RO, Sábado, 18 de maio de 2024, às 3:47



RO, Sábado, 18 de maio de 2024, às 3:47


Fronteira, velho dilema sul-americano, reúne Castillo e Bolsonaro 5ª feira em Porto Velho

PORTO VELHO – Os presidentes Jair Bolsonaro (Brasil) e Pedro Castillo (Peru) se reúnem na próxima quinta-feira, no Palácio Rio Madeira, para tratar essencialmente de problemas fronteiriços no vizinho Estado do Acre. Embora sem agenda oficial confirmada, o governador de Rondônia e anfitrião, Marcos Rocha, poderá expor aos dois presidentes o panorama agropecuário do estado cujo valor básico da produção alcançou R$ 18,3 bilhões, superando o nacional. O Peru compra carne bovina do Acre e poderá importar mais de Rondônia.

Castillo e Bolsonaro deverão conversar a respeito do prolongamento da BR-364, passando pela Serra do Divisor, onde existe uma das maiores biodiversidades do mundo.

El Comercio, de Lima, noticiou hoje (1º de fevereiro) que no domingo (30 de janeiro), ao visitar Caballococha no fim de semana, em meio à renúncia do ministro do Interior, Avelino Guillén, Castillo queixou-se de críticas recebidas pela entrevista à rede norte-americana de TV CNN, quando afirmou que está disposto a “consultar o povo” se o Peru conceder à Bolívia acesso ao mar. “É um grito da Bolívia […] Agora vamos acordar, vamos consultar o povo, para isso precisamos que o povo se manifeste”, disse.

- Advertisement -



Rebanho bovino rondoniense cresce , aumentando as perspectivas de exportação de carne para o Peru

Castillo confirmou que abordará a questão das “deficiências de Caballococha” na reunião com Bolsonaro, no Palácio Rio Madeira, com a presença do governador de Rondônia, Marcos Rocha. Não se confirmou, ainda, se o governador do Acre, Gladson Camelli, participará ou enviará representante.

Em janeiro do ano passado, Camelli elogiou o acordo entre os presidentes Bolsonaro e Castillo, do Peru, beneficiando a a exportação da carne bovina brasileira para o país vizinho.

A supremacia da carne é rondoniense, atestam os números da Agrodados, que funciona na Secretaria Estadual de Agricultura. Ali está escrito que ao alcançar R$ 18,3 bilhões em 2021, o valor básico da produção (VBP) teve um aumento de 56,84% se comparado a igual período de 2020.

Na ocasião, o governador Marcos Rocha lembrava que a projeção do VBP fora para R$ 14 bilhões no quatriênio 2019-2022, mas, surpreendentemente, ele ultrapassou R$ 4 bilhões”.

ONDE FICA

Caballococha é a capital da província de Mariscal Ramón Castilla na região de Loreto (nordeste do Peru), fica na margem direita do Rio Amazonas, próxima a Santa Rosa (Acre), e tem pouco mais de 25 mil habitantes.

Castillo disse na visita a essa cidade: “Há demandas comuns na maior fronteira que nosso país tem e eu vou sentar e conversar, mas para deixar claro, vou sentar e conversar para servir a população e não ser mal interpretado. Alguns dizem, quando nos sentamos para conversar: “ele vai contra a soberania, vai dar o território peruano”. Resta dizer que vou dar o território também para o Brasil”, lamentou no discurso.

GABINETE BINACIONAL

Castillo chega a Porto Velho com a proposta de gabinete binacional com a participação de líderes e prefeitos das províncias fronteiriças do país. Nesse caso, Santa Rosa depende da autorização dos governos brasileiro e acreano, para participar ativamente desse debate.

Em entrevista à Epicentro TV, de Lima, o ex-ministro do Interior, Avelino Guillén disse ter tido “falta de apoio do presidente à sua gestão em meio a suas discrepâncias com o comandante geral do Partido Nacional Peruano, general Javier Gallardo”.

Governador Gadson Camelli
Governador Marcos Rocha

DIVISOR, NÓ GÓRDIO

Considerado uma das maiores reservas da biodiversidade mundial, o Parque Nacional da Serra do Divisor fica no Acre, na fronteira brasileira com o Peru.

Pouco tempo atrás, Bolsonaro desengavetou a pedido da bancada federal acreana, uma proposta polêmica no sentido de prolongar a BR-364 a partir de Cruzeiro do Sul  até o limite peruano, o que cortaria esse território ao meio.

Os repórteres Fabiano Maisonnave e Lalo de Almeida, da Folha de S. Paulo, estiveram na região, onde ouviram preocupações de ambientalistas, indígenas e ribeirinhos com o projeto. A mim, o professor de cinema e cineasta peruano Fernando Valdívia, explicava em 2014, que o projeto enfrentaria dura resistência, pelo menos entre os peruanos.

Segundo ele constatava, e a Folha, sete anos depois, temia-se (e teme-se) que o asfaltamento até a região da serra intensifique o desmatamento e invasão de terras indígenas e outras áreas protegidas. Valdívia filmou a região do Parque Nacional.

Biodiversidade da Serra do Divisor cortada por rodovia? Eis o dilema brasileiro e peruano

A retomada do projeto foi liderada pelo senador Márcio Bittar e pela deputada federal Mara Rocha. O maior agravante nisso tudo é que Parque Nacional seria rebaixado para o status de Área de Proteção Ambiental, o nível mais baixo de proteção dentro do sistema nacional de conservação.

Também Alexa Vélez, Vanessa Romo e Ítalo García, da Mongabay, lembram que a região (petrolífera) de Ucayali teve mais um agravante: a nova conexão rodoviária serviria para facilitar o tráfico de drogas na região da fronteira, aumentando o risco de violência armada e de conflitos com indígenas e comunidades.

Mongabay é um site que publica notícias sobre ciência ambiental, energia e design verde, e apresenta informações abrangentes sobre florestas tropicais, incluindo fotos e estatísticas de desmatamento para países do mundo.

Da mesma forma que os acreanos, o governo peruano também retomou interesse na proposta, estudando tirar do papel a conexão entre Cruzeiro do Sul (AC) e Pucallpa, Capital do Departamento de Ucayali.

MONTEZUMA CRUZ 
Com fotos do GEC/Peru, Daiane Mendonça (Secom-RO) e Ageacre






Outros destaques


+ NOTÍCIAS