RO, Domingo, 12 de maio de 2024, às 12:47



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Crônica sobre a minha mãe – Por Humberto Oliveira*

Humberto Oliveira*

PORTO VELHO – Minha mãe, dona Francilena, ariana até a medula, chegou ontem, 27 de março de 2021, aos 79 anos. Logo cedo, tipo 5h20 da manhã, liguei para lhe dar os parabéns por mais um ano de vida. Depois do inevitável feliz aniversário e muitos anos de vida, tivemos um breve bate papo sobre o passado, reminiscências perdidas nas brumas do tempo, mas que aqui e acolá, ela adora contar ou recontar, com nuances cada vez mais aprimoradas. Faz parte.

Dona Francilena contou que ao completar seus 15 anos – fato ocorrido há 67 anos, mas que ela lembra e conta com muito frescor. Voltando aos 15 anos da minha mãe. Pois é. Para comemorar, a versão jovem da minha genitora, foi até a igreja do Coração de Jesus, para assistir a missa das 16 ou 17 horas. Pois, minutos depois de sua saída, uma das torres, que naquele tempo já eram antigas, simplesmente ruiu, desabou e por sorte ou intervenção divina ninguém estava no local. Imagino o susto que ela tomou, aliás, os demais fiéis e quem passava pelo local.

Nesta época, naturalmente dona Francilena não conhecia seu Luciano, futuramente meu pai, que à época tinha apenas 17 anos e prestes a entrar para o serviço militar. No mesmo instante da queda da torre, vejam só, meu pai estava quase comprando o ingresso para assistir um filme no Cine Jangada – por sinal não existe mais. Se não falha a sua memória o filme em cartaz era um épico chamado A queda do Império Romano, do Anthony Mann. Seu Luciano viu a correria das pessoas e foi saber o que estava acontecendo. Então disseram que a torre da igreja havia desabado.

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Esqueceu do filme e seguiu para a igreja. Uma multidão já estava por ali olhando e especulando sobre o acontecido. Minha disse que subiu numa árvore para ver melhor. Seu Luciano e dona Francilena estavam há poucos metros um do outro e nem imaginavam que dentro de dois anos iriam se conhecer, namorar, casar e ter três filhos. Eu, o mais velho, Marcos, o do meio e o Nélio, o mais novo.

Há 13 anos, meu irmão mais novo, Nélio César, foi morto e minha mãe, como qualquer uma que perde um filho, para esquecer a tragédia resolveu voltar a estudar. Fez EJA e terminou o Ensino Fundamental, aliás com louvor e até ganhou medalha como uma das melhores da sua sala. Soube disso muito tempo depois. Assim como soube apenas hoje o caso da queda da torre da igreja. Ela contou que tirou notas ótimas em todas as disciplinas, mas no inglês precisou recorrer ao meu pai, autodidata nesta língua, que a ajudou e assim minha mãe passou por média. Lembrei que na minha época, seu Luciano também me ajudou muito com a língua inglesa. O pouco que sei aprendi com ele.

Minha mãe é uma figura. Às vezes é muito bem humorada. Às vezes, não. Estamos distante um do outro há 23 anos, desde que me casei e mudei para Porto Velho. Nos vemos a cada dois anos, no entanto, com a pandemia, talvez demore mais um pouco. Ela, assim como meu pai, recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19. Exultei de alegria quando me deram essa ótima notícia. Vi então uma luz no fim do túnel e reacendeu aquela fraca chama chamada esperança. Mas hoje, graças a Deus, minha mãe comemora 79 anos de vida. São muitas histórias. O que posso dizer é que a amo e agradeço a Deus por tê-la ainda comigo, mesmo ela estando em Fortaleza e eu em Porto Velho.

Agradeço pela vida e por tudo que fez, faz e sei que ainda fará por mim e por toda a família.

*É jornalista de formação e poeta diletante






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