MONTEZUMA CRUZ

Pomposa, a solenidade de entrega de 39 ônibus para o transporte escolar em 17 municípios estaduais é comemorada pela Secretaria Estadual de Educação. Mas o nó górdio persiste nas hordas palacianas: o município não soluciona o drama da falta de aulas no Baixo Madeira, o governo também. Não por falta de vontade, mas por não ter se lembrado que o transporte fluvial é o único a garantir a presença do aluno na escola em distritos dessa região do município de Porto Velho (34 mil Km²).

Outro dia comentei aqui o desalento entre pais e mães de aproximadamente duzentos alunos da região, devido à paralisação das aulas pela covid-19. Foram dois anos perdidos no aprendizado de cada criança, mais um pela falta de solução do problema.

Além das famílias, a própria Seduc obviamente não desejava isso, porém, teve que suportar o peso da pandemia e segue escrava da burocracia oficial da compra de veículos. Escrava até mesmo da má gestão de uma empresa em débito com a Justiça Trabalhista.

Por qual razão, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) resolve equipar tão rapidamente escolas interioranas sem esse tipo de problema, e passa ao largo do Baixo Madeira?

Quem irá entregar às escolas de Calama, Demarcação, Nazaré, São Carlos e adjacências uma pequena frota de lanchas com motores de popa para levar os alunos e devolvê-los depois às suas plataformas (barrancos de rio), rumo ao lar?

Festa, discurso, lembrança de apoio, sorrisos…Desta vez vez não se viu o derramamento de lágrimas, mas elas já caíram dos olhos de mães e pais trabalhadores da região sofrida por esse vergonhoso capítulo da educação nacional.

A situação do Baixo Madeira é semelhante à do Juruá, no Acre, onde a canoa ainda é o carro e, vez o outra, algum parlamentar indica recursos para consertar motores avariados de lanchas voadeiras, ou mesmo a aquisição de um veículo novo.

Fiz esta foto em Cruzeiro do Sul (AC) na oficina de um cidadão fabricante de canoas com a madeira massaranduba. Ele me contou que naquela imensidão de um dos 18 mais longos rios do mundo e seus afluentes, canoa a remo e a motor servem também como “carro de família”.

Se o governo estadual adquiriu lanchas voadeiras, qual a razão da delonga? Se for preciso outra empresa, outra licitação para a sua manutenção, corre-se o risco de o primeiro semestre passar e a demora prejudicar ainda mais. Inacreditável, mas é preciso que um estado com tantos regulamentos e leis de transparência venha logo em socorro dos sofridos e mande a lenga-lenga barranco abaixo.

Convém lembrar que o Ministério Público Estadual [e até mesmo o Federal por se tratar de investimentos do Ministério da Educação fiscalizadas rigidamente pelo Tribunal de Contas da União] tem poderes para abrir inquérito quando acontecem: 1) falta de aulas por longo período; 2) reformas escolares; 3) depreciação de veículos; 4) furto de veículos; 5) negociações malfeitas entre e estado e empresas prestadoras de serviços.

A população não foi ainda esclarecida a respeito de uma empresa cujos barcos avaliados em R$ 2 milhões foram penhorados pela Justiça do Trabalho no ano passado.

Fevereiro de 2023. Até quando os discursos? Até quando a dor de quem não vê o filho recomeçar para não mais tarde considerado analfabeto funcional? É grave, é vergonhoso.

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