RO, Segunda-feira, 19 de maio de 2025, às 15:43






Com cheia do Madeira, ribeirinhos enfrentam nova batalha por recomeço

Cerca de 11 mil pessoas de 30 comunidades ribeirinhas ao longo do rio foram afetadas

Comunidade Boca do Jamari — Foto: Edson Gabriel

PORTO VELHO — Famílias de cerca de 30 comunidades ribeirinhas em Porto Velho iniciaram, na última semana, a reconstrução e reorganização de suas vidas após a cheia do rio Madeira deste ano. A lama que invadiu as casas, a morte das plantações afogadas e a falta de água potável são alguns dos muitos rastros deixados pelo fenômeno climático.

Em abril de 2025, a cota atingiu 16,77 metros e afetou a rotina de cerca de 11 mil pessoas que moram ao longo do rio Madeira. Depois de quase dois meses acima da média esperada para o período, o nível recua gradualmente dia após dia, de acordo com o Serviço Geográfico Brasileiro.

A comunidade Boca do Jamari, distante cerca de 60 km da capital rondoniense, foi uma das mais afetadas pelo fenômeno. Após a vazão do rio diminuir, produtores rurais ribeirinhos, que vivem exclusivamente da plantação de banana, perderam grande parte da produção, pois as árvores ficaram submersas por muito tempo.

Anivaldo Gomes é um dos produtores que tenta salvar o que restou do seu sustento após a cheia. O agricultor se divide entre o trabalho na capital e a reestruturação da casa. A lama cobriu parte da sua propriedade e atingiu a plantação de banana.

“Pra conseguir sustentar minha família e pagar as contas, estamos tendo que comprar as poucas bananas que restaram de alguns agricultores pra gente poder vender lá na rua [cidade].

Durante a entrevista, o repórter pergunta — Anivaldo, o que você sente ao ver a plantação de banana toda destruída?

Emocionado, o agricultor responde — Não sei o que falar não, minha mão fala tudo, já.

Anivaldo Gomes — Foto: Edson Gabriel

Acrivaldo Olímpio produzia milho, melancia e banana. Sua propriedade ficou submersa por quase dois meses e, durante esse período, todo o investimento feito pelo agricultor foi perdido.

“A vontade foi de mais de chorar. Quando eu vi o desespero, não foi fácil não, perdemos tudo. Todo o meu sustento sai daqui, daqui que eu pago as minhas contas. Acredito que para recomeçar tudo de novo, terei que gastar uns seis mil reais” revelou Acrivaldo.

Acrivaldo Olímpio — Foto: Edson Gabriel

Durante a cheia, a Defesa Civil atendeu diversas pessoas no deslocamento de famílias de áreas de risco e na distribuição de suprimentos nas regiões mais afetadas. Atualmente, os agentes continuam enviando cestas básicas, água potável, kits de higiene pessoal e hipoclorito de sódio para as pessoas que estão retornando às suas casas.

No início deste mês, o governo de Rondônia anunciou que oferecerá um auxílio de R$ 3 mil por família para os impactados pela cheia dos rios em todo o estado. O valor será pago em três parcelas mensais. Além dessa ajuda, o governo informou que continuará com ações emergenciais, como a entrega de insumos e apoio técnico às famílias.

Comunidade Boca do Jamari — Foto: Edson Gabriel

Rio Madeira oscila de maneira extrema nos últimos tempos
Em menos de 6 meses, o rio saiu do menor nível da história, quando chegou a 19 centímetros de profundidade em Porto Velho (RO), em outubro de 2024 — nunca observado desde 1967 — e ultrapassou os 16 metros este ano. A mudança brusca de cenário é resultado do Inverno Amazônico, quando as chuvas se intensificam em toda a região Norte.

🌧️ Mas o que é o Inverno Amazônico? É mais ou menos quando começa o verão no Hemisfério Sul, no final do ano, que as chuvas ganham força na região Norte.

No início deste ano o cenário mudou completamente. As chuvas da estação, causadas pela Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) — faixa de nuvens que se forma na região equatorial do planeta a partir dos ventos alísios, que sopram dos hemisférios Norte e Sul — foram bastante volumosas, o que corroborou para a subida das águas.

No ano anterior, o fenômeno era oposto
Durante a escassez de água em 2024, as famílias ribeirinhas viram os poços amazônicos secarem, assim como o rio. Eles dependiam de carregamentos enviados pela Defesa Civil Municipal e as secretarias de assistência social de Porto Velho e do estado.

Muito ribeirinhos vivam com menos de 50 litros de água por dia para abastecer toda a residência. Onde antes só se navegava de barco, passou-se a se caminhar, pois a imensidão de água se transformou em um deserto de areia.

Os fenômenos observados tem preocupado especialistas, pois as oscilações vêm se tornando cada vez mais intensas e frequentes.

Atualmente, a região se despede do inverno Amazônico, prevista para terminar em maio. Por enquanto, as equipes seguem monitorando as áreas do Alto, Médio e Baixo Madeira, dando suporte para as famílias atingidas.

Fonte: G1 RO
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