PORTO VELHO – Quando a covid-19 alastrou-se por todo o Estado de Rondônia, nos perguntamos: e os índios? E logo chegavam à Capital as primeiras tristes notícias, revelando que a pandemia também chegava às aldeias. Entre os Paíter Suruí, em agosto do ano passado, o coronavírus matou mais de 40 deles.
Muitos doentes foram atendidas pela Casa de Saúde Indígena (Casai) em Cacoal, a 470 quilômetros da Capital, quando a vacina ainda demorava a chegar.
“Já atingiu a gente, minha mãe, meu pai e minha irmã agora estão bem”, informava Carlos Marim ao repórter do expressaorondonia.com.br. Ipatara é pai dele, mais quatro homens e três mulheres. Sempre dedicado e altivo, o guerreiro voltou a estudar, apesar da idade avançada.
Agosto de 2021: Marim entra na caixa de mensagens do Facebook para avisar ao repórter: “Estou muito triste, meu tio foi embora”. Referia-se a Fábio Suruí, vítima da covid-19. Esse não resistiu ao ataque avassalador do coronavírus.
O coração do guerreiro Ipatara bate forte, mas sente alguma dor após a perda de outro integrante da velha guarda contactada em 1969, pelo sertanista Francisco Meireles.
Menos traumatizado, esta semana, o filho de Ipatara comemorou a vida dele, dizendo: “Meu querido pai é um herói de verdade, olha ele aqui estudando”.
Desde 2020, os Paíter Suruí receberam quatro Unidades de Atenção Primária Indígena, instaladas em Cacoal pelo Distrito Sanitário Especial Indígena de Vilhena. Começava o tratamento a base de oxigenoterapia em casos leves a moderados de covid.
Essa técnica auxilia na dificuldade respiratória de síndromes gripais e evita a remoção dos pacientes para a cidade.
Uma das Unidades destinava-se ao isolamento de pacientes infectados , e outras para tratar demais enfermidades entre os 1,4 mil indígenas Suruís atendidos pelo Distrito. O primeiro caso confirmado ocorrera em 26 de junho do ano passado.
Já o líder Almir Suruí se disse admirado com a boa notícia: diversos indígenas com idade acima de 30 e 50 anos, mesmo pressionadas pelo alastramento da doença, resistiram fortemente.
“Não sei bem as ervas e plantas que ele usou, mas o pajé Pepêra foi um dos nossos que preferiram recorrer aos conhecimentos da medicina indígena”.
Pepêra, com aproximadamente 80 anos, é um dos poucos pajés vivos de Rondônia. Quis lutar pela cura dentro de seu próprio território, e ali permaneceu, dando exemplo a outros igualmente corajosos.
Ele ainda vai relatar a maneira como se recuperou do coronavírus. Consultados, jovens Suruís com quem a reportagem do expressaorondonia conversou, dizem que ele tem alto conhecimento de remédios naturais, e deles fez uso desde quando fora atacado, no ano passado. Chás e garrafadas, por exemplo.
Infelizmente, desde a instalação das Unidades de Atenção Primária com seus modernos concentradores de ar, cilindro de oxigênio, macas e outros equipamentos, dezenas de indígenas fizeram parte das estatísticas enviadas pelo Estado de Rondônia ao Ministério da Saúde. Os concentradores de ar foram doados pela organização Expedicionários da Saúde.
Os mais de mil índios mortos pela covid-19 no País, antes da chegada das vacinas perfizeram a média de três mortes por dia, apontou levantamento da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
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