RO, Domingo, 27 de abril de 2025, às 17:33






O poder nunca está completamente consolidado. Uma análise Foucaultiana – Por Jefferson Ryan*

A rejeição ao governo estadual e municipal foi capitalizada por Léo Moraes, que se posicionou como uma alternativa legítima, contestando as "verdades" construídas pelo discurso oficial

Jefferson Ryan*

PORTO VELHO – Michel Foucault, em Microfísica do Poder, argumenta que o poder não é uma estrutura monolítica emanada de instituições centrais, mas um fluxo dinâmico que atravessa relações sociais, discursos e estratégias de resistência. A vitória de Léo Moraes sobre Mariana Carvalho em Rondônia é um exemplo prático dessa teoria, revelando como o poder pode ser contestado e reconfigurado mesmo diante de estruturas aparentemente dominantes.

Mariana Carvalho, apoiada pelo prefeito Hildon Chaves e pelo governador Marcos Rocha, parecia ter a vantagem institucional, controlando duas esferas do poder público. No entanto, ao invés de fortalecer sua candidatura, essa aliança a tornou alvo da insatisfação popular com as gestões vigentes. Esse fenômeno reforça a tese foucaultiana de que o poder, ao se manifestar, gera simultaneamente resistências que podem reorganizar as forças políticas. A rejeição ao governo estadual e municipal foi capitalizada por Léo Moraes, que se posicionou como uma alternativa legítima, contestando as “verdades” construídas pelo discurso oficial.

Léo Moraes como Davi contra Golias

A vitória de Léo Moraes pode ser comparada à história bíblica de Davi contra Golias. Assim como Davi, que enfrentou o gigante Golias com inteligência e estratégia, Léo superou o aparato estatal e as máquinas públicas por meio de um jogo político preciso. Em Microfísica do Poder, Foucault nos mostra que não basta ter força institucional; é necessário compreender os fluxos de poder, os discursos e as microrrelações que constroem a legitimidade política.

Davi venceu Golias porque conhecia o terreno da batalha e soube usar sua agilidade contra a força bruta. De maneira análoga, Léo Moraes demonstrou habilidade ao captar os sentimentos do eleitorado, canalizando a rejeição ao governo para consolidar sua própria narrativa política. Sua vitória não foi apenas contra uma adversária, mas contra um sistema que tentava se perpetuar.

A Influência de Sandra Moraes

Outro fator essencial para compreender a trajetória de Léo é a influência de sua mãe, Sandra Moraes. Na perspectiva foucaultiana, o poder é aprendido e exercido em diferentes esferas, inclusive na família e na formação pessoal. Sandra, assim como Paulo Moraes, pai de Léo, uma figura política experiente, teve um papel fundamental na construção da astúcia e da resiliência política.

 

Se sua campanha foi capaz de transformar rejeição em força eleitoral, isso se deve, em grande parte, a sua capacidade de leitura do cenário político, algo que foi moldado ao longo dos anos por sua convivência com Sandra Moraes. Em um ambiente onde o poder é constantemente disputado, a experiência e a formação política tornam-se armas tão importantes quanto o apoio institucional.

A vitória de Léo Moraes não foi apenas um resultado eleitoral, mas uma demonstração prática da fluidez do poder descrita por Foucault. Mesmo diante de uma candidatura respaldada por duas máquinas públicas, ele conseguiu construir uma narrativa alternativa, articulando-se com as forças de resistência e captando o sentimento popular. Como Davi contra Golias, venceu não pela força bruta, mas pela inteligência estratégica.

Além disso, sua trajetória foi moldada pela experiência política herdada de sua mãe, Sandra Moraes, que o preparou para os embates políticos e para compreender as dinâmicas do poder em sua essência. Dessa forma, Léo não apenas venceu uma eleição, mas reafirmou a ideia de que o poder nunca está completamente consolidado — ele é sempre disputado, resistido e reinventado.

*É jornalista e professor


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