RO, Sábado, 04 de maio de 2024, às 0:18



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Crônica de uma tragédia anunciada

Por Humberto Oliveira (*)

PORTO VELHO – Terminando de ler o livro Arrastados, sobre a tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais, da jornalista Daniela Arbex, lançado há pouco. A leitura tem sido uma das experiências mais tristes, pois é impossível não se emocionar com os relatos. 

A cada capítulo, a jornalista narra os bastidores do trabalho das autoridades no processo de identificação das vítimas. Relata as histórias comoventes sobre as vítimas, os sobreviventes, dos familiares e o heroísmo dos milhares de bombeiros que trabalharam diuturnamente nas buscas e resgates dos mortos nesta tragédia anunciada.

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Construir a memória coletiva do Brasil é um dos papeis fundamentais do jornalismo. Arrastados é uma recusa ao não esquecimento, porque esquecer é negar a história. Mas, mais do que esquecer a recusa, precisamos falar, dar nome, dar rosto, dar sobrenome. Devolver dignidade a essas pessoas que não tiveram direito nem de se manifestar. Na verdade, esse livro resgata uma história que faz com que a gente conheça exatamente o que aconteceu dentro de Brumadinho. Para que não se repita o que aconteceu.

O livro traz inúmeras lições. Ele traz exemplos grandiosos de solidariedade, de força, de competência de equipes da polícia científica, do corpo de bombeiros. Mas ele, também, faz um alerta importante. Nesse momento, há 122 barragens em 23 estados do país em estado crítico e que são verdadeiras bombas relógios prestes a causar novas tragédias.

Quando se fala de Brumadinho, falamos de uma tragédia anunciada, porque nove meses antes da barragem o plano de ação de emergências de barragem de mineração já tinha calculado, a Vale já tinha calculado que em caso de ruptura hipotética da barragem, em caso de aviso, ou seja, de alerta sonoro, cerca de 200 pessoas morreriam. A Vale sabia do risco de morte, tinha calculado, inclusive, quanto gastaria com as indenizações dessas mortes, e isso não foi suficiente pra que ela tirasse toda a área administrativa debaixo da barragem.

Com 326 páginas, Arrastados é o quinto livro de Daniela Arbex e tem prefácio de Pedro Bial. Mineira, de Juiz de Fora, a jornalista é autora de outros quatro livros: Holocausto Brasileiro (2013), que retrata os maus-tratos da história do Hospital Colônia de Barbacena administrado pela FHEMIG através do depoimento de ex-funcionários e pessoas ligadas diretamente ao dia-a-dia do funcionamento do local.

Cova 312: a longa jornada de uma repórter para descobrir o destino de um guerrilheiro, derrubar uma farsa e mudar um capítulo da história do Brasil (2015), Todo dia a mesma noite – a história não contada da Boate Kiss (2018), o livro conta a história desta tragédia de forma a honrar as vítimas e famílias. A partir de breves relatos de vários envolvidos, a longa noite e os dias que se seguiram tomam forma aos nossos olhos. Sentimentos misturados, angústia, revolta, luto.

*É jornalista de formação e cinéfilo diletante






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