RO, Terça-feira, 29 de abril de 2025, às 10:56






Apagão atinge Europa, mas energia é restabelecida; entenda o caso

Autoridades de Portugal e Espanha disseram nesta terça-feira (29/4) que não há indícios de que um ataque cibernético tenha provocado o apagão do dia anterior, que deixou milhões sem eletricidade na Espanha e Portugal.
EPA | Transporte foi retomado na maior parte de Espanha e Portugal nesta terça-feira

A causa do apagão ainda é desconhecida, e está sendo investigada pelas autoridades. O governo espanhol negou indícios de ataques cibernéticos, mas disse que está investigando “todas as possibilidades”.

A operadora espanhola de eletricidade Red Eléctrica disse que dois eventos consecutivos, com um segundo entre si, provocaram os apagões — e afirmou que não houve indícios de erro humano.

A empresa não detalhou o que seriam os eventos. O diretor de serviços operacionais da companhia, Eduardo Prieto, disse que a rede elétrica conseguiu se recuperar do primeiro evento, mas não do segundo. Ele disse que a Red Eléctrica conseguiu reestabelecer a luz com uma operação de turbinas de gás e vapor.

Prieto disse que é “muito possível” que houve problemas na geração de energia solar, mas destacou que ainda não há informações suficientes para uma conclusão.

No entanto, o premiê espanhol, Pedro Sánchez, descartou problemas com energia renovável no apagão.

Nesta terça-feira, Sánchez disse que vai usar as investigações para reforçar o sistema elétrico espanhol. Segundo ele, o que aconteceu na segunda-feira “não pode se repetir nunca mais”.

Ele também disse que o governo vai cobrar “responsabilidade das operadoras privadas”.

Nesta terça-feira, a energia elétrica na Espanha foi quase totalmente restaurada e as subestações em Portugal foram reativadas após os apagões em massa registrados na segunda-feira.

O governo espanhol disse que serviços de telefonia e fibra ótica voltaram a funcionar em 90% do país.

O Aberto de Tênis de Madri, que havia sido interrompido, foi retomado nesta terça-feira.

Os grandes cortes de energia causaram grandes transtornos — e um estado de emergência permanece em vigor na Espanha.

Foram registradas cenas de confusão em estações de trem, e as aulas foram suspensas em muitas áreas da Espanha nesta terça-feira (29/4). Mais de 500 voos foram cancelados.

Na segunda-feira, o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, afirmou que “não há indícios” de um ataque cibernético, enquanto o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, alertou contra qualquer especulação enquanto as investigações não avançarem.

Mas na terça-feira, a Suprema Corte da Espanha anunciou que vai abrir uma investigação para determinar se houve ataques cibernéticos ou terrorismo envolvido no apagão.

Como o apagão começou

O enorme apagão atingiu Portugal e Espanha na segunda-feira (28/4) e provocou confusão e problemas em diversos serviços.

Andorra e partes da França também relataram cortes de energia.

Na Espanha, restaurantes e lojas ficaram sem luz, e o Aberto de Tênis de Madri foi suspenso.

Da mesma forma como em Portugal, o metrô parou de funcionar, assim como os semáforos, o que gerou um grande caos no trânsito.

Nas redes sociais, circularam vídeos de passageiros caminhando pelas estações escuras de metrô.

Os aeroportos também registraram cancelamento de diversos voos. A companhia aérea portuguesa TAP chegou a fazer um alerta para que passageiros não se dirijam ao aeroporto.

A entidade comercial que representa o setor elétrico na Europa disse à BBC que ocorreu um problema com a conexão de energia entre a França e a Espanha.

Kristian Ruby, secretário-geral da Eurelectric, também descreveu a interrupção como “algo muito, muito raro”.

“Houve um problema técnico específico que surgiu e, portanto, a rede espanhola foi desconectada da rede europeia mais ampla hoje mais cedo”, afirmou Ruby.

“Agora, a julgar apenas por essa situação, não se poderia imaginar que isso causaria um corte de energia em toda a Península Ibérica, então minha avaliação é que provavelmente houve outros elementos nessa equação que causaram essa situação.”

Nos dois países, centenas de pessoas correram para os caixas eletrônicos para sacar dinheiro, já que muitas lojas não conseguiam receber pagamentos com cartões.

“Um amigo disse que os caixas eletrônicos estão cheios, e todos estão sacando dinheiro físico por segurança”, relatou à BBC News Brasil a professora brasileira Laura Beatriz Faleiro Diniz, que vive no Porto, em Portugal.

A brasileira Nina Alves, que vive em Barcelona, conta que precisou caminhar por quase cinco quilômetros para voltar para casa.

“Tive que andar mais de uma hora para chegar em casa, porque não tinha metrô, nem táxi livre, os ônibus estavam todos apinhados de gente e o trânsito um caos”, relatou à BBC News Brasil.

Após chegar em casa, ela conta que foi até a escola dos filhos, muito preocupada, pois além da eletricidade, eles estavam sem telefone também. “Mas estava tudo bem, porque a escola tem gerador.”

“Depois começamos a andar pelo bairro, para tentar comprar comida que não precisasse ser cozida, porque nosso apartamento só tem forno e fogão elétricos. Mas todos os mercados estavam fechados. Achamos uma padaria aberta, mas que só vendia com dinheiro em espécie. E quem anda com dinheiro hoje em dia? Eu, pelo menos, não”, conta.

Ela afirma que a família acabou se alimentando com pães, biscoitos e sucos que já tinham em casa.

A Espanha declarou estado de emergência e diversas regiões solicitaram que o governo central assuma a ordem pública e outras funções.

Na manhã desta terça-feira, praticamente todas as áreas da Espanha estavam com a rede elétrica restabelecida. O mesmo aconteceu em Portugal.

Em Madri, a energia começou a ser restabelecida aos poucos na segunda-feira, a começar por algumas lojas e o metrô, assim como em Portugal.

Ainda assim, a interrupção de energia teve enorme efeito nos dois países.

Os serviços de trem continuaram suspensos, e milhares de pessoas ficaram presas ao longo do dia.

Lojas em algumas áreas relataram prateleiras vazias, à medida que as pessoas estocavam suprimentos básicos.

As autoridades tentaram projetar um clima de calma, mas, ao mesmo tempo, aumentaram a mobilização das forças de segurança.

Também pediram aos cidadãos que limitassem o uso de celulares, com as redes sob pressão, e que não fizessem viagens desnecessárias.

“Não saímos de casa, só para ir ao mercado, estamos tentando usar o celular com moderação para poupar bateria e poupando também a água que temos para consumo”, contou Laura Diniz, que vive no Porto.

“Nossa casa não tem água porque a maior parte dos prédios aqui contam com caixas subterrâneas, ou seja, precisa da bomba funcionar para a água subir, e essa bomba precisa de energia”, disse ela.

Pessoas com passagens para viajar a partir da estação de trem de Barcelona passaram a noite no local e ainda não conseguiram sair na manhã de terça, o que gerou uma frustração crescente.

Em entrevista à BBC News, Ariani contou que está na estação desde as 20h da noite passada com uma menina de 10 anos e “não obteve respostas” sobre quando elas poderiam começar a viagem marcada, cujo destino é a capital Madri.

Ela afirma que outras pessoas com passagens para hoje ganharam prioridade.

“Pessoas com trens às 5h estão chegando de banho tomado, dormiram em casa e vão direto”, disse ela.

“E nós dormimos todos no chão como cachorros.”

'Kit guerra'

No fim de março, a Comissão Europeia propôs que os europeus mantenham em casa “kits de sobrevivência” para 72 horas, como medicamentos, lanterna, pilhas, alimentos e dinheiro.

A iniciativa faz parte de uma estratégia para enfrentar desastres naturais, pandemias, ciberataques ou até mesmo uma guerra.

“Eu achei um exagero”, conta o brasileiro Marcelo Casarini, que vive em Caxias, a cerca de 20 minutos de Lisboa.

“Ninguém fez esse kit. Agora acabei gastando 98 euros (cerca de R$ 632) em enlatados, porque eu não sabia quando a energia ia voltar.”

“Há um tempo atrás o governo nos alertou a fazer kits emergenciais para 72h de reclusão e todos estamos pensado sobre isso agora”, contou Laura Diniz, que vive no Porto.

“Esse apagão aconteceu poucas semanas depois de a União Europeia mandar todo mundo comprar um ‘kit guerra’. Tem muita gente assustada”, afirmou Nina Alves, de Barcelona.

Em Madri, a professora inglesa Hannah Lowney disse que estava no meio da compra do supermercado quando a luz caiu.

“Os semáforos se apagaram. As pessoas estão deixando seus escritórios e indo a pé para casa, porque não sabem que horas os ônibus vão passar. Parece que ninguém tem ideia de quando a luz vai voltar. É um pouco preocupante que esteja assim no país todo, nunca passei por algo assim antes”, contou à repórter Barbara Tasch, da BBC News.

“É uma loucura, estamos tentando pagar por nosso almoço, mas está tudo desligado”, disse Emily Lansdown, uma turista na cidade.

Fotos circulando na internet mostraram grandes filas em caixas eletrônicos. Uma imagem mostrava um chef de cozinha que usava a lanterna de seu telefone para conseguir trabalhar.

Os apagões começaram pouco depois do meio-dia no horário da Espanha (8h no horário de Brasília), e atingiram diversas cidades nos dois países. A operadora nacional de trens, Renfe, disse que toda a eletricidade foi cortada às 12h30, e todos os trens pararam.

O prefeito de Madri, José Luis Martínez-Almeida, publicou um vídeo nas redes sociais pedindo que as pessoas se deslocassem o mínimo possível.

“Eu peço a todos os residentes de Madri que mantenham seus movimentos ao mínimo absoluto e, se possível, que fiquem onde estão. Queremos manter todas as estradas livres”, disse o prefeito.

Ele também pediu que as pessoas só entrassem em contato com serviços de emergência em casos de extrema necessidade. Quem não conseguir contato e ainda assim precisava de ajuda deveria se dirigir a delegacias, estações de bombeiro ou hospitais.

Em novembro de 2006, cerca de 10 milhões de pessoas ficaram sem energia elétrica após uma série de panes na rede da Alemanha, que atingiu diversos países do continente, chegando ao Marrocos e norte da África.

Na época, a empresa alemã de energia E.On apresentou um relatório afirmando que se tratou de falha humana na rede.

O apagão está relacionado a um ataque cibernético?

As autoridades de Portugal e Espanha têm dito que não há indícios de um ataque cibernético.

Mas para Joe Tidy, correspondente de cibersegurança da BBC News, a resposta simples é sim, pode ser um ataque cibernético, já que nunca se pode dizer “nunca” quando o assunto é vulnerabilidade das redes de internet.

No entanto, segundo ele, é muito cedo para confirmar os motivos do apagão — e é muito mais provável que algum tipo de acidente ou erro técnico tenha causado a interrupção no fornecimento de eletricidade.

Se de fato o evento está relacionado a um ataque cibernético, isso seria completamente sem precedentes em escala e impacto, avalia Tidy.

Redes elétricas já foram desconectadas no passado — duas vezes, até onde se sabe.

Na primeira delas, hackers patrocinados pelo Estado russo foram acusados ​​de causar cortes de energia na Ucrânia.

Dezenas de milhares de casas ficaram sem energia por horas no frio inverno de 2015.

O mesmo grupo é vinculado a uma ação repetida e bem-sucedida à capital Kiev, um ano depois do primeiro episódio.

Os dois ataques chocaram o mundo cibernético à época e foram extremamente sofisticados. Eles provavelmente envolveram meses de trabalho dos invasores.

Mas ambos foram localizados e corrigidos em poucas horas.

Se o que está acontecendo agora em Portugal e Espanha fosse algum tipo de ataque, seria uma escalada massiva do que se pensava ser possível, pontua o correspondente da BBC News.

Apagão atinge Europa, paralisa serviços e causa caos nos transportes

Fonte: BBC News

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