RO, Sábado, 04 de maio de 2024, às 21:28



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Da paternidade opcional e da maternidade obrigatória: uma reflexão para o Dia dos Pais 

Itamar Ferreira*

PORTO VELHO – “Cuide da sua cabra que o meu bode está solto”, antigo ditado popular machista que significa: ‘não deixe sua filha sair sozinha de casa, não deixe sua filha usar short curto, não deixe sua filha ter amigos homens, porque “os meus filhos homens” estão soltos. 

Em nossa multissecular cultura machista a maternidade é uma imposição coercitiva obrigatória à mulher. Poderia se argumentar que isto seria uma condição imposta pela natureza, ser mãe, amamentar, proteger e cuidar de um filho, desde à gestação até, no mínimo, a idade adulta.

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Entretanto, esta mesma condição natural imposta à mãe também é imposta ao pai, pois, parodiando outro dito popular “quando um não quer dois não têm filhos”. A cultura opressora do patriarcado machista impõe, tolera e até incentiva a maternidade compulsória e a paternidade opcional. A própria mulher se obriga e toda sociedade cobra dela este “sacrifício”, para “o bem de todos”, menos o dela.

Esta maternidade obrigatória versus paternidade opcional está presente em todas situações; mesmo quando ambos os pais estão juntos, casados, pois à mãe cabe quase que com exclusividade todo o tipo de cuidado com os filhos e ao pai a mera presença em casa, sentado no sofá da sala assistindo TV, por exemplo, já terá cumprido “muito bem” o seu papel de pai.

“Amor que não se pede, amor que não se mede, que não se repete”. Cidade Negra

Nossa cultura machista, disseminada por toda sociedade e presente, em algum grau, em todos e todas, não cobra do homem uma participação mais efetiva nas tarefas domésticas, muitas delas geradas direta ou indiretamente pelo fato de se ter filhos.

Se com ambos os pais morando sob o mesmo teto a paternidade já é “opcional”, quando ocorre uma separação conjugal essa “opcionalidade” passa a ser quase que “um direito adquirido”. O sujeito pode ser totalmente ausente e um pai péssimo, que ele não deixará de ser um “bom” amigo, colega de trabalho, membro da igreja…. continuará a ser socialmente respeitado e admirado; pois não ser um bom pai é algo que nossa cultura tolera.

Que falar, então, dos “bodes soltos”, que se recusam a assumir a paternidade e a dar ao menos o sobrenome à filha/o? Nestes casos, convivência ou pensão alimentícia então nem pensar! Sequer esse tipo de postura paterna recebe reprovação ou rejeição social.

Há que se repensar o papel da paternidade e seria necessário aprovação de Lei que tornasse a paternidade tão obrigatória quanto a maternidade, que já é culturalmente imposta. O sujeito que se recusa ou dificulta o reconhecimento da paternidade, a dar o sobrenome e a contribuir com despesas ou que, após uma separação, opta na prática por deixar de ser pai, teria que sofrer uma sanção penal, pois esta é uma das mais cruéis formas de violência emocional: a rejeição paterna!

Felizmente a maioria dos homens são realmente pais, como o meu único irmão que ajuda a minha cunhada em todos os afazeres com os meus dois amados sobrinhos, a estes: FELIZ DIA DOS PAIS!!!

* É advogado e responsável pela Coluna “Reticências Políticas” 






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