RO, Terça-feira, 21 de maio de 2024, às 7:34



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A ingratidão fere e magoa

MONTEZUMA CRUZ

Em menos de 50 anos, mas com a diferença de décadas de atuação, diversos pioneiros ou benfeitores de Porto Velho e do Estado de Rondônia são pouco conhecidos da população. Pior, no atual período eleitoral o trabalho de um deles vem sendo criticado e insuficientemente reconhecido por quem mais deveria lhe voltar a atenção e o respeito.

Falo de dois cidadãos: o japonês Tsuguio Takigawa, que faleceu aos 103 anos; e Henrique Prata, empreendedor hospitalar, filantropo e fazendeiro. Desde a década de 1970, motoristas e empregados do comerciante Takigawa, de Presidente Prudente (SP), enfrentaram atoleiros e buracos, enxurradas e poeirão na velha BR-364, para abastecer Rondônia e Acre com hortifrutigranjeiros.

Prata, depois de uma visita do ex-governador Confúcio Moura a Barretos, foi convidado para instalar em Porto Velho um braço da Fundação Pio XII, e assim o Hospital Barretinho de combate ao câncer funcionou próximo ao Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro e à Policlínica Oswaldo Cruz.

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Os dois cidadãos aqui mencionados jamais podem ser vistos pelo aspecto monetário, mas pela necessidade de a população contar com dois fatores indispensáveis à sobrevivência: alimentar-se e lutar contra doenças quase incuráveis.

Tsuguio Takigawa

Takigawa recebeu de seus clientes o pagamento por seus carregamentos de ovos e verduras, embora muitas vezes tivesse prejuízos em consequência da precária rodovia. Sem qualquer acordo formal, ele fazia parceria com seus irmãos japoneses da extinta Colônia 13 de Setembro, a única a plantar, colher e vender hortifrútis nos mercados públicos da Capital rondoniense desde os anos 1960.

O experiente Prata, dirigente de uma rede de hospitais de combate ao câncer, vem sendo apoiado por pequenos e grandes criadores de gado que oferecem bovinos em leilões com renda revertida para o hospital. Da mesma forma, sempre obteve sem problemas a parcela financeira do governo do estado para quitar investimentos e principalmente a folha mensal de custos, sempre altos.

Até há pouco tempo, a consolidação dos serviços do Hospital de Amor da Amazônia vinha acontecendo sem falhas. Meses antes da campanha eleitoral ela abalou-se em consequência de atrasos no pagamento de parcelas mensais de recursos financeiros à Fundação Pio XII. E agora, por desavenças com o recém-eleito deputado federal Fernando Máximo, a quem não apoiou justamente devido à interrupção do compromisso governamental, virou notícia no horário nobre do TRE.

Antes fosse pela comida e pela doença, a notícia a respeito desses dois benfeitores de Porto Velho e de Rondônia. Não, infelizmente. Quis o ciúme ou quis a mágoa que não ocorresse diferente. Aliás, de Takigawa nunca na história política do ex-território e do novo estado um vereador ou um deputado sequer deixou o agradecimento ou lembrança nos livros de atas. Louvando exatamente aquilo que ele fez por cidades isoladas na região norte brasileira durante décadas.

Assim funcionam algumas instâncias do poder neste estado: cospindo no prato em que comem.

Quem foi o japonês na ordem do dia da Câmara Municipal e da Assembleia Legislativa? Zero à esquerda, nunca existiu. Prata, pelo visto, começa amargar uma situação causada não por caprichos ou excesso de zelo da Sesau, nem por falhas contábeis, mas pela desgraça do ciúme e da difamação.

Uns atacam, outros o defendem. No cômputo dos feitos da Fundação Pio XII, infelizmente, passam ao largo das análises as milhares de vidas salvas desde o momento em que o Barretinho iniciou seus inestimáveis e valorosos serviços.

O 2º turno terminará dia 30, às 17h. E depois desse evento político nacional, decreto, portaria ou resolução alguma irão impedir que as pessoas doentes de câncer fiquem nos corredores hospitalares ou agonizando em casa.

O ser humano fala mais alto, essas pessoas precisam do hospital. O melhor caminho é o diálogo, o entendimento, e menos orgulho, que resultariam em nosso bem-estar geral. Regra de todos os que se dizem cristãos.






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