RO, Quinta-feira, 02 de maio de 2024, às 19:58



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Duas ou três coisas sobre o filme ‘Toda nudez será castigada’ – Por Humberto Oliveira*

Humberto Oliveira*

PORTO VELHO (18-02) – A atriz Fernanda Montenegro passou meses pedindo a Nelson Rodrigues uma nova peça. Quando finalmente o autor entregou o texto, a dama do teatro brasileiro recuou alegando gravidez. É o que conta o biógrafo Ruy Castro na página 343 de O Anjo Pornográfico, biografia de Nelson Rodrigues. O dramaturgo não rompeu com a atriz porque Fernanda deu entrevistas elogiando a peça. “A peça até escandaliza, mas não admito que digam que é ruim”, afirmou Fernanda. Tereza Raquel recusou o papel por achar vulgar.

O dramaturgo convidou Rodolfo Mayer para interpretar Herculano, mas o intérprete de ‘As mãos de Eurídice’ também declinou. Quando o espetáculo estreou protagonizado por Cleyde Yaconis, a produção obteve grande sucesso de crítica e público.

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O sucesso de ‘Toda nudez será castigada’ não ficaria restrito aos palcos. Em 1973, o cineasta Arnaldo Jabor escreveu a adaptação para o cinema e dirigiu o longa, que na opinião dos especialistas é uma das melhores já feitas de uma peça de Nelson Rodrigues. Ponto para Jabor, que conseguiu transpor os diálogos de Nelson para a linguagem cinematográfica, ou seja, as falas ditas pelos atores filme soam naturais, sem, no entanto, perder a força do texto teatral.

Também pudera. Com o elenco sensacional arregimentado pelo diretor, o filme ganhou ainda mais em dramaticidade, sem parecer exagerado ou piegas. Para o papel da prostituta Geni a atriz Darlene Glória numa soberba interpretação. Paulo Porto, o viúvo Herculano, não fica atrás. Ambos protagonizam cenas e diálogos antológicas em situações até vexatórias como Geni em êxtase chupando o dedo ou Herculano se arrastando de quatro. Ou ainda, o banho numa banheira em Serginho, filho de Herculano, dado por uma das tias, a grande Elza Gomes.

Serginho, no filme vivido pelo ator Paulo Saks, que desde 1976 vive em Rondônia. Continua na ativa como ator e produtor, trabalha ainda no setor hoteleiro. Foi casado com a atriz Suzana Gonçalves, irmã de Suzana Vieira, de 1975 a 1997.

Em Porto Velho, Paulo Saks atuou no curta metragem ‘Amor de mãe’, seu trabalho mais recente onde interpreta um jornalista.

O elenco conta também com Paulo César Pereio, como Patrício, irmão de Herculano e um típico canalha da vasta galeria de personagens sórdidos criados pelo genial Nelson Rodrigues. É Patrício que apresenta Geni para Herculano e o responsável indireto pelo desfecho trágico da história contada em flashback por uma gravação de Geni que abre o longa. Isabel Ribeiro e Henriqueta Brieba também estão no elenco. Eles interpretam as outras tias de Herculano.

Arnaldo Jabor, morto aos 81 em consequência de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), realizou Toda nudez será castigada em 1973. Logo que entrou em cartaz o filme foi proibido pela censura. Mas no ano seguinte ao ganhar o Urso de Prata no Festival de Berlim, o longa acabou liberado e voltou ao cartaz. Toda nudez será castigada foi o filme nacional com a quarta maior bilheteria em 1973, com pouco mais de 1,7 milhões de espectadores. No Festival de Gramado, Toda nudez será castigada ganhou os prêmios de Melhor Filme, Melhor Atriz, para Darlene Glória, e Menção Especial pela música de Astor Piazzola.

No texto “Uma nudez compensada”, publicado em 1973, Paulo Emílio Salles Gomes, segundo quem Nelson Rodrigues até então teria sido muito mal adaptado para o cinema, à exceção de A falecida, de Leon Hirszman, escreve que o filme de Jabor “é um bom passo à frente na história das adaptações cinematográficas da obra do dramaturgo”. Diz ainda que o diretor “não teve a ambição de filtrar a ganga de Nelson Rodrigues para descobrir inesperadas riquezas. Ele procurou ser-lhe fiel, inclusive no sentido de não se aventurar além das aparências.

*É jornalista de formação e cinéfilo diletante






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