RO, Segunda-feira, 05 de maio de 2025, às 6:13




GOLPE AOS APOSENTADOS: Nomeação de Volney Queiroz não arrefece situação de desconfiança em relação à gestão do INSS

Wolney Queiroz assume Ministério após saída de Lupi, mas documentos revelam que novo ministro, assim como seu antecessor demitido, ignorou alertas sobre fraudes bilionárias

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou ontem Wolney Queiroz (PDT-PE) como novo ministro da Previdência Social, menos de 24 horas após a saída de Carlos Lupi. A troca ministerial ocorre em meio ao escândalo revelado pela Operação Sem Desconto, que investiga um esquema de descontos não autorizados em benefícios do INSS, com prejuízos estimados em R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.

Documentos obtidos por alguns veículos de comunicação revelam que Queiroz, então secretário-executivo, estava presente na 296ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), em junho de 2023, quando a conselheira Tonia Galleti alertou sobre o “crescimento explosivo” de reclamações envolvendo descontos automáticos de mensalidades em benefícios previdenciários.

Na ocasião, o pedido para discutir o tema foi negado sob a justificativa de que a pauta já estava fechada. Por orientação de Lupi, o debate foi transferido para a reunião seguinte, que nunca tratou do assunto.

“Os mesmos atores que ignoraram nosso pedido há quase dois anos continuam no comando; o risco é de que nada mude”, afirma Tonia Galleti, representante do Sindnapi.

Dimensão do escândalo
O relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) indica que mais de 97% dos aposentados entrevistados não autorizaram os descontos direcionados a sindicatos e associações que firmaram Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com o INSS.

A Polícia Federal já cumpriu seis mandados de prisão e sequestrou bens avaliados em R$ 1 bilhão na última semana. Os recursos eram desviados através de convênios que permitiam o desconto automático de mensalidades associativas nas folhas de pagamento de aposentados e pensionistas.

Reação política
A oposição vê na escolha de Queiroz uma “manutenção do status quo” e articula a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar o esquema. Líderes do PL e do Novo afirmam já possuir mais de 185 assinaturas, número superior ao mínimo necessário.

“Vamos obstruir todas as votações enquanto a CPMI não for instalada. Não podemos permitir que os mesmos gestores que ignoraram os alertas continuem no comando como se nada tivesse acontecido”, declarou um parlamentar da oposição que pediu anonimato.

Defesa do governo
Aliados de Lula defendem que a nomeação de Queiroz garante “continuidade administrativa” em um momento crítico que exige respostas rápidas. Entre as medidas esperadas estão um plano de ressarcimento às vítimas e a revisão dos convênios que permitem descontos em folha.

Fontes do Palácio do Planalto indicam que o governo estuda implementar autenticação biométrica obrigatória para novas filiações e limitar em 1% o teto de desconto associativo, mas enfrenta resistência de parte do PDT e de centrais sindicais.

Próximos passos
A primeira reunião de Queiroz como ministro está marcada para 8 de maio. Conselheiros prometem reapresentar as mesmas tabelas de crescimento dos descontos que ficaram fora da pauta em 2023.

Para sobreviver politicamente, o novo ministro terá de provar em poucos meses que o ministério será capaz de recuperar valores, punir responsáveis e restaurar a confiança dos 38 milhões de beneficiários do INSS. Caso contrário, a crise que derrubou Lupi pode apenas ter trocado de endereço, colocando em risco a credibilidade da gestão previdenciária do governo Lula.

spot_img

Dê um duplo clique no vídeo para ativar/desativar o áudio.



+ Notícias



+ NOTÍCIAS