RO, Sexta-feira, 17 de maio de 2024, às 20:27



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Chutando o balde – Por Por William Haverly Martins*

Podres poderes, tristes poderes, e o pobre povo, carente de tudo, especialmente de ideias, ainda discute sobre que lado seguir, esquerda ou direita, ressuscitando ideologias ultrapassadas

William Haverly Martins*

PORTO VELHO – Inferioridade mestiça – Sempre fui fascinado pelo trabalho do paisagista, ou do simples jardineiro. Mais de uma vez o criativo Burle Max arrancou de mim as melhores exclamações: quer sejam os jardins dos ministérios de Brasília, os do Rio de Janeiro, ou o da cobertura de um prédio de trinta andares, a genialidade da decoração natural, da mais extensa a mais simples, me entusiasma.

O jardim japonês com todas as suas plantas típicas, brilhantemente cenografado por Quentin Tarantino no final do KILLBILL 1, interagindo o som de uma roda d’água primitiva, feita de ferro e bambu, com a vegetação, o clima, o gestual das lutadoras a se investigarem a partir dos olhos, provocou-me um verdadeiro orgasmo múltiplo dos sentidos, não canso de repetir a cena na tela da TV só para sentir no âmago aquele barulhinho gostoso, enquanto meu olhos, trabalhando a imaginação, vão buscar as raízes daquele povo e, por um instante que seja, me sinto japonês pela via da emoção. Raízes! Como elas são importantes, elucidativas, como são valiosas na formação da identidade cultural de uma nação, de um estado, de um município, de uma academia, de uma simples associação. Pena que a fera humana, vez por outra, submerge ao consciente e se acha dona das verdades e as manipula em seu bel prazer, esquecendo do fator convivência que nos transforma em humanos, em possíveis semideuses.

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E pensar que esse povo japonês vem de uma recente 2ª Guerra Mundial, quando e onde foi cenário da experimentação de bombas atômicas, justamente porque se achava capaz de dominar o mundo, feito o imbecil Putin de hoje. O que nos empolga é que a mesma Hiroshima que foi destruída por uma bomba atômica, há quase 78 anos, ressurgiu das cinzas, transformando-se numa grande cidade, anfitriã dos países mais ricos do mundo, antigo grupo dos G7, que incluiu a Rússia, em 1998, para se transformar em G8 e agora vê-se arrependido, porque o recém incluído, vem invadindo países, destruindo culturas, em nome de um regime ditatorial à moda Czar/Lenin/Stalin/URSS.

A gente sabe que o povo russo desconhece a verdade dos fronts de batalha, porque Putin censurou os principais meios de comunicação e mexeu com o orgulho do povo, falando em retomar o império russo. Infelizmente o poder do arsenal bélico nuclear de Putin desencoraja o G7, no sentido de que Moscou e São Petersburgo se transformem em novas Hiroshima e Nagazaki.

E para não dizer que não falei de flores! De fato, gosto de jardins, quase sempre o jardineiro mistura várias espécies num mesmo canteiro com resultados surpreendentes, ainda que no fundo se entrelacem silenciosamente diferentes raízes: uma rosa vermelha convive com uma amarela, um cravo aceita uma margarida de parceira, que leva para a relação uma begônia. Pesquisas genéticas têm alcançado resultados cromáticos e estéticos sensacionais.

Pois bem, assim é a população dos inúmeros países, das cidades ao redor do mundo, cada qual tem a sua cultura, quanto mais variada a etnia, maior a miscigenação, maior a beleza. O Brasil, os EUA, o Canadá, são exemplos de países que se deram bem com a emigração. A diferença está na convivência, jamais na cor ou na espécie, as vertentes oriundas da inconsciência/consciência, modificando egos, a razão manipulando subjetividades normais e anormais, geradoras de preconceitos, invejas, hipocrisias, conflitos, amor, guerra e paz, enfim, o fator humano interagindo no relacionamento. Aparentemente os mongóis e os chineses são iguais, mas culturalmente estão a léguas de distância, sequer falam a mesma língua. O mesmo pode-se dizer de russos e de ucranianos ou de russos e finlandeses, tão próximos e tão distantes.

O Brasil, apesar do racismo estrutural e das distâncias sociais, talvez seja o melhor exemplo de uma miscigenação bem sucedida, por outro lado, desde os primeiros passos da nossa colonização as “raças” (pretos e indígenas), envolvidas nesta mistura, foram classificadas de inferiores, e, me causa espécie, intelectuais, no início deste século, ainda discutirem a mestiçagem como geradora de incompetência, ou o nosso posicionamento geográfico, como indicador de inferioridade, já que as ditas civilizações só poderiam se desenvolver no clima temperado.

O que nos transforma em inferiores é nosso nível educacional, nossa insegurança, a falta de saneamento básico e o comportamento dos nossos líderes governamentais, oriundos da demagogia e do populismo: saímos de um capitão tresloucado para um sindicalista porra louca, que se acha o senhor da paz, da guerra e da ressureição do verde natural, já que o verde artificial que veste o poder moderador, empalideceu, permitindo a invisibilidade e a inércia diante das carências populares.

Podres poderes, tristes poderes, e o pobre povo, carente de tudo, especialmente de ideias, ainda discute sobre que lado seguir, esquerda ou direita, ressuscitando ideologias ultrapassadas: a nossa melhor universidade é a 115ª do mundo. Nossos intelectuais ainda aplaudem Cuba, Coreia do Norte, Putin, Xi Jinping, Maduro, Daniel Ortega e outros ditadores, mas também se incluem, incoerentemente, entre os defensores do estado democrático de direito, demonstrando nosso nível de ingenuidade política. Ingenuidade intencional, demagógica, que visa o próprio bolso.

A comparação do nível de vida das populações das cidades dos países europeus e dos EUA e Canadá, com as cidades brasileiras sempre existiu. Ao longo das décadas fomos sendo classificados de inferiores e desenvolvemos voluntariamente um sentimento de inferioridade, segundo o ponto de vista de Nelson Rodrigues, um complexo de vira-lata.

O IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – ainda deixa muito a desejar, está baixo, mas estamos progredindo. A maior vergonha continua sendo a corrupção: a classe política não faz nenhum esforço para nos livrar deste terrível complexo de vira-lata internacional. Neste cenário, endossamos Nietzsche: a esperança é um sentimento sórdido. Quando aparecem vozes que incomodam o desenvolvimento da corrupção entre os podres poderes, eles cuidam de silenciá-las. Fizeram isso recentemente com o deputado federal e ex-procurador da Lavajato, Deltan Dallagnol, vergonhosamente cassado porque ousou protestar pela corrupção.

O povo perdeu o ânimo. Como não desanimar diante dos ditadores de toga?

*É professor, escritor, vice-presidente da ACRM (Associação Cultural Rio Madeira), ex-presidente da Acler (Academia de Letras de Rondônia), membro da AHMFPB (Academia de História Militar Forte Príncipe da Beira), fundador da ARL (Academia Rondoniense de Letras), onde ocupa a cadeira número três e recebeu o título de Presidente de Honra. ([email protected]






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