Carta aberta à Sra.
GLÁUCIA LOPES NEGREIROS
Secretária Municipal de Educação

Estimada

Dirijo-me à senhora para manifestar minha inquietude em relação à conservação de jornais e revistas na Biblioteca Pública Municipal Francisco Meireles, que é imprescindível para nós todos.

De alguns meses para cá tenho sido um “freguês” regular na consulta a jornais antigos e ali sou muito bem recebido pelo diretor, Sr. Carlos, demais funcionários, todos eles muito solícitos e dispostos a me auxiliar nas pesquisas.

Senhora secretária: sei que sabe da situação dessas publicações em sala fechada, sem ar-condicionado e na temperatura exigida para a correta conservação de publicações impressas, por isso o apelo. Faço isso, no sentido de prevenção, pois neste País, nem o Museu Nacional escapou de um incêndio em Petrópolis em 2018. Qualquer projeto de conservação e/ou preservação é “para ontem”, por causa de fatores que às vezes assim o exigem.

Caminhando entre as estantes mais próximas à vidraça da qual se avista o antigo prédio da Prefeitura Municipal, notei coleções soltando um pó preto da tinta de impressão, o que denota que os exemplares das publicações ali existentes vêm se deteriorando a cada dia.

Também frequento regularmente o Centro de Documentação Histórica, instalado numa sala refrigerada do Museu da Memória de Rondônia (MERO), antigo Palácio Presidente Vargas. Avalio que seja alto o custo da conta de energia elétrica paga pelo erário, a fim de manter as coleções intactas da maneira como estão desde que ali chegaram, apesar das perdas de páginas, recortes e outras mutilações.

O patrimônio do qual ainda dispomos para pesquisar a história de Porto Velho e de Rondônia corre sério risco de combustão, seja pelo superaquecimento ou por algum possível curto-circuito. Estudando situações, lembrei-me da explosão de um armazém de grãos em Santa Rosa (RS), tempos atrás, causada por curto-circuito e poeira circulante no ambiente fechado.

Senhora secretária: dentro da seção de Jornais e Periódicos da Biblioteca Municipal Francisco Meireles está guardada uma máquina de digitalização, e só ela poderá funcionar para que as coleções disponíveis sejam todas aproveitadas.

Não se trata, em tempo algum, de recriar a roda ou a pólvora. A senhora sabe o valor dessa máquina e dispõe, na Capital de Rondônia, de alguns profissionais que poderiam, mediantecontrato público e a preços acessíveis ao erário, operá-la o mais urgente possível.

Conforme disse, o sinal de uma deterioração piorada aparece quando os jornais “amarrados” por cartolinas começam a soltar pó. Ao mesmo tempo em que essa substância pode prejudicar portadores de alergias, causaria prejuízo tão grande e entristecedor: a perda da qualidade para serem levados à máquina de digitalização.

Leigo no assunto, o que me move também é ter sido um dia jornaleiro, na década de 1960, sabendo a qualidade de uma boa impressão, e hoje me deparo com o patrimônio construído pelo jornalismo rondoniense correndo o risco de desaparecer, inclusive pelo fogo.

Desta maneira, associo-me a todos os que conheceram a Biblioteca nos tempos em que nem ar-condicionado possuía, e às milhares de pessoas brasileiras e estrangeiras que a consultam a cada dia, e rogo a Vossa Senhoria agilizar dentro do possível o funcionamento da digitalização. Aí, sim, as consultas diárias pouparão os usuários de quaisquer problemas de saúde, e as coleções serão todas aproveitadas antes que se percam por idade.

Não se trata de pensamento catastrofista, porém, real: doei à Fundação Barbosa Rodrigues, em Campo Grande, um exemplar do velho jornal O Estado de S. Paulo, comemorativo ao centenário da Independência Brasileira, em 1972. Esse exemplar da edição de 7 de setembro de 1922 estava guardado dentro de um saco plástico, em casa, mas já se despedaçava.

Acreditando no êxito cada vez maior da Biblioteca Pública, certo de sua relevante importância à sociedade estadual e a todos mais vindos de países estrangeiros, quero crer que a senhora agirá com atenção, boa vontade e ação no sentido de conservar a imensurável riqueza do acervo impresso existente naquela sala.

Atenciosamente


MONTEZUMA CRUZ
Jornalista.
Visitante da Biblioteca desde 1976

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