RO, Terça-feira, 07 de maio de 2024, às 14:05



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Bizarrus, um projeto restaurador, fundamental na ressocialização de apenados, retoma suas apresentações, sete anos depois

Maciel Silva de Oliveira foi outro que encarou o projeto como uma nova perspectiva de vida sem nem ao menos saber direito como seria o trabalho. Nova turma passou por audições e, depois de selecionada, iniciou os trabalhos na Acuda

PORTO VELHO – O filho assume o papel de pai e conta, por meio dessa dinâmica, um pouco de sua história. O exercício proposto pelo diretor teatral Marcelo Felice, leva dezenas de reeducandos do sistema prisional de Rondônia a se depararem com situações complicadas, um teste emocional logo no primeiro momento de contato. A audição é o primeiro passo para definir quem vai participar de Bizarrus, projeto inovador de ressocialização por meio da arte.

Desde que foi iniciado, há 3 décadas, o desafio do projeto é transformar pessoas que cumprem pena em atores que contam a própria trajetória no mundo do crime para o caminho de reintegração social. Grande parte dos que passaram pelo projeto são exemplos de como a arte, trabalho e terapias podem, de fato, modificar a história de homens considerados infames pela sociedade.

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Bizarrus se tornou destaque na mídia e foi apresentado em outros estados e até para reunião da ONU. Acabou se tornando um método de ressocialização da Associação Cultural e de Desenvolvimento do Apenado e Egresso. A Acuda oferece inúmeras atividades aos reeducandos e agora retoma sua atividade original com a montagem de um novo espetáculo.

“Mesmo com esse intervalo de sete anos, a sensação é de que nada foi interrompido, pois existe a paixão por fazer, que vem da alma, essa força interna que trará uma ressignificação a esse novo trabalho”, destacou o diretor Marcelo Felice, que havia se mudado para Belo Horizonte, mas voltou para retomar o trabalho. “A nova versão provocará reflexões para todos, pois continuo acreditando que a arte é um ferramenta fundamental, transformadora e de reflexão do ser humano”, ressaltou.

Setenta reeducandos passaram pela audição, que incluiu, ainda, teste de aptidão física e musical com profissionais consagrados na área artística como os bailarinos Emerson Cunha e Gilca Lobo e o músico Marcos Grutzmacher, além da fotógrafa Marcela Bonfim. 30 foram selecionados e já iniciaram, na primeira semana de setembro, o trabalho inicial de aclimatação com o espaço onde ocorrerão os ensaios, na própria sede da Acuda, a Associação de Apenados e Egressos do Sistema Prisional.

“Já tivemos exemplos concretos de como o projeto resgata homens de um sistema no qual a reincidência é regra. Ao cumprir a pena, muitos voltam a cometer delitos. O próprio sistema prisional convencional se estrutura dessa forma, já que foi tomado por facções. Por isso, eu acredito que, para quebrar esse ciclo de violência, é necessário ir além. A sociedade precisa pensar em como quer receber essa pessoa ao final da pena, porque ele, com certeza, voltará para o meio social, resta saber como”, refletiu Sérgio William Domingues Teixeira, juiz da Vara de Execução de Penas Alternativa-Vepema. O Magistrado acompanhou Bizarrus desde o início quando era titular da VEP-Vara de Execuções Penais, por isso fala com conhecimento de causa.

A volta do projeto foi possível graças a uma união de forças. A Secretaria de Justiça de Rondônia-Sejus, Tribunal de Justiça de Rondônia e Acuda são parceiros dessa empreitada, que deve estrear no ano que vem.

Expectativa

Para quem passou na audição e iniciou o trabalho, a chance única é mais que comemorada. É o caso de Marco Antônio Campos Vidal, que já cumpriu três anos e seis meses no sistema, tendo conseguido remir grande parte da pena tecendo tapetes. Nunca tinha ouvido falar no projeto, mas agarrou a oportunidade. “Foi surpresa para nós, por isso quero aproveitar essas portas que se abriram para mudar a minha vida. Eu sou do trabalho, quero trabalhar, cuidar da minha família”, declarou.

Maciel Silva de Oliveira foi outro que encarou o projeto como uma nova perspectiva de vida sem nem ao menos saber direito como seria o trabalho. “Quero mudar a minha vida, seguir em frente, ser outra pessoa, aprender cada vez mais com os professores”, disse. Ele conta que ficou foragido por três anos, tempo que aproveitou para trabalhar de servente de pedreiro, sempre sabendo que iria voltar para o sistema. “Tinha que pagar, né? Eu fiz esse propósito, e agora eu tenho essa chance, estou muito feliz”.

O trabalho de montagem do espetáculo é um longo processo que exige uma preparação técnica de muito trabalho. Conforme já realizado nas versões anteriores do projeto, o resultado é surpreendente, que pode ser conferido no premiado documentário produzido pela comunicação do TJRO.

Fonte: Assessoria de Comunicação Institucional TJRO






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