RO, Domingo, 05 de maio de 2024, às 9:25



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Filme sobre Clube da Esquina registra as origens do movimento musical

Documentário 'Nada Será como Antes' abordaa a relação de amizade de seus integrantes

ENTRETENIMENTO – “É uma tarefa infinita”, observa Ana Rieper, ao comentar o currículo recheado de produções sobre a música brasileira. “Daqui a pouco vou ter que completar as lacunas dos estilos”, diverte-se a diretora de “Vou Rifar o Meu Coração” (brega) e “Clementina” (samba). Um passeio musical que ganhará novos capítulos em breve, com o sertanejo universitário, o funk e o Clube da Esquina.

Após passar por Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, produção será lançada ainda neste ano — Foto: Cafi/Paladina Filmes/Divulgação

O movimento nascido há mais de 50 anos em Minas Gerais, liderado por Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Fernando Brant, Toninho Horta, entre tantos outros, é tema do documentário “Nada Será como Antes – A Música do Clube da Esquina”, que será lançado neste ano. O filme já circula com sucesso em festivais de cinema, como Festival do Rio e Mostra Internacional de São Paulo.

“Enorme privilégio poder partilhar um pouquinho da experiência, da vivência e do cotidiano  dos nossos mestres”, registra Ana, que ganhou um importante aliado na realização do filme, com a participação de José Roberto Borges, filho de Márcio Borges e sobrinho de Lô. “Foi ele quem abriu as portas desse mundo para mim. Sem ele o filme não existiria”, salienta a cineasta.

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“Tenho uma afinidade, um interesse em achar os caminhos para dentro dos movimentos musicais, em pensar essas estratégias, em como representar a música em um filme. E o Clube da Esquina é uma música de nossa vida, é uma matéria de sonho. A gente procurou caminhar por esta estrada da sensibilidade para construir o filme”, registra, ao enfatizar que o documentário busca ser historiográfico.

“Não tinha um propósito central de contar a história, a origem, de onde veio, para onde foi, de como a carreira de cada um aconteceu. Essas informações vão surgindo à medida que se tornam relevantes para a gente entender a música”, detalha. Assim como em “Meu Nome é Gal” (2023), que aborda a Tropicália a partir das relações de seus integrantes, ela reforça os elos de amizade naquele seleto clube.

“Acho muito bonito como uma música tão sofisticada, tão única, tão musicalmente elaborada surge a partir de encontros que têm um certo tom muitas vezes até pueril. O Beto conheceu o Lô quando eles tinham dez anos de idade. Esse espírito de amizade, solto, alegre e afetuoso está ali dentro dessa música. Um espírito de encontro de esquina. É algo fora de qualquer compreensão que se possa ter”, afirma.

Ana Rieper explica que “Nada Será Como Antes” possui três grandes movimentos. O primeiro é justamente o que fala da história de como se conheceram e de como nasceu o nome de Clube da Esquina. “Um segundo momento, que para mim é o cerne do filme, é quando se mergulha na musicalidade deles. E o terceiro é quando que fala da música de Minas. Esse é o entendimento mais macro da construção do filme”.

Para o produtor ligado aos Borges, sempre foi um desafio fazer um filme sobre o Clube porque “o que poderíamos falar dele se tem uma música tão grande, que por si só já diz tudo?”. Mesmo sendo uma testemunha privilegiada de toda a história, ele conta que vários entraves surgiram pelo caminho, especialmente com Milton Nascimento, que, devido a compromissos contratuais, não pôde dar entrevista.

Depoimentos e imagens de arquivo do Bituca, porém, foram liberados – o que acaba não sendo tão perceptível devido ao entusiasmo evidenciado pelos outros integrantes. “Em relação aos outros, fui pego no colo mesmo. Eles foram super generosos. Com o Beto Guedes foi incrível. Quando eu cheguei à casa dele, o Beto estava indo almoçar e me deu a chave, dizendo para levar a equipe e botar as câmeras”, recorda.

Com a família Borges, José Roberto foi ainda mais longe, como ele mesmo admite.  “Com o Lô, fizemos três dias de gravação, tirando o couro do véio.  Meu pai deu vários pitacos o tempo todo, e acabou sendo creditado pela colaboração no roteiro”, sublinha. Márcio Borges, por sinal, faz a segunda câmera durante a entrevista – e algumas “palhinhas” – que reuniu parte da família.

“Isso foi uma ideia da Ana que ele topou muito. Ele tem essa veia de cineasta. Fala que virou músico por acidente, porque era para ser cineasta. Meu pai sempre foi um grande colaborador, tanto para a história do filme quanto para a história do Clube e de outros artistas. Ele costuma dizer assim: eu sou um bom poeta, mas eu sou um super colaborador”, relata o filho/produtor.

Ainda que tenha seguido os passos musicais do clã, José Roberto participou de uma dos momentos mais curiosos dos bastidores do disco inaugural “Clube da Esquina”, lançado em 1972. Aos  oito anos de idade, no estúdio da Odeon, no Rio de Janeiro, ele ficou frente a frente com ninguém menos do que Elis Regina, a principal cantora da época e contratada da gravadora.

“Nessa época, a gente ficava em casa cantando uma música da Elis, aquela que fala ‘Alô, alô marciano, aqui quem fala é da Terra’. Quando nos cruzamos nos corredores, o meu pai me pegou pelo braço e disse: ‘Agora você vai cantar para ela’. Ao final, Elis apertou a minha bochecha e disse ‘que fofo!’. Isso foi um marco. Aquele ambiente era normal para mim desde cedo”, reflete.

O produtor comenta que até hoje se pega analisando a dimensão que aquele encontro de amigos no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, tomou. “O Lô fala que (o Clube da Esquina) vai chegar a 100 anos e que  continuarão falando da gente… É uma coisa atemporal, eterna.  Tomara que a memória do povo não o deixe cair no esquecimento. O filme irá colaborar muito para isso”.






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