MONTEZUMA CRUZ

  Rondônia não é uma Manchester, muito menos ponto fora do mapa industrial do norte brasileiro. Aqui trabalham algumas indústrias que honram a sua população pelo que produzem:  aço, bateria elétrica, bicicletas, cimento, móveis, tratores, etc.  Paralelamente, beneficia manganês (tão bom quanto o australiano), segue em 1º lugar na “safra” nacional do minério de estanho (cassiterita); também beneficia arroz, milho, feijão, fabrica excelentes temperos; fornece energia elétrica para a região sudeste brasileira; e um ano atrás arriscou iniciar a recuperação de resíduos minerais. 

O leitor (e eleitor) comum não sabe, até porque está sempre bombardeado pela overdose de repetecos noticiosos referentes à soja e boi, um binômio considerável, porém, não é tudo. Cento e cinquenta países comem carne bovina de nossos pastos verdes, enquanto milhares de cabeças de gado europeu se alimentam graças à “nossa” soja. Infelizmente, a alardeada transparência e os observadores econômicos ainda não expõem detalhes da outra realidade.

Durante quatro anos do primeiro governo do coronel Marcos Rocha, antes e depois da pandemia da covid-19, os seus olhos afastaram-se do dia a dia da Federação das Indústrias de Rondônia (Fiero) sediada no bairro Arigolândia a menos de um quilômetro do Palácio Rio Madeira, em Porto Velho.

São águas passadas, pois ao que parece agora o secretário de desenvolvimento econômico e vice-governador Sérgio Gonçalves se redime e cobra a si mesmo a fatura dessa perda.

Nota da assessoria de comunicação da Fiero comemora a reunião do vice-governador Gonçalves com o presidente dessa entidade, Marcelo Thomé, no final da semana passada. Fala-se em “aproximação da pasta do desenvolvimento econômico com o setor produtivo e a construção de uma agenda verde.”

Membros do Conselho de Representantes da Fiero avalizaram o encontro dos dois representantes públicos. Educado e elegante, apesar dos percalços enfrentados durante os quatro anos do primeiro mandato do governador Rocha, o presidente da Fiero Marcelo Thomé Thomé elogiou a importância da reunião: “Tivemos a oportunidade de dialogar a respeito de futuros projetos e parcerias para os próximos quatro anos.”

Lê-se claramente que anteriormente também existiam “futuros projetos”, mas a distância entre o governo e a entidade representativa empresarial e industrial lhe parecia estranha, sabe-se lá por qual razão.

E o secretário e vice-governador também enalteceu o estreitamento de laços. “Venho da iniciativa privada, sei de algumas carências pelas quais passa o setor produtivo”, afirmou.

Rondônia não tinha indústria de cimento até a construção das usinas hidrelétricas Jirau e Santo Antônio

Redimiu-se de um período ruim, convém frisar. Gonçalves confessou que a campanha eleitoral lhe possibilitou “de ter maior conhecimento em trabalhar políticas públicas.” “Aprovamos projetos para melhorias, mas queremos avançar, principalmente no fortalecimento das nossas indústrias e empresas, e atrair novos negócios, assim vamos gerar empregos e renda em Rondônia.”

Claro está que já houve antes chance de diálogo – digno de um governo e da maior entidade do setor industrial –, mas ele bateu asas em conturbado período sanitário rondoniense e mundial.

Dê-se os devidos descontos. A população, o governo e a Fiero podem daqui para a frente não apenas conversarem e montarem seus estandes propagandísticos durante tradicionais feira de negócios. Podem ir além.

Nessa legítima tomada de posição, ou “marcação de terreno”, o vice-governador e secretário admitiu que o Mapa de Trabalho desenvolvido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em cada estado pede a qualificação profissional. E assim ponderou que existem vagas para postos de trabalho, embora falte mão de obra qualificada.

Mas, se existe a falta de mão de obra qualificada, por que razão se admite fechamento de escolas industriais na Capital e no Interior e se permite picuinhas de fundo de quintal entre prefeitos que ousam tomar à força terrenos antes destinados ao Sesi e ao Senai?

Trata-se de um tema do qual o governo não pode fugir. No mínimo, deveria aconselhar administradores municipais gananciosos a abrir os olhos para o presente e para o futuro, computando o expressivo número de formandos nessas unidades: em Pimenta Bueno e na Escola Marechal Rondon, na Capital, por exemplo.

Com nota alta no SAEP, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial só é abalado por mesquinharia política

Lembrança de um tempo recente: em outubro de 2021, o Senai obteve resultado extraordinário na média nacional no Sistema de Avaliação da Educação Profissional (Saep), com média de 8,6, superior à nacional, de 7,8.

Naquela ocasião, o professor Diógenes Moraes, 45 anos, pernambucano de Palmares, e então gerente da Unidade Senai em Pimenta Bueno, mencionava os seus 16 anos de Sistema S e as notícias alvissareiras que pôde dar, especialmente apontando o aproveitamento e a valorização da mão de obra no mercado profissional de Rondônia.

“Eu sempre fui ligado ao Serviço Social da Indústria, mas em agosto de 2020 assumi também a Unidade do Senai, acumulando as duas”, informava. Em Pimenta Bueno o prédio do Sistema S foi inaugurado em 2018. “Não apenas aqui, mas em toda Rondônia, o Senai tem futuro”, frisava Moraes.

Com alegria, o professor Moraes falava a respeito de muitos ex-alunos já atuantes no mercado de trabalho, outros “carregando bagagem técnica” que logo os capacitaria para exercer cada profissão.

Portanto, o respeito municipal ao Sesi e ao Senai significa também respeitar Rondônia. E nesse aspecto, o governo estadual pode marchar de braços dados com a Fiero, a fim de impedir políticas marotas que possam causar obstáculo às políticas públicas e parcerias atualmente firmadas.

No mais, destaque-se da reunião da semana passada, o fato de Marcelo Thomé, que também preside o Instituto Amazônia+21, propor uma reunião entre essa entidade e técnicos da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, visando à busca de soluções com projetos de desenvolvimento sustentável.

Olhos bem abertos, boa vontade e coragem fazem bem a Rondônia.

Com fotos: Expressão Rondônia, Cimento.org e SAEP

Deixe uma resposta