CACOAL (R0) – Atuando em parceria com o Centro Oncológico de Cacoal, a Associação Assistencial à Saúde São Daniel Comboni (Assdaco) mudou a realidade de toda a 2ª macrorregião de Saúde do estado de Rondônia quando o assunto é prevenção e tratamento contra o câncer.
Entidade sem fins lucrativos, a Assdaco é responsável pela gestão do Hospital São Daniel Comboni, em Cacoal. Uma missão que une diversos atores, entre voluntários, sociedade civil, agentes públicos e profissionais altamente qualificados e respeitados.
Entre esses profissionais, está a médica Márcia Oliveira, especializada em oncologia clínica pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), no Rio de Janeiro. “Em 2011 recebi o convite para vir conhecer o projeto da oncologia em Cacoal: o Hospital São Daniel Comboni que ainda não estava em funcionamento. O convite foi feito pelo doutor Olamir Rossini, que é médico radioterapeuta e que, em parceria na época com a Assdaco, foi responsável por montar, equipar toda a estrutura da quimioterapia e radioterapia do serviço para que os trabalhos pudessem ter início”, relembra a doutora Márcia, que chegou a Cacoal no ano seguinte, em 2012.
A médica lembra, inclusive, a data exata da primeira sessão de quimioterapia do interior do de Rondônia, realizada em 30 de janeiro de 2012, no Centro de Oncologia de Cacoal. “Hoje, aqui no centro, oferecemos o serviço de quimioterapia, que inclui outras formas de tratamento que chamamos de sistêmico, como: imunoterapia, terapias alvo direcionadas e outras. Além disso, temos o serviço de radioterapia, com suas inovações como a técnica IMRT (radioterapia de intensidade modulada), que será implantada em breve”, detalhou.
Sobre o funcionamento do Centro de Oncologia, ela explica que são prestados serviços tanto para o setor público, pelo SUS e são realizados atendimentos particulares, via convênios.
“No setor público, há uma parceria com o Governo do Estado de Rondônia, no Hospital Regional de Cacoal, onde é realizada toda a parte cirúrgica do serviço oncológico do SUS. Já a parceria com a Assdaco, funciona como chamamos de terceiro setor. É a parte filantrópica, que mantém o funcionamento da enfermaria oncológica, além de outras benfeitorias para que o paciente oncológico do SUS, da macrorregião 2, possa ser cada vez mais e melhor atendido na sua integralidade, que é o nosso grande desafio no momento”, relata a médica.
No mês de conscientização ao câncer de mama, o Outubro Rosa, a doutora Márcia foi convidada pela Assdaco para falar um pouco mais sobre o tema.
Confira a entrevista:
Ao longo dos últimos anos, quais as principais mudanças registradas no serviço oncológico em Cacoal? Houve melhorias?
Primeiro, é importante entendermos que os serviços de oncologia do país apresentam diferenças na sua composição, principalmente no que se refere ao atendimento do paciente do setor público. O serviço de Cacoal, hoje, é composto de basicamente 3 braços: o centro oncológico, responsável pela parte da quimioterapia e radioterapia e atendimentos ambulatoriais, o Hospital Regional de Cacoal, com a responsabilidade da parte cirúrgica do atendimento e a Assdaco, que funciona como o terceiro setor, o setor da sociedade organizada, que hoje é responsável pela enfermaria e por diversas outras assistências.
Desde a instalação do serviço, em 2011, considero que houve sim, muitas melhorias, principalmente relacionadas à chegada de muitos profissionais especialistas, tão escassos na época. O que sinto hoje é falta de integração e organização entre os setores, para que possamos avançar muito mais e buscar juntos, soluções para os problemas, que afetam principalmente os pacientes da rede pública.
Hoje como profissional da área, como você avalia a estrutura do serviço oncológico em Cacoal?
Hoje contamos com especialistas na região capacitados para atender os cânceres mais prevalentes, tanto no centro oncológico, como no Hospital Regional. Realizamos no centro os principais tratamentos sistêmicos, além da quimioterapia, como a terapia alvo e a imunoterapia. A radioterapia tem se modernizado e, em breve, teremos a instalação da modalidade IMRT.
Em relação à rede privada, a melhoria da parte hospitalar no geral na região nos possibilita atender com segurança a maior parte dos casos. O serviço atualmente tem capacidade e estrutura para atender às principais demandas da oncologia da macrorregião 2.
Vale ressaltar que a oncologia foi uma das especialidades médicas que mais evoluíram na última década em termos de tecnologia. Então, temos grandes desafios pela frente na luta pela incorporação das mesmas de forma eficaz e custo efetiva, principalmente no setor público.
Como você avalia a importância da Assdaco nessa caminhada? E como você define a parceria entre a Assdaco e o Centro Oncológico?
Eu considero a Assdaco como o pilar do serviço de oncologia na macrorregião 2. Sempre mencionei que foi graças ao projeto inicial da Assdaco que a oncologia se desenvolveu em todo o estado de Rondônia. A preocupação e interesse pela causa surgiu pela Assdaco.
A Assdaco, além de ser a idealizadora do projeto, exerce a importância do chamado “terceiro setor “na oncologia, que é o setor da filantropia, da sociedade organizada, necessários em todo serviço de saúde considerado de altíssima complexidade, como é o caso da oncologia.
Hoje no país temos vários “SUS” e dizemos que na oncologia: “o meu Sus não é igual ao seu Sus”. Esta frase faz referência a esta situação: os serviços que melhor funcionam no país são aqueles que têm um terceiro setor apoiando.
Este terceiro setor precisa ter conhecimento, informação e organização, porque é o setor capaz de se mobilizar, buscar recursos para projetos sociais e promover mudanças de políticas públicas, fazendo com que as leis sejam efetivadas na prática.
Este é um movimento que está crescendo e ganhando força em todo país e, no meu ponto de vista, é o que mudará a realidade do tratamento do paciente oncológico do SUS nos próximos anos.
Portanto, a Assdaco tem neste momento um papel fundamental neste processo e é uma associação já consolidada, que a meu ver tem potencial para realizar grandes projetos nos próximos anos, em parceria com o Centro Oncológico, Governo do Estado, profissionais envolvidos na causa e também com as associações de pacientes.
OUTUBRO ROSA – A SAÚDE DAS MULHERES!
Dra. Márcia, voltando à entrevista para o Outubro Rosa e a saúde das mulheres, quais os principais tipos de cânceres que acometem as mulheres? Se puder citar os 3 mais diagnosticados em Cacoal!
Os tipos de cânceres mais incidentes nas mulheres varia um pouco de acordo com os estados brasileiros. Para Rondônia, os mais incidentes nas mulheres, não contabilizando os casos de pele não melanoma, são: em primeiro lugar o câncer de mama, em segundo lugar o câncer de colo uterino e em terceiro lugar o câncer de colorretal.
Existe alguma estatística, uma média de quantas mulheres são diagnosticadas com câncer em Cacoal anualmente?
Sobre a estatística da macrorregião 2, não temos ainda estes dados contabilizados. A incidência de câncer de mama no país, nos próximos anos, é de mais de 70.000 novos casos anualmente e os estados seguem esta distribuição, de acordo com sua densidade populacional. Associado aos casos novos, nós temos aqueles que estão em tratamento, em seguimento e os casos que recidivam.
Para Rondônia, a estatística, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer, é de cerca de 320 novos casos para o ano de 2023, a cada 100.000 habitantes.
Qual a importância de se cuidar preventivamente?
Basicamente consiste em, ou evitarmos o surgimento de alguns casos de cânceres, quando têm lesões pré-malignas que podem ser detectadas e tratadas, ou até mesmo com as mudanças do nosso estilo de vida, adquirindo hábitos mais saudáveis, como controle de peso, alimentação, e atividade física regular. É o que chamamos de prevenção primária!
Em muitos casos não vamos conseguir evitar o surgimento da doença, porém podemos diagnosticá-la o mais precocemente possível, antes que ela tenha qualquer tipo de sinal ou sintoma no organismo. É o que chamamos de prevenção secundária. Este tipo de prevenção é feito através dos exames chamados de rastreamento, que devem ser feitos periodicamente, como é o caso da mamografia.
É importante ressaltar que para estes exames existem alguns padrões que são estabelecidos com base na população geral, mas o ideal é que este protocolo de rastreamento seja discutido com um médico, que irá estimar os fatores de risco de cada paciente.
O câncer é uma doença totalmente tempo dependente, o diagnóstico precoce possibilita estabelecer um protocolo de tratamento adequado, com maiores chances de cura e com tratamentos menos agressivos e, consequentemente, menos sequelas para os pacientes.
A quais sinais as mulheres devem estar mais atentas? E quando devem procurar ajuda?
A mulher deve conhecer o seu corpo, as suas mamas. Deve sim realizar o autoexame, se tocar. O surgimento de qualquer nódulo palpável, saída de secreção sanguinolenta pelos mamilos, alteração na textura da pele da mama, quando a pele fica “enrugada”, inversão do mamilo, caroço palpável na axila, deve levantar um alerta e fazer com que a mulher procure um médico para ser examinada e orientada.
A mulher não deve negligenciar estes sinais, porque mesmo que seja a doença, quanto mais precoce o início do tratamento, maior a chance de cura.
Lembrando aqui, que o ideal é que nenhum destes sinais estejam presentes no diagnóstico. Daí a importância dos exames de rastreamento, feitos periodicamente.
O cuidado vai depender dos fatores de risco que as mulheres acumulam ao longo de suas vidas, lembrando que existem os fatores genéticos e ambientais. De forma geral, o câncer de mama ainda tem como um dos principais fatores de risco o envelhecimento da mulher. Então, acima dos 40 anos, é necessária uma maior atenção.
Hoje, quais as chances de cura quando o câncer é detectado precocemente?
O tratamento do câncer de mama apresentou grande evolução na última década, tanto na parte cirúrgica, quanto nas novas técnicas de radioterapia e medicações sistêmicas. Temos um arsenal muito grande de recursos atualmente para tratar, curar e permitir que o paciente volte a ter uma vida pós câncer com qualidade.
Isto depende diretamente do estágio em que a doença é diagnosticada e, obviamente, dos recursos disponíveis. O fato é que a doença hoje, se diagnosticada precocemente e bem tratada, tem mais de 90 % de chances de cura.
Nossos grandes desafios são: acesso da população ao rastreamento adequado, tratamento precoce e bem planejado, incorporação das novas tecnologias e medicamentos de forma organizada e custo efetiva no SUS e reabilitação destes pacientes para que voltem à sociedade, aos seus trabalhos, com o menor impacto possível.
Giliane Perin, da assessoria da Assdaco, especial para www.expressaorondonia.com.br