WASHINGTON, DC (EUA) – Prefeitura de Manaus e Governo do Estado do Amazonas recebem esta semana sugestão para construção urgente de um muro de contenção para diminuir o impacto da falta de saneamento básico no Bairro Educandos. A ideia foi concebida e encaminhada na forma de “Carta Aberta” para conhecimento das autoridades competentes da Capital do Amazonas, num exercício de cidadania do amazônida, rondoniense, Samuel Sales Saraiva, residente na cidade de Washington D.C., EUA.
O igarapé Educandos é um afluente do Rio Negro que junto com o Rio Solimões forma o Rio Amazonas em território brasileiro. A bacia do Negro é uma das maiores de toda a região amazônica, drenando uma área tão grande quanto a França. De acordo com a iniciativa Águas Amazônicas, o Rio Negro “é o único grande rio de águas negras da Bacia Amazônica, respondendo por aproximadamente 13 a 14% do total da descarga anual do Rio Amazonas”
Na íntegra, a Carta de Samuel:
“Proposição: Sugere à Prefeitura Municipal e ao Governo do Estado do Amazonas, iniciativas com vistas à promoção de um debate público visando ao aproveitamento do período de prolongada seca na área da sub-bacia do igarapé Educandos, em Manaus, para construção de um muro de contenção das águas do Rio Negro, bem como, o subsequente aterramento de toda aquela área, tendo em vista o alcance de múltiplos benefícios para a cidade.

Entre os benefícios que poderiam advir com a implementação da medida sugerida, poder-se-ia antever a eliminação das águas escuras e paradas propícias à proliferação de mosquitos e abastecimento do imenso lixão extremamente tóxico e ameaçador para a saúde pública.
A construção de um canal para o igarapé, caso ele ainda esteja vivo, poderia ser considerada para minimizar eventuais impactos ambientais, conforme indicação resultante de avaliações procedidas por órgãos técnicos ambientais.
A criação permanente de uma infraestrutura na forma do aterro previsto, em toda extensão, criaria um espaço útil considerável nessa área nobre da cidade; uma vez urbanizada, eliminaria os efeitos negativos socioambientais causados pela precariedade habitacional dos assentamentos nela existentes.
Entre outros desdobramentos positivos visíveis na proposição estaria o oferecimento à cidade da ampliação satisfatória de saneamento básico, urbanização, educação e saúde, com a construção de escolas, conjuntos, habitacionais populares, quadras esportivas, entre outras vantagens para o atendimento das populações que habitam a área.

O amplo alcance do projeto sugerido promoveria a convergência de apoio de setores representativos da Sociedade, incentivando e facilitando o atendimento de demandas legítimas e urgentes da cidadania, apontando para a revitalização do município através da adoção das políticas públicas complementares necessárias.
Os recursos necessários para sua implantação serão aqueles já disponíveis em programas federais, estaduais e municipais, quem sabe, com o carro-chefe do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O fortalecimento da economia local que decorreria das obras, além da solução permanente a um problema secular, permitiria a geração de novos empregos de natureza temporária e permanente.
A cooperação técnica entre a Secretaria de Planejamento do Estado do Amazonas (Seplan-AM), o IPEA e o Programa de Apoio à Retomada do Desenvolvimento Econômico e Social (Proredes) seriam imprescindíveis para o êxito da proposição.
A ideia foi concebida e encaminhada na forma de “Carta Aberta” para conhecimentos das autoridades competentes, num exercício de cidadania deste amazônida brasileiro.”
Samuel Sales Saraiva
Para Saraiva, evidencia-se tristemente o contraste entre as realidades sócioeconômica de Manaus. “Do lado rico da cidade, a Ponta Negra e seus condomínios luxuosos, e de outro, o bolsão de lixo existente no bairro do Educandos, onde o mau-cheiro da falta de saneamento básico castigam aconcidadãos, que além do sol causticante são obrigados a suportar a lama e as condições desumanas que há séculos tem cobrado vontade política e sensibilidade social daqueles que possuem a responsabilidade de sanear o problema de forma estrutural e definitiva.”
MEMÓRIA
∎ Nas primeiras décadas do século 20 , o Educandos era também um rio saudável, cercado por árvores como araçá (Eugenia stipitate) e tucumã (Astrocaryum aculeatum), como a pesquisadora Helen de Sousa Oliveira menciona em sua tese de mestrado de 2007 na Universidade Federal do Amazonas. Entre os anos 1960 e 19770, balneários espalhados por Manaus eram pontos de lazer para várias classes sociais.
∎ No entanto, o estabelecimento da Zona Franca de Manaus no final dos anos 1960 acelerou o desenvolvimento urbano descontrolado e atraiu uma população que hoje totaliza 2,2 milhões de habitantes, a maior de toda a Amazônia.
∎ Em 17 dezembro de 2018, aproximadamente seiscentas casas foram atingidas no incêndio no bairro Educandos, informou a Defesa Civil. O fogo começou por volta de 20h em uma área com dezenas de casas de madeira, entre as ruas Inácio Guimarães e Nova, propagando-se para residências de alvenaria. A quantidade de veículos estacionados nas vias, o vento constante e a interrupção na distribuição de energia elétrica agravaram a situação. Houve diversos feridos.
MONTEZUMA CRUZ
Educandos, o pior cartão de visitas de Manaus?

