A expressiva derrota do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara dos Deputados, com 383 votos contrários à mudança no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), expôs como nunca a fragilidade de sua base parlamentar e acendeu um alerta vermelho no Planalto: há votos de sobra para aprovar um pedido de impeachment.
O recado do Congresso foi alto e claro: Lula perdeu o controle do tabuleiro político. A proposta rejeitada, que envolvia ajustes no IOF, foi vista como simbólica, mas teve impacto político devastador. A quantidade de votos contrários — bem acima dos 342 necessários para afastar um presidente — colocou em xeque a governabilidade do atual governo.
Centrão vira as costas
Mais preocupante que o número de votos foi quem votou contra. Deputados do chamado “Centrão”, tradicionalmente pragmáticos e alinhados ao governo de plantão, romperam com o Palácio do Planalto em bloco. Líderes partidários sinalizaram descontentamento com a articulação política, promessas não cumpridas e uma suposta falta de diálogo direto com o presidente.
“Essa votação mostrou que, se um pedido de impeachment entrar em pauta hoje, ele passa com folga”, confidenciou à reportagem um experiente articulador do Congresso, sob condição de anonimato. “Lula não pode mais contar nem com a velha guarda do MDB ou com parte do PSD.”
Clima de pré-impeachment?
Nos bastidores, parlamentares da oposição comemoram e falam abertamente em “clima de pré-impeachment”. A rejeição da medida fiscal foi interpretada como um termômetro da disposição do Congresso em reagir ao governo. É o pior momento político de Lula desde que reassumiu o Planalto em 2023.
Apesar disso, especialistas ponderam que a abertura de um processo de impeachment exige não apenas votos, mas também motivação jurídica concreta. “O impeachment é um ato jurídico-político. Hoje, há combustível político, mas o crime de responsabilidade ainda precisa estar bem caracterizado”, afirma o jurista Celso Andrade.
Planalto em chamas
Diante do desgaste, assessores próximos ao presidente correm para tentar recompor a base e conter o derretimento da governabilidade. Há pressão interna para que Lula promova uma reforma ministerial emergencial e abra espaço para novos aliados, especialmente dentro do Centrão.
Analistas avaliam que, se o governo não conseguir reverter rapidamente a perda de apoio no Congresso, outros projetos importantes poderão ser derrubados — ou pior: um pedido de impeachment pode ganhar tração popular e institucional.