GUAJARÁ-MIRIM – Em mais cinco anos a cidade que já teve tantos nomes, e cujo nome tem várias versões, todas a partir de  língua indígena, vai festejar seu primeiro século de existência como município, mas realmente instalado poucos meses depois, o que aconteceu a 10 de abril de 1929.

Seu nome? Guajará-Mirim, que alguns autores, como Vítor Hugo (Desbravadores), chegaram a citar que até o Século XIX “era apenas uma indicação geográfica para designar o ponto brasileiro à povoação boliviana de Guayaramerin” que alguns chamavam de “Quadro”, oficializado como “Espiridião Marques”, depois Guajará-Mirim. “Quadro” era chamado o local onde foi construído um grande depósito usado para guardar o material de construção da Madeira-Mamoré, conta Tereza Chamma, em seu livro “Guajará-Mirim – a Pérola do Mamoré”

As versões 

O nome da cidade tem como mais conhecida versão “cachoeira pequena”, mas são encontradas outras versões, como a publicada pela editora Le Books: Ua-iara-miri – ua-y\arfa – árvore da Amazônia + mirim = pequena, ou, ainda, Guajará-Mirim significa “sereia pequena”. Em seu livro “Rondônia cabocla”, a historiadora Yêda Borzacov escreve que o nome “Guajará” tem duas interpretações: “Gua” – Campo e “Yara” – Duende.

Então o topônimo significaria, no caso de Guajará-Mirim, ainda conforme Yêda Borzacov, “Campo das Yaras, ou das Sereias. O escritor Paulo Cordeiro Saldanha foi buscar a versão do dicionário do “Mestre Aurélio: Guajará como “[Do tupi.] substantivo masculino.1.Bras. Bot. Planta da família das sapotáceas (Chrysophyllum excelsum); uajará. Ou Bras. Substantivo de dois gêneros. 1.Etnôn. Indivíduo dos guajarás, povo indígena extinto que habitava a ilha de Marajó (PA). Adjetivo de dois gêneros. 2. Pertencente ou relativo a esse povo. [Tb. us. como s. 2 g. e 2 n. (com cap.) e adj. 2 g. e 2 n.]”.

Paulo Saldanha,  no entanto admite” “Noutra vertente, há pesquisadores como Abnael Machado de Lima, Yeda Borzacov e Juan Carlos Avaroma, este do Oriente boliviano, que interpretam a expressão Guajará como sendo Campo das Sereias, decompondo-a como Guaya=Campo, Iara=duende anfíbio, sereia”.

Mas, em entrevista ao jornalista Sílvio Santos (Zé Catraca), em 2013, o historiador Francisco Matias destaca que Guajará-Mirim, à época da construção da ferrovia era conhecida pelos trabalhadores como “Guajará Formiga”, porque tinha muita formiga no local do acampamento”.

O início 

A historiadora Tereza Chamma, em seu livro “Guajará-Mirim – a Pérola do Mamoré”, cita, com base em informações do historiador Abnael Machado de Lima, que na localidade, em 1798, foi estabelecida uma guarnição militar a mando do Marquês de Pombal. A área da cidade era ocupada, ainda conforme Tereza Chama, pelos seringais “Renascença”, “Rodrigues Alves” e “Santa Cruz”.

Àquela época o local já se apresentava como um pequeno núcleo urbano, contrapondo à vila boliviana de Guayaramerin, com um reduzido comércio entre as duas pequenas comunidades, mas a partir da construção da ferrovia Madeira-Mamoré, conforme o Acordo de Petrópolis, pelo qual o Brasil construiria uma ferrovia para escoamento de produção gomífera e de outros produtos regionais, de maior interesse boliviano, esse país admitiu que a região do Acre fosse agregada ao Brasil.

    Sonolência econômica derruba renda

      e qualidade de vida da população

Sua história está ligada à construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Conforme o livro Os Desbravadores, de Victor Hugo, até o início do século XIX, Guajará-Mirim era apenas uma indicação geográfica para designar o ponto brasileiro à povoação boliviana de Guayaramerin, que àquela época, era conhecida como Esperidião Marques.

Guajará-Mirim é o segundo município de Rondônia em extensão territorial e, com 46,9 mil habitantes, e o oitavo em população. O PIB da cidade é de cerca de R$ 984,6 milhões de reais, sendo que 52,4% do valor adicionado advém dos serviços, na sequência aparecem as participações da administração pública (35,6%), da agropecuária (35,6%) e da indústria (4,9%).

Com esta estrutura, o PIB per capita de Guajará-Mirim é de R$ 21,1 mil, valor inferior à média do estado (R$ 28,7 mil), da grande região de Porto Velho (R$ 29,7 mil) e da pequena região de Porto Velho (R$ 33,3 mil).

 

Em maio de 2008, na cidade do Rio de Janeiro, Guajará-Mirim recebeu o título de “Cidade Verde”, outorgado pelo Instituto Ambiental Biosfera, em razão de seu mosaico de áreas protegidas, que fazem do município um dos maiores em termos de áreas preservadas. Outras 29 cidades brasileiras também receberam o prestigiado prêmio. A cidade também tem o primeiro jornal editado em língua indígena txapacura.

Guajará-Mirim tem significativa relevância na região, pois se destaca pelo elevado potencial de consumo e por apresentar novas oportunidades de negócios e geração de empregos. Considerado um centro de alta influência nos municípios vizinhos, Guajará-Mirim atrai  a maior parte dos visitantes naquela região de fronteira

A partir de então, com o apito do trem invadindo a selva, Guajará-Mirim passou a ser o maior centro econômico regional

Em 1922 o povoado de Espiridião Marques passa a compor, como “distrito de paz” o município de Santo Antônio do Rio Madeira e.  só em 1928, ainda pertencendo ao Estado de Mato Grosso, é promovido a município, oficializando o nome que já era chamado há algum tempo, Guajará-Mirim, sendo que nesta segunda-feira, 10, é instalado tendo como superintendente (prefeito) o comerciante Manoel Boucinhas de Menezes.

Inaugurada a ferrovia Madeira-Mamoré, a localidade de Espiridião Marques, em 1928 Guajará-Mirim, conheceu seus dias de maior desenvolvimento econômico, e continuou, mesmo após a queda dos preços da borracha em 1914, sendo o grande centro comercial da região, ganhando fôlego durante a fase em que a borracha amazônica teve uma sobrevida na 2ª Guerra Mundial.

As agentes 

A poucos anos de chegar ao primeiro século de vida, Guajará-Mirim, que já foi “Quadro” e “Espiridião Marques” mantem-se como a comunidade de maior tradição histórica do Estado, talvez em razão de encontrar em região distante, onde a cultura é passada muitas vezes pela tradição oral.

Segundo o historiador Alex Palitot, “nas primeiras décadas de vida possuía Guajará-Mirim um comércio regular de bens e serviços para atender à população além de diversos órgãos públicos. Delegacia de polícia com efetivo de 10 praças e um sargento da força estadual (MT), coletoria, posto fiscal, telégrafo e correio, escolas, cinema, dezenas de casas comerciais e uma população em tomo de 1500 pessoas”.

Uma população formada em sua grande maioria por brasileiros que chegaram em busca da borracha, “composta por pessoas das mais diversas nacionalidades: gregos, árabes, libaneses, judeus, turcos, japoneses, espanhóis, barbadianos, indianos,  portugueses, ingleses, americanos, franceses”, continua Palitot, citando “como em Porto Velho”.

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Lúcio Albuquerque, especial para www.expressaorondonia.com.br

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