RO, Domingo, 18 de maio de 2025, às 14:43






Com quantas lágrimas se faz um dorama? – Por: Humberto Oliveira

A trama da série é ambientada na ilha de Jeju (conhecida por suas plantações de tangerinas), na Coreia do Sul e retrata os altos e baixos da vida do casal

Humberto Oliveira*

PORTO VELHO – Depois de me emocionar com os doramas “A esposa do meu marido” e “Rainha das lágrimas”, pensei que estaria vacinado, mas ao assistir outra produção, no caso, “Se a vida te der tangerinas”, minha imunidade às lagrimas enfraqueceu de vez. Não que a produção seja recheada de momentos trágicos, nada disso. Trata-se apenas de uma simples, porém, bem contada e cativante história de amor.

Criado por Kim Won-suk (My Mister) e escrito por Lim Sang-choon (Para Sempre Camélia), o drama se passa na Ilha de Jeju e acompanha, por mais de seis décadas, a vida de Oh Ae-Sun (IU) e Yang Gwan-Sik (Park Bo-Gum), personagens que vivem um amor profundo, que começa na infância e atravessa gerações.

Ao acompanhar os 16 episódios, conhecemos a trajetória e os sonhos de On Ae-Sun, que desde criança sonha ser poetisa e de Yang Gwan-Sik, apaixonado por ela desde criança e capaz de mover mundos para protegê-la, inclusive da própria família. A série também homenageia a cultura e as tradições da ilha, mostrando a vida rural, os papéis de gênero e costumes locais e a vida das haenyeo, mergulhadoras que não usam equipamentos.

A trama da série é ambientada na ilha de Jeju (conhecida por suas plantações de tangerinas), na Coreia do Sul e retrata os altos e baixos da vida do casal, as dificuldades do dia a dia, os sonhos não realizados, a chegada dos filhos, os sacrifícios, mas sem apelos melodramáticos típicos do gênero, que tem conquistado milhões de espectadores.

Tudo que Gwan-Sik quer, e cada episódio mostra isso muito bem, é que Ae-Sun seja feliz, apesar das intempéries ao longo de mais de 50 anos de convivência. A mensagem é que o amor verdadeiro supera todos os obstáculos, inclusive o passar do tempo. Os personagens são pessoas simples e o enredo explora de forma sensível e hábil, temas como amor, amizade, família, sonhos, dedicação, e a importância de enfrentar os desafios da vida com otimismo e coragem.

A série conta com momentos tocantes, mas que não revelarei aqui, porém não darei spoileres, para quem ainda não assistiu. Mas posso garantir, sem medo de errar, é quase impossível não se sentir envolvido pelos personagens absolutamente pessoas comuns, vivendo vidas rotineiras, no entanto, a forma como isso é mostrado, realmente é apaixonante.

Mesmo os momentos, digamos trágicos, são mostrados com muita leveza e as interpretações, em meu ponto de vista, são excelentes, graças à naturalidade da performance dos atores. Todos estão bem, dos protagonistas às crianças, os idosos e coadjuvantes dão conta do recado.

Cinco destaques do elenco são as atrizes IU e Moon So-Ri que interpretam Ae-Sun em idades diferentes e Bo-Gum Park e Hae-Joon Park, que atuam como Gwan-Sik, jovem e adulto. Outra grande performance é da cativante Jeon Gwang-Rye, uma haenyeo, personagem da maravilhosa Yum Hye-Ran, mãe de Ae-Sun.

O título da série é uma brincadeira de palavras que substitui o limão pelo produto mais conhecido da Ilha de Jeju, a tangerina, e reflete o tema central da série: a vida e as dificuldades que enfrentam os moradores locais, e como eles encontram soluções e amor para superar esses desafios.

A produção foge dos clichês clássicos dos dramas românticos coreanos. Nada de herdeiros milionários ou amores impossíveis por conta de classes sociais. Em “Se a vida lhe der tangerinas”, o conflito vem da vida real: perda dos pais, dificuldades financeiras, pressão familiar e o peso das expectativas sociais.

Mas o mais bonito no enredo é que não é o amor romântico que salva a protagonista — e sim sua rede de apoio. Amigos, vizinhos e até parentes distantes formam a verdadeira “família” de Ae-Sun. Há cenas memoráveis em que senhorios enchem discretamente o pote de arroz da casa, para garantir uma refeição diária à família.
Ou quando vizinhos deixam alimentos à porta sem se identificar. Esses gestos simples e invisíveis de solidariedade tocam profundamente o público.

A série também se destaca por retratar três gerações de mulheres: a avó, marcada pela rigidez dos tempos antigos; a mãe, que sacrifica seus sonhos pela família; e a filha, que representa a esperança de uma vida com mais escolhas. A trajetória de cada uma delas mostra como o progresso só é possível quando vai evoluindo ao longo das gerações.

O drama entrega emoção e uma história de amor baseada na realidade e uma narrativa que celebra a força do coletivo em tempos de dor e esperança.

*É jornalista de formação, cinéfilo por opção e poeta diletante
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