beneficiando, certamente, o Estado de Rondônia”, afirmava otimista.

O governador Marcos Rocha discursava: “Vimos a possibilidade e mudamos a legislação graças às ações também do governo federal, que quebrou monopólios. Já no final de 2021, tivemos a vinda de empresas e várias outras estão ingressando no nosso estado. Rondônia nunca mais será a mesma. O nosso estado será cada vez mais forte. E, fortalecendo o estado, estaremos fortalecendo o país”.

Geisel foi um grande estrategista. Resta aguardar para ver se os sonhadores e estrategistas de hoje darão vida de verdade à Rongás, cujo começo foi numa salinha simples do Edifício Rio Madeira.

A vida segue em Rondônia.






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