RO, Terça-feira, 23 de abril de 2024, às 5:11



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Entrevista da Semana – Aos 73 anos, o dinossauro Beni Andrade é uma referência do rádio rondoniense, franco e assumidamente de direita

PORTO VELHO – Filho adotivo de uma família que o registrou como filho biológico, Benigno de Oliveira Andrade, nascido em 1949 na cidade de Votuporanga, no estado de São Paulo, o comunicador Beni Andrade, a inconfundível voz presente todos os dias no rádio de Rondônia é como uma fênix, com vários renascimentos. O último deles vem acontecendo há 40 anos, desde que por aqui ele aportou, em agosto de 1982, dois meses antes da primeira eleição geral no recém criado estado de Rondônia. Beni é um comunicador por vocação, a ponto de não se ver fora do rádio, sua maior paixão, ao lado da família nascida nestas paragens do poente e que já lhe fez bisavô.

De sua descendência, o mais conhecido é o também comunicador Dennis Andrade, que lidera a audiência de rádio nas tardes da capital rondoniense.

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Beni Andrade é casado com dona Maria das Graças Andrade há 52 anos e pai de Dennis, Thiago e Luciane, tem seis netos e um bisneto. Todos nascidos em Rondônia.

Depois de seis meses suspensa – a última que publicamos foi com a ativista ambiental Ivaneide Bandeira, mãe de Txai Suruí, a jovem indígena rondoniense que encantou o mundo com sua fala na COP 26 – a Entrevista da Semana deste expressaorondonia está de volta hoje, domingo, dia 15 de maio. E traz um fóssil da extinção que aconteceu na terra há 65 milhões de anos, mas que continua bradando seu vozeirão diariamente no rádio de Rondônia, que se adapta ao mundo atual distribuindo certeiros coices aos néscios que se atrevem a desafiá-lo.

Estou falando do comunicador Beni Andrade, um grande profissional de rádio que por aqui aportou no primeiro ano de Rondônia estado e há 40 anos tem sua voz ouvida todos os dias, seja no rádio, seja na televisão. Beni materializou-se numa testemunha dos acontecimentos de Rondônia nas últimas quatro décadas, acompanhando de perto ou noticiando.

Depois de fazer de tudo um pouco no rádio e na televisão, nos últimos 12 anos, Beni pode ser ouvido todos os dias a partir do meio-dia, na rádio Parecis FM, no ‘Papo de Redação’, onde ele, nos últimos anos encara a sapiência do professor Jorge Peixoto e, invariavelmente dispara o seu bordão: ‘é um idiota’.

Com isso, Beni Andrade foi democraticamente eleito presidente do Clube do Coice, embora seja um adorável dinossauro pairando na paisagem rondoniense do século 21, 65 milhões de anos depois de extinto.

Isso é que é resistência né?

Mesmo sendo um grande comunicador, Beni é refratário às modernidades digitais, como as redes sociais. Tem um facebook que fizeram para ele, mas ele não usa, não tem instagran, twitter, tik tok, nada. “Meu negócio é no aqui e agora”, resume, assim meio ‘Seu Lunga’.

Na última quarta-feira, 11, o editor Carlos Araújo, recebeu Beni Andrade na redação deste expressaorondonia para um bate papo de mais ou menos uma hora e meio que, agora transformado em entrevista, é disponibilizado aos internautas, com a trajetória de 40 anos deste piterossauro nas terras de Rondon.

Acompanhe a entrevista:

Expressaorondonia – Qual é o apanhado, o saldo desses 40 anos de Rondônia? Você me disse que chegou aqui mais ou menos em agosto de 1982, o ano em que teríamos a nossa primeira eleição geral no estado.

Beni Andrade – Exatamente. O interessante é que a maior parte da minha vida foi vivida aqui em Porto Velho, em Rondônia.  Então, sou mais rondoniense do que paulista. Vivi pouco em São Paulo, onde nasci, em comparação ao tempo de vida aqui em Porto Velho. Fico muito feliz porque acontece o seguinte: quando você chega num lugar estranho, mas com o propósito de prosperar, de se integrar aquela comunidade, e com seu trabalho contribuir para o desenvolvimento daquela cidade ou estado, é gratificante, porque hoje, olho no retrovisor, 40 anos se passaram, meus filhos foram criados aqui, meus netos nasceram aqui, meu bisneto nasceu aqui. Então, foi e tem sido positivo e digo sempre sem constrangimento: Porto Velho e Rondônia me deram o que São Paulo nunca me deu.

Expressaorondonia – E o que é isso que Rondônia te deu?

Beni Andrade – Deu respeito, deu oportunidades, me deu aquele fio de esperança de conseguir ser alguém na vida. Veja bem, quando cheguei a Porto Velho, eu não tinha onde morar, não conhecia ninguém, fui morar fui morar de aluguel, portanto, foi difícil. Mas, ao longo desses 40 anos, graças a Deus, hoje tenho onde morar naquilo que é meu, foi ali que abriguei minha família, criei meus filhos e estou ajudando criar meus netos. É gratificante também saber que tenho o respeito e admiração de uma grande parte da população e ainda uma imensidão de amigos que conquistei.

Expressaorondonia – Como foi a tua infância lá no interior de São Paulo em que momento você deixou o interior para ir para capital?

Beni Andrade – Minha história parece uma novela mexicana. Na verdade, nasci em Votuporanga e depois com aproximadamente 17, 18 anos fiquei sabendo que não era filho daquela família. A minha mãe biológica ela era empregada de uma família lá em Votuporanga, engravidou e eu seria o nono filho, mas parece que ela não tinha condição de me criar e a família para quem ela trabalhava tinha um sonho de ter filho homem, então fui adotado, inclusive citado no documento que eu era legítimo. Depois conheci a minha mãe verdadeira, mãe biológica e mais uma dezena de irmãos. Mas saí de Votuporanga em 1973. Fui para São Paulo e lá, consegui uma brecha no rádio ou na televisão, não é fácil. A concorrência é grande e aí vira aquela panela que para você romper é complicado. Neste mesmo ano fui trabalhar na empresa Alcântara Machado, que tinha concessão do Parque Anhembi e ali fiquei um bom tempo. Depois em 74, teve um concurso para locutor esportivo na rádio Gazeta, da Fundação Cásper Líbero. Tinha uns 200 concorrentes dos quais foram aprovados quatro. Fábio Prado, da Jovem Pan, Galvão Bueno, outro que não lembro mais o nome e eu. Fiquei um tempo na Gazeta e, naquela oportunidade, Galvão também ficou uns dois ou três meses e aí ele foi para o Rio de Janeiro e eu voltei para o interior São Paulo. O Galvão foi para Bandeirantes do Rio. Mas houve uma greve do pessoal do Departamento Esportivo da Globo e o Luciano do Valle é que transmitia a Fórmula 1 e como a situação ficou complicada. Mas o Galvão estava perto e deu no deu. Depois que voltei ao interior passei alguns anos na rádio Dirceu de Marília, cidade maravilhosa, onde também fiz grandes amigos. De repente, quando eu ganhei o prêmio Sanyo de Radialismo em São Paulo, eu já estava em Marília. Isso foi em 1982. Eu tinha como prêmio uma viagem ao Japão para conhecer a Sanyo, e na mesma época recebi o convite para vir para Porto Velho. A situação é que tinha de escolher se iria para o Japão ou para Porto Velho.

Expressaorondonia – Quanto tempo duraria a viagem para o Japão?

Beni Andrade – De três a quatro dias. Não tenho a menor ideia com relação a isso, mas o que houve foi o seguinte: o governador Jorge Teixeira tinha pressa. Eu pensei – se nem português direito sei falar o que vou fazer no Japão? Então, vim para Porto Velho. Vim para Rondônia.

Expressaorondonia – Você nunca se perguntou por que veio parar nesta fronteira do sol poente?

Beni Andrade – Nunca passou pela minha cabeça.

Expressaorondonia – Nesses 40 anos, nasceram seus filhos, netos, bisnetos, mas você passou a ser uma voz marcante no ouvido de muitos rondonienses e tem até trilha sonora. Pergunto o seguinte, como você se sente agora, 40 anos depois quando ouve os acordes de entrada do “Céus de Rondônia”, porque é a música mais identificada com duas vozes do rádio de Rondônia, a do Beni Andrade e a do Lenilson Guedes, por causa da marcha da apuração no tempo do voto no papel. O que você sente, principalmente pela identificação desse hino com aquela marcha das apurações, sua voz e a do Lenilson?

Beni Andrade – Muita emoção! Muita emoção! Quando o Luiz Rivoiro teve a ideia de usar como BG, como fundo musical da transmissão do trabalho de apuração, o Hino de Rondônia, a princípio houve resistência. Mas rapaz, o negócio pegou de uma tal maneira que é aquilo que você disse aí: acabou sendo uma identidade para nós. Porque você conversa com pessoas nesta nossa Porto Velho a primeira coisa que eles falam é que as apurações nós (a minha voz e a do Lenilson Guedes) não tem mais como separar. É muita emoção e até caem lágrimas, porque são pessoas que eu não conheço. Posso até estar errado, mas, para mim, é o hino mais bonito e comovente entre todos.

Expressaorondonia – Deve ser porque tivemos o prazer de participar desse negócio desde o começo, dessa transição. Cheguei aqui um pouco antes ainda 75, 76, quando ainda éramos o território mesmo. Tem, por exemplo, um dia que considero especial relacionado a audição do hino Céus de Rondônia e marca muito na minha vida. É o dia 16 de junho de 1981 quando o coronel Jorge Teixeira desceu de helicóptero daqui Porto Velho para fazer instalação dos municípios de Ouro Preto, que é onde eu morava, é a minha terra natal em Rondônia. Então, foram emancipados no mesmo dia, Ouro Preto, Espigão do Oeste, Presidente Médici e Colorado. Não sei se Costa Marques também. Lembro bem, eram seis da manhã, acordei com o Hino de Rondônia tocando no serviço de alto falante da cidade anunciando a chegada do Teixeirão. Isso ficou marcado.

Beni Andrade – Esse hino de Rondônia, não sei se onde ele ia eu ia atrás ou se ele me acompanhava onde eu ia. Fui transmitir as festividades do segundo aniversário de Colorado do Oeste pela rádio Caiari. Que coisa maravilhosa. Mas fazia muito frio. No dia seguinte para voltar para Porto Velho, voltamos num avião Navajo.

Expressaorondonia – Somos contemporâneos, pois comecei aqui em 1982, claro que não tinha experiência, era um aprendiz e você um profissional consagrado. O que você viu nesses 40 anos atuando no rádio, na imprensa, o que chamou sua atenção em Rondônia como profissional de comunicação.

Beni Andrade – Rapaz, você pegar por exemplo a Assembleia Constituinte. Vamos começar pela primeira eleição dos deputados, pessoas maravilhosas, confesso que tenho saudade daquele tempo de figuras como Amir Lando, o Mizael silva, Osvaldo Piana, Silvernani Santos. Eram pessoas de muita qualidade, identificadas com o estado naquele momento. O que me marcou também foi a determinação de um cidadão chamado Jorge Teixeira. Não esqueço da emoção da inauguração do Hospital de Base. Também me marca muito a transformação de Porto velho.

Expressaorondonia – Em que ponto houve essa transformação?

Beni Andrade – Virou uma cidade moderna. Não é aquela Porto Velho de 40 anos atrás. De repente, a cidade transformou quando teve um fantástico boom imobiliário. Quando você tira um tempo para ter uma visão periférica, percebemos     que essa transformação de Porto velho não tem nada a ver com administração pública, foi a iniciativa privada. Fico feliz porque você e eu vimos isso tudo e temos história para contar. Porto Velho e Rondônia sempre foi uma “teta”.

Expressaorondonia – Para você, nesses anos todos, com sua forte identificação com vários momentos políticos vividos pelo estado, qual o político que mais marcou Rondônia, afinal passamos por dez eleições desde 82.

Beni Andrade – Para mim, Rondônia teve dois grandes governadores. Jorge Teixeira e Ivo Cassol.

Expressaorondonia – Beni, hoje com mais de 50 anos de rádio, o que mais enche o saco, fazendo rádio todos os dias?

Beni Andrade – O grande problema atualmente são as redes sociais. O que tem de cientista, de figuras célebres, juízes, médicos, tem de tudo que você pensar. É impressionante, como diz o gaúcho (esqueci o nome dele agora), afirmando que a internet deu voz aos idiotas. E isso me deixa com o saco cheio. O cara sabe como acabar com a inflação, com a covid, tanto cientista e a humanidade precisando desses caras. Tem de tudo neste esgoto chamado rede social.

Expressaorondonia – A definição é mais ou menos essa “na internet todo mundo tem um oceano de conhecimento com um milímetro de profundidade”?

Beni Andrade – É isso aí e com mais um agravante. Você conhece a pessoa há 15 anos, tem uma amizade e a pessoa parece ética, de um caráter extraordinário, de repente você vira as costas por um motivo o outro, ele vai lá para rede social e ali mostra quem ele é. Ali ele mostra realmente quem é, ou seja, um mau-caráter safado. Perto de você é uma coisa e quando vai para rede social, ele se desnuda, somente aí percebemos a tranqueira. É uma decepção.

Expressaorondonia – Em que momento surgiu o bordão “É um idiota”?

Beni Andrade – Quem impulsionou foi o saudoso Sérgio Melo, que comprou a ideia. Nasceu por causa dessas besteiras que os idiotas fazem e falam. Tem de ser idiota mesmo para fazer e compartilhar tantas asneiras. O camarada propaga suas idiotices.

Expressaorondonia – E essa história dos dinossauros e por que dinossauros?

Beni Andrade – O Everton teve a ideia de fazer o Papo de Redação e então reuniu o Sérgio Pires, o Sérgio Melo, Léo Ladeia. Acho que foi no primeiro ou segundo programa, entrei no estúdio eu vi aquela velharada e eu falei não, não o quê? Rapaz, vocês são um bando de dinossauros e aí pegou.

Expressaorondonia – O que você espera do futuro e para o futuro de Rondônia?

Beni Andrade – Peço a Deus que Rondônia, o povo de Rondônia, tenha a inteligência e a sensibilidade de colocar os destinos do estado e de Porto Velho, nas mãos de pessoas realmente comprometidas. Quero empresários de visão, grandes empresas gerando emprego, bem-estar e paralelo a isso, que os políticos façam parceria com esses empresários para levar Rondônia para seu merecido e grande futuro. Tenho certeza que Rondônia é a bola da vez. E um pouco de calma, visão e aquela preocupação de saber para quem entregar o futuro do nosso estado.

Expressaorondonia – Beni, para você, o Brasil está correndo perigo?

Beni Andrade – Você pega esse estrago que andam fazendo na América do Sul. Estrago mesmo para acabar com tudo. Fico imaginando o porquê disso. Porque destruir o conceito de família? De propriedade? Da própria liberdade? Você ter a petulância de doutrinar crianças na sala de aula. Bota na ponta do lápis o que esse povo fez, olha o tamanho do rombo. Não consigo entender essas coisas. Gostaria de ver a juventude sonhando com um país melhor. Gostaria de ver as faculdades realmente ensinando,

Expressaorondonia – Beni, deixe uma mensagem para os leitores do expressaondonia, que certamente vão ter a honra de ler e conhecer um pouquinho da sua trajetória.

Beni Andrade – Deixar mensagem é bem complicado, mas eu gostaria de deixar aqui um referencial ao Brasil, um trecho da Oração aos Moços, de Rui Barbosa para os formandos da faculdade de Direito do Largo São Francisco em São Paulo. Nesta carta jovens tem um trecho que acho maravilhoso. Ele diz o seguinte – A pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo; é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade – As palavras do Rui Barbosa servem exatamente para que todo patriota brasileiro ouça e reflita.

Expressaorondonia – Obrigado pela entrevista

Entrevista e texto final: Carlos Araújo

Decupagem: Humberto Oliveira

Fotos: Carlos Araújo e arquivos/internet






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