MONTEZUMA CRUZ

PORTO VELHO – Sem alarde nem explicações que deveriam ter sido dadas pela gravidade da situação, em 9 de outubro de 2020 o governo estadual exonerou “a contar de 24 de setembro” o cabo PM da Reserva Denison Trindade Silva do cargo de coordenador de Unidades de Conservação da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental. Seria uma a mais, não fosse o galinheiro em que se metia o ex-servidor.

Em vez de explicitar a alardeada transparência, o governador Marcos Rocha justificou a exoneração apenas com base no leve inciso V da Constituição Estadual, quando poderia se valer da coleção de decretos anticorrupção e de conduta do servidor público caprichosamente elaborados por sua Controladoria Geral do Estado.

Bondoso, mas produzindo bumerangues, Sua Excelência não “carregou na tinta” contra seu ex-colega de farda, deixando-o no ralo das exonerações indigestas, daquelas que, quanto mais se fala, mais sujeira entra embaixo do sofá.

Agindo assim, o governador deixou ao largo as conversas telefônicas gravadas pela Polícia Federal da qual participaram um fazendeiro de Alta Floresta d’Oeste e um influente deputado estadual (des) coordenador de mudanças climáticas. Conforme aquelas gravações divulgadas em 2020 na Folha de S. Paulo pelo jornalista Fabiano Maisonnave, de um lado o ex-coordenador de Unidades de Conservação cobrava pela legalização da grilagem naquele município; de outro, o fazendeiro e um carimbado deputado estadual evidenciam o desejo de eliminar um procurador de estado!

A Controladoria Geral do Estado é campeã amazônica e disputa o campeonato nacional em matéria de decretos anticorrupção e de conduta de servidores públicos. Logo…

Existe transparência de fato, ou se aplicam os tradicionais dois pesos e duas medidas? No “guarda-chuva” que abriga farra de diárias, tráfico de influência e deduragem – todos nocivos à carreira do serviço público, há muito caminho a percorrer.

Se depender da Coordenação de Mudanças Climáticas na Assembleia Legislativa, a motoserra vence

Investigado por fazer parte de quadrilha que tentou grilar uma unidade de conservação, o deputado sugere numa das ligações telefônicas: “Passar fogo?.”

Polícia Federal e Ministério Público concluíram que o objetivo da quadrilha flagrada em plena operação era usar a unidade de conservação da reserva extrativista Rio Pacaás Novos, em Guajará-Mirim, para produzir créditos de desmatamento. Depois, esses créditos seriam vendidos a proprietários rurais de Rondônia que derrubaram ilegalmente suas reservas legais e precisam regularizar o passivo ambiental. A área da unidade de conservação estadual é de 64,6 mil hectares.

A armação também teve um componente surrealista: a oferta de lotes pelo OLX. Mais tarde passou a ser cobrada do governo a investigação sobre os negócios firmados com a empresa Permian Global – a que paga R$ 1 mil a cada família remanescente de seringueiros nas áreas extrativistas do Rio Cautário. Até hoje, nenhuma palavra a respeito.

Poucos perceberam a cena, e assim o Sr. Denison foi apeado do cargo silenciosamente. Desembarcou do seu lustroso automóvel para se dirigir à mesa de trabalho na Sedam, e lá encontrou seu substituto, o sargento Fábio França. Sorrisos amarelos para todos os lados, até mesmo na “transparente” Casa Civil, que por implicações legais deveria ter anunciado a medida enérgica de Sua Excelência o governador ao apear do cargo o falante cabo PM.

O simples ato de exoneração publicado no Diário Oficial eletrônico deixou ao largo as conversas telefônicas gravadas pela Polícia Federal. Conforme aquelas gravações, de um lado o ex-coordenador de Unidades de Conservação cobrava ao grileiro:  “E a nossa servidão?” De outro, o fazendeiro ávido por tomar imediatamente seus lotes dentro da Unidade de Conservação, demonstrou o desejo de eliminar um procurador de estado!

Falastrão, o deputado deu evidências de que “solucionaria” a pendenga se antes fosse melhor consultado pelo fazendeiro, e este não teria deixado claramente a contratação da pistolagem.

Nessa área ambiental há casos e casos, e alguns vêm de longe por causa da facilidade e da ousadia de determinados detentores de cargos públicos, bem remunerados, porém gananciosos até a tampa.

No momento em que o mundo debate cada vez mais profundamente os objetivos do milênio, o jeito é aguardar que alguém crie vergonha na cara e faça disso um paradigma.

Os brios acampados nos decretos oficiais não são os mesmos brios que a verdadeira transparência impõe aos seres humanos executores governamentais e legisladores de excelência. É preciso caminhar pela estrada do bem, antes que voltem a classificar o estado de “roubônia”.

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